segunda-feira, 6 de abril de 2015

Os Professores





Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade.
A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria do mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.
Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe.
Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.
Houve um dia, numa aula de História do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes.
Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se tivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.
Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias.
Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto.
As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.


in Autobiografia Imaginária, de Valter Hugo Mãe, no JL Jornal de Letras, Artes e Ideias, Ano XXII, Nº 1095, 19.09.2012 

Nota: 
sublinhados meus.

domingo, 5 de abril de 2015

A Ressureição de Cristo na Pintura*

Rafaello Sanzio

Alexander Ivanov

Caravaggio

Autor desconhecido

Fra Angelico

Matthias Grunewuald

Paolo Veronese

Autor desconhecido - Igreja Matriz de Sidrolândia, Mato Grosso do Sul

Piero della Francesca
Pietro Perugino
El Greco

Luca Signorelli





*Alguns trabalhos selecionados por mim.


 Nota informativa:
"O que é a Páscoa" aqui e "A Ressurreição de Cristo" aqui.

O olhar de um cão

Meu querido Snoopy!






Nada se compara ao olhar de um cão, mesmo quando esse olhar se fecha, 

lentamente, para abrir no amor eterno.



 

Nazaré Oliveira

sábado, 4 de abril de 2015

"Querem comemorar os nossos mortos consagrados? Ajudem os vivos a percebê-los e não a colocá-los numa prateleira."



