Chega a ser emocionante, quando vou para a aldeia, ver passar ao pé de casa os velhos lavradores, homens e mulheres já curvados, com um sorriso no rosto, tirando o chapéu para me cumprimentarem, de sacho ao ombro, passo tranquilo, muito tranquilo, arrastado, ora pela frescura das manhãs de Verão, bem cedo, ora pelo final da tarde, quando o cheiro a terra molhada sobe no ar e as aves voltam aos seus ninhos, quando as cores do anoitecer, cautelosamente caídas do céu, anunciam a hora do regresso a casa.
Voltam a passar por mim e a saudar-me com a mesma alegria, a mesma satisfação, mostrando-me sempre o fruto do seu trabalho que tanto gostam de repartir comigo.
Fazem parte dos meus dias, dos meus pensamentos.
E as histórias que me contam? Histórias da vida, nem sempre vida, histórias de solidão, abandono, dor, tristeza, humildade.
Perdem-se nas palavras sentidas que todos os anos me repetem, como se de mim à espera estivessem para desabafar, para se fazerem ouvir, mesmo quando a emoção em lágrimas vertidas desce os sulcos do seu rosto e me chegam ao coração.
No silêncio do campo também sinto a minha alma a querer falar.
Nazaré Oliveira