sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Refeições na Assembleia da República




Curiosidades...

Como se come na Assembleia da República


O Má Despesa já esteve a consultar o caderno de encargos do concurso para o fornecimento de refeições na Assembleia da República (AR) e encontrou várias pérolas, incluindo o facto de o documento ir alertando para a grafia pré e  pós-Acordo Ortográfico.

Um leitor já tinha chamado a atenção para o facto da ementa constituir “o critério mais importante na avaliação e subsequente selecção do fornecedor das refeições. Esta avaliação é feita tendo por base os tipos de produtos constituintes da refeição, sendo a ementa mais valorizada se dela fizerem parte os seguintes produtos: Perdiz, lebre, pombo torcaz, rola e similares, Lombo de novilho, Lombo de vitela, Lombo ou lombinho de porco preto (bolota) e Camarão/gamba grande (24 por Kg ou maior)”.

Que contrato é este?
“O contrato tem por objeto o fornecimento de refeições no refeitório e no restaurante do Palácio de S. Bento e a exploração de cafetarias da Assembleia da República, o fornecimento de café e chá nas reuniões de Comissões, ou outras que ocorram na Assembleia da República e, bem assim, o fornecimento de bebidas, produtos de pastelaria, salgados habituais, canapés e fruta nos coffee breaks, em quantidades e condições estabelecidas no presente Caderno de Encargos.”

A AR tem um restaurante para 10 almoços por dia!
A AR tem um restaurante e um refeitório. Tirando os dias de plenário, o restaurante da AR serve apenas 10 refeições por dia  A maioria das refeições são servidas no refeitório. “Durante o ano de
2011 no refeitório foram servidas, em média 280 refeições diárias, e no restaurante cerca de 40 nos dias de reunião plenária (quarta, quinta e sextas feiras) e 10 nos restantes dias.”

Cinco pratos à escolha no refeitório
Segundo o caderno de encargos, no refeitório terá de ser servida:
“-Sopa: normal e dieta (obrigatoriamente elaborada com base em nvegetais frescos e/ou congelados, sendo proibido o uso de bases pré-preparadas. São admissíveis sopas com elementos proteicos uma vez por semana – sopa de peixe, canja de galinha, etc.)
-Carne, peixe, dieta, opção, Bitoque;
-Pão, integral ou de mistura;
-Salada;
-Sobremesas incluindo, no mínimo, 4 variedades de fruta e 4 de doces/bolos/sorvete, além de maçã assada e salada de frutas.”

Mas há mais:
“- uma mesa com complementos frios (saladas), com no mínimo 8 variedades entre as quais se incluem, obrigatoriamente, tomate, alface e cenoura, além de molhos e temperos variados;
- uma mesa com um prato vegetariano e mais 4 componentes quentes vegetarianos (cereais, leguminosas e legumes).”

Curiosidades sobre ingredientes
Café: “O café para serviço nas Cafetarias deverá ser de 1ª qualidade, em grão para moagem local, observando lotes que incluam um mínimo de 50% de “arábica” na sua composição.”
Bacalhau: “O Bacalhau deverá ser obrigatoriamente da espécie Cod Gadusm morhua. Pode apresentar-se seco para demolha, fresco ou demolhado ultracongelado, observando-se como tamanho mínimo 1 Kg (“crescido”), para confecções prevendo “desfiados” (à Brás, com natas ou similares) ou 2 Kg (“graúdo”) para confecções “à posta”.
“Carnes de Aves:
“Peru (inteiro em carcaças limpas com peso superior a 5 Kg, coxas, bifes obtidos exclusivamente por corte dos músculos peitorais). Frango (inteiro em carcaças limpas com peso aproximado 1,2 Kg, coxas e antecoxas, bifes obtidos exclusivamente por corte dos músculos peitorais).
Pato”
A informação consta das fichas técnicas dos ingredientes pretendidos.

E qual o critério de adjudicação?
Determinante para vencer o concurso é mesmo a qualidade e variedade da ementa.
“1 - A adjudicação é feita segundo o critério da proposta economicamente mais vantajosa, pela
aplicação dos seguintes fatores:
a) Qualidade e variedade das ementas apresentadas. Nível qualitativo das matérias-primas indicadas nas respetivas fichas técnicas: 50%;
b) Preço da refeição: 30%;
c) Preço do encargo fixo com o pessoal das cafetarias e manutenção: 20%.”



in blogue Má Despesa

O Banco de Portugal continua a comprar carros entre 30.000 e 40.000 euros






Com preços a oscilar entre os 30.000 e os 40.000 euros, o Banco de Portugal comprou os seguintes automóveis desde Outubro de 2013:
Feitas as contas, e só nos últimos 12 meses, a entidade que tem como missão (falhada!) supervisionar o sistema bancário luso, comprou, pelo menos, 21 carros. E, infelizmente, não se pode dizer que foi um ano excecional de renovação de frota, pois basta recorrer ao portal BASE para constatar que todos os anos esta instituição vai às compras. 