A consagração dos mortos pela hipocrisia dos vivos

O festival de hipocrisia que avassala Portugal sempre que morre um consagrado “consensual” revela as nossas enormes fragilidades no espaço público.
Não há tão bom revelador do que é a elite portuguesa do que a maneira como trata os mortos que entende serem “seus”. O festival de hipocrisia que avassala Portugal sempre que morre um consagrado “consensual” revela as nossas enormes fragilidades no espaço público, e uma mistura de reverência oca, de ignorância, de imenso provincianismo e de uma ritualização pobre e subdesenvolvida. E aqui os media e o poder político vivem em simbiose total.
Merecem Eusébio, Herberto Helder, Manoel de Oliveira, José Silva Lopes, as homenagens dos portugueses? Merecem sem dúvida, mesmo do “país” se o houvesse. Só que não merecem estas “homenagens” político-mediáticas que tornam cada uma destas figuras peças de cera de um museu morto, que se empacotam numa prateleira logo que termina a exploração da sua morte e venha o esquecimento.
Deixemos Eusébio que tem características especiais, uma das quais ser, nesta lista, o único conhecido pelo povo e o mais “sentido” pelo povo, em Portugal, mas principalmente em Moçambique. Aceitem esta simples dicotomia povo-elites que uso apenas por comodidade de expressão e para não pesar sobre a economia do texto.
Todos os outros são praticamente desconhecidos pela maioria dos portugueses, e se formosa  falar da sua obra, então são tão remotos ao comum do povo como Xenófanes de Cólofon. Só que o povo não se põe a falar destes homens como se os conhecesse de intimidade, tivesse estudado a sua obra e por isso pudesse fazer juízo de valor. Essa presunção não tem.
Herberto Helder é um completo desconhecido, pelo povo e pela maioria das nossas elites, que agora aparecem todas como íntimas de um poeta singular e difícil, que nunca leram e sobre o qual disseram não só as maiores banalidades, como enormidades. Manoel de Oliveira, que chegava ao povo mais por ter 106 anos do que pela sua obra, era “conhecido” por ser autor de filmes intragáveis, que ninguém via até o fim, ou sequer até ao principio, e gozado por filmar horas de filme em que nada acontecia ou por fazer fotografia e não cinema. Fazia parte de um certo anedotário que servia para mostrar desprezo pela cultura e pelos intelectuais, ou então, no extremo oposto, como um génio intocável, que em tudo o que mexia produzia arte intangível na sua grandeza absoluta. Estas duas atitudes são aliás mais próximas do que se imagina, porque criam um ecrã sobre a obra que dificulta um julgamento equilibrado e o exercício crítico.
A ignorância sobre Herberto Helder manifestou-se também por este mesmo desequilíbrio, reduzindo a história da poesia portuguesa do século XX a dois “génios”, Pessoa e Helder. Pelo caminho, já esquecidas, estão idênticas apreciações sobre, por exemplo, Eugénio de Andrade, Sophia e outros.
Por ironia destas coisas, o menos comemorado, em parte porque todas as televisões, rádios e jornais já tinham há muito preparado as peças necrológicas para Manoel de Oliveira, e de Helder não havia muitas imagens, foi José Silva Lopes, o único que as nossas elites políticas conheciam, tal como os espectadores habituais do cabo, porque já não tinha mérito para ocupar os preciosos minutos da televisão generalista. Silva Lopes também teve até agora a singularidade de não ter tido internacionalmente as necrologias habituais, mas um pequeno artigo de opinião no New York Times online, nem mais nem menos do que do Nobel da Economia Paul Krugman. Por isso, está tudo trocado, e uma coisa é a repercussão pública oficial, com direito a mensagem televisionada do Presidente no caso de Oliveira, e vários dias de luto nacional, outra é a realidade da relação entre estas personalidades e a consciência colectiva portuguesa, quer a do povo, quer a das elites.
Tudo isto se passa num dos momentos em que a nossa elite política no poder mais afastada está de qualquer preocupação intelectual e, com algumas raras excepções, com elevados níveis de ignorância sobre qualquer matéria desta natureza. Por isso é que se agarram ao discurso pomposo da comemoração necrológica, que lhes dá uma espécie de álibi cultural que, de outra maneira, não poderiam ter. Quanto mais ignorantes, mais comemorativos, podia ser um axioma dos nossos dias.
O problema não está apenas na parte do dinheiro que vai para a “cultura”, questão que nunca considerei ser uma questão de cultura mas de “política de espírito”, ou seja, a propaganda moderna que os Estados e os governos fazem usando a intangibilidade das artes e da literatura para se promoverem ou aos seus chefes. O melhor exemplo é a longa continuidade da política de Malraux, depois de Lang, e no nosso caso de Manuel Maria Carrilho. Entre os seus cultores nacionais estão políticos como Santana Lopes, que aliás mereceu elogios de muita gente que hoje quer certamente esquecer-se de que foi “santanista” na altura útil. Aliás, muita gente que se proclama liberal e de direita é francamente a favor da subsidiação dos “criadores” e das “bolsas de escritores” e outras perversidades.
Mas, pelo contrário, entendo que o melhor que se pode fazer é tratar da cultura como uma questão patrimonial, de educação, e mesmo de “indústria”, e aí há muita coisa a fazer que os nossos homens do poder não fazem, e não querem fazer. Temos muito património a esboroar-se, muito património a vender-se mais ou menos às claras no estrangeiro, muita educação para as artes, quando existe, no mesmo estado degradado do Conservatório, e mesmo uma “indústria cultural” muito para além da Joana Vasconcelos, que se “vende” bem.
Se se quer ajudar as pessoas a compreender o valor de Oliveira ou Herberto Helder, ou melhor ainda, a serem “tocados” pelas suas obras, naquilo em que a criação nos muda, troco dias de mensagens, votos de pesar, funerais nacionais (e agora até a obrigação de colocar os corpos no Panteão...) e luto oficial, por medidas minimalistas que ajudem a que se conheça a poesia portuguesa ou o cinema nacional.
Seja fazer com que nas livrarias e nas bibliotecas das escolas haja os clássicos portugueses em edições límpidas e seguras, baratas e agradáveis (experimentem procurar o Crisfal ou a Menina e Moça), que nas escolas os professores possam fazer clubes de recitação, haja concursos nacionais de recitação (com o “serviço público de televisão” ao lado); se forneça material de vídeo e se ensine a filmar, a montar um filme, a ir para além dos vídeos do YouTube, depois de se saber fazer vídeos para o YouTube; se forneçam os laboratórios das escolas para se poderem fazer experiências de física e química; se ensine a “ler” um quadro ou uma escultura, e, acima de tudo, que se ajude a curiosidade, mais do que as abstractas “metas” das disciplinas escolares.
Estas atiram alunos, que nunca leram um livro, para os Maias do Eça, cujo vocabulário, metáforas, histórias mitológicas ou bíblicas desconhecem de todo, ou a aprender nomenclaturas gramaticais que são decoradas e esquecidas no dia seguinte, ou a atirar estudantes para Descartes e Kant (imaginem!) sem qualquer cultura geral seja do que for.
Querem comemorar os nossos mortos consagrados? Ajudem os vivos a percebê-los e não a colocá-los numa prateleira, receando que o que haja de subversivo na sua criação saia de lá e chegue à rua. O poder precisa de múmias e não de arte ou cultura, e, nestes dias, a indústria de mumificação está em pleno.

04/04/2015 - 01:45
Por José Pacheco Pereira, Historiador, in PÚBLICO

Existirá uma relação entre o incrível aumento da propensão ao suicídio e o triunfo do neoliberalismo, que implica precariedade e competição obrigatória?

Edvard MunchAutorretrato entre o relógio e a cama

Existirá uma relação entre o incrível aumento da propensão ao suicídio e o triunfo do neoliberalismo, que implica precariedade e competição obrigatória?

Dizem que o jovem piloto Andreas Lubitz sofria de crise depressiva e mantinha escondidas da Lufthansa as suas condições psíquicas. Os médicos tinham aconselhado um período de licença do trabalho. Mas isso não é de fato surpreendente: o turbocapitalismo contemporâneo detesta aqueles que pedem para usufruir licenças médicas, e detesta à enésima potência qualquer referência à depressão. Deprimido, eu? Não se fala nunca disso. Eu estou bem, perfeitamente bem, eficiente, alegre, dinâmico, enérgico e acima de tudo competitivo. Faço jogging toda manhã, estou sempre disponível e preparado para coisas extraordinárias. Não seria talvez esta a filosofia do “baixo custo”? Não seríamos talvez rodeados ininterruptamente pelo discurso da eficiência competitiva? Não estaríamos talvez constrangidos no cotidiano a comparar o nosso estado de ânimo com aquela alegria agressiva dos rostos bem sucedidos que aparecem nos anúncios publicitários? Não correríamos talvez o risco de demissão se faltarmos demais ao trabalho por estarmos doentes?
Agora os jornais (os mesmos jornais que há anos vêm nos chamando de pouco esforçados e elogiam a exclusão dos ineficientes) aconselham-nos a prestar mais atenção nos processos seletivos. Teremos controles extraordinários para verificar se os pilotos de avião não sejam desequilibrados, loucos, depressivos, maníacos, melancólicos tristes e abatidos. De verdade? E os médicos? E os coronéis do exército? E os motoristas de ônibus? E os condutores de trem? E os professores de matemática? E os agentes da polícia rodoviária?
Depuremos os deprimidos. Depurêmo-los. Pena que sejam a maioria absoluta da população contemporânea. Não estou falando dos deprimidos declarados, que aliás estão crescendo em proporção, mas daqueles que sofrem de infelicidade, tristeza, desespero, aqueles que raramente informam da situação e o fazem com certa prudência. A incidência de doenças psíquicas tem crescido enormemente nas últimas décadas. A taxa de suicídio, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde, subiu 60% (!) nos últimos quarenta anos.
Quarenta anos? O que isso poderá significar? O que aconteceu nos últimos quarenta anos para que tanta gente se apresse em vestir paletó de madeira? Existirá talvez uma relação entre esse incrível aumento da propensão a abreviar a vida e o triunfo do neoliberalismo, que implica precariedade e competição obrigatória? E existirá talvez uma relação com a solidão de uma geração inteira que cresceu diante da tela, sendo submetida a contínuos estímulos psico-informativos e tocando sempre menos o corpo do outro? Não se esqueçam que, para cada suicídio realizado, existem cerca de vinte tentados sem sucesso. E não se esqueçam que, em muitos países do mundo, os médicos são convidados a ter cautela na hora de atribuir a morte ao suicídio, se não existirem provas evidentes da intenção do falecido. E quantos acidentes de carro ocultam uma intenção suicida mais ou menos consciente?
Não apenas as autoridades de investigação e a companhia aérea revelaram que a causa do desastre aéreo foi o suicídio de um trabalhador que sofria de crise depressiva e que a mantinha escondida, eis que na internet se coloca em marcha o costumeiro exército de teóricos da conspiração. “Até parece que vou acreditar”, dizem aqueles que suspeitam de um complô. Deve ter a mão da CIA, ou talvez Putin, ou quem sabe foi simplesmente um gravíssimo erro da Lufthansa que agora querem esconder do público. Um chargista que se chama Sartori e acredita ser muito espirituoso mostra um cara lendo um jornal com a manchete “Tragédia Airbus: responsável o copiloto deprimido” e fala: “daqui a pouco vão dizer que o ISIS também é feito por deprimidos”.
Olha aí, parabéns. Acertou o ponto em cheio: o terrorismo contemporâneo pode ter mil causas políticas, mas a única causa verdadeira é a epidemia de sofrimento psíquico (e social, mas as duas coisas são uma só) que se está difundindo pelo mundo. 

É possível explicar o comportamento de um terrorista, de um jovem que se explode para matar uma dezena de outros seres humanos, apenas em termos políticos, ideológicos, religiosos? Certo que se pode, mas vai ser conversa fiada. 
A verdade é que quem se mata considera a vida um peso intolerável, e vê na morte a única salvação, na tragédia a única vingança. 

Uma epidemia de suicídio se abateu sobre o planeta Terra, porque por décadas se pôs pra rodar uma gigantesca fábrica de infelicidade de onde parece cada vez mais impossível escapar. Aqueles que em todo lugar veem um complô deveriam parar de buscar uma verdade escondida, deveriam em vez disso interpretar diversamente a verdade evidente. 
Andreas Lubitz se trancou naquela maldita cabine porque a dor que sentia dentro de si era de fato insuportável, e porque acusava daquela dor os 150 passageiros e colegas que voavam com ele, e todos os outros seres humanos que como ele são incapazes de libertar-se da infelicidade que devora a humanidade contemporânea, desde que a publicidade nos submeteu a um bombardeio de felicidade obrigatória, desde que a solidão digital multiplicou os estímulos e isolou cada um dos corpos, desde quando o capitalismo financeiro nos constrangeu a trabalhar o dobro para ganhar a metade.






 Por Franco Berardi | Tradução Bruno Cava   

in http://outraspalavras.net/capa/com-lubitz-na-cabine-a-depressao-neoliberal/