Exemplo concreto de marcas e preços de viaturas compradas em 2013:
O combate à austeridade por parte do Banco de Portugal não fica por aqui. Relembre mais histórias reveladas pelo Má Despesa.


in blogue Má Despesa.



Vergonhosa gente!
Vergonhosa troika!
Inadmissível! Com o dinheiro de todos nós!
Ah, país de brandos costumes!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

As crianças foram as mais afetadas pelo aumento da pobreza ou exclusão social








  



Não me surpreende, infelizmente, mas segundo uma notícia da RR de hoje, as crianças foram as mais afetadas pelo aumento da pobreza ou exclusão social.

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados esta quinta-feira referem que em 2013 mais de ¼ dos portugueses vivia em privação material, isto é, muito muito pobre, e que, em relação às crianças, a intensidade da pobreza para este grupo aumentou 6,2 pontos percentuais em 2012 face ao ano anterior.

Se considerarmos que um agregado está em privação material quando não tem acesso a pelo menos três itens de uma lista de nove relacionados com necessidades económicas e bens duráveis, a saber, atrasos no pagamento de rendas, empréstimos ou despesas correntes da casa, não conseguir comer uma refeição de carne e peixe de dois em dois dias, não ter carro, televisão ou máquina de lavar roupa ou não conseguir fazer face ao pagamento de uma despesa inesperada, entre outros, é simplesmente aterrador pensar como estamos e como vamos continuar a estar.

Os resultados definitivos do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2013, sobre rendimentos de 2012, referem que a população infantil apresenta, desde 2010, riscos de pobreza ou exclusão social superiores aos da população em geral.

Os dados divulgados neste dia por ocasião da comemoração do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza (17 de Outubro), mostram que as crianças foram as mais afetadas pelo aumento da pobreza ou exclusão social (mais 3,8 pontos percentuais entre 2012 e 2013).
De acordo com este inquérito, 18,7% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2012, o valor mais elevado no período iniciado em 2009 (entre 2009 e 2011 o risco de pobreza afetava, em média, cerca de 17,9% da população residente).

Até quando esta realidade cada vez mais medonha e mais trágica para os pobres?

Até quando esta política de austeridade cruel e desumana, implacável para com os que sempre viveram à espera de melhores dias? 

Até quando este fosso cada vez mais cavado entre ricos e pobres?

Portugal está muito orgulhoso de ter conseguido uma 'saída limpa' do programa de resgate. É uma 'saída limpa' de um ponto de vista económico e financeiro mas é uma saída muito dolorosa para muita gente, disse Salil Shetty, da Amnistia Internacional, em entrevista à agência Lusa.

Triste sina, a nossa, com políticos e políticas fascizantes a minar o que de bom Abril nos deu, ao serviço das elites financeiras que bajulam, a troco de pequenos poderes e de uma fama que lhes arde nas veias, enquanto a nós, nos revolve as entranhas e nos fere e nos mata.

A dor escorre pelas gargantas secas de um povo que mal grita. E a esperança, resistirá?



Nazaré Oliveira

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Estamos pior do que há dois séculos atrás



Estamos agora pior do que há dois séculos
A OCDE acaba de publicar um relatório, em cooperação com a Universidade de Utrecht, sobre a evolução da vida nos últimos duzentos anos. O relatório tem por título “How was Life? Global Well-Being since 1820” (“Como era a Vida? O Bem Estar Global desde 1820”) e a investigação resulta do trabalho da vida inteira de Angus Maddison, um estatístico que se dedicou a compilar e estudar a informação disponível sobre o passado recente do nosso mundo. Outros investigadores, com particular destaque para Anthony B. Atkinson e Thomas Piketty, contribuíram notavelmente para a área de estudo que é mais notável neste relatório, a desigualdade. Em Portugal, essa abordagem é desenvolvida sobretudo por Carlos Farinha Rodrigues, professor do ISEG, e pelo Observatório das Desigualdades, do ISCTE.
O relatório surpreendeu a imprensa especializada (aqui e aqui), mas não parece ter merecido ainda atenção significativa em Portugal. A razão para o choque não é de somenos: os autores dizem-nos que, se o mundo melhorou espantosamente na saúde e na educação, entre outros indicadores, é também mais desigual hoje do que há duzentos anos. A civilização fez-nos regredir.
No caso de alguns países, como a China e a Alemanha, a desigualdade será hoje equivalente à de 1820: ficaram na mesma. Noutros, como o Brasil e o México, a vida é mais desigual agora. No entanto, considerando o mundo inteiro, a desigualdade, medida pelo índice de Gini (em que 0 seria a situação perfeitamente igualitária, e 1 seria a situação totalmente desigualitária), teria passado de 0,49 em 1820 para 0,66 em 2000. Estamos pior, muito pior.
 


Apesar disso, nem tudo correu mal. Em 1820 haveria algo menos de 20% de pessoas alfabetizadas e estavam concentradas na Europa; agora aproximamo-nos de 80% no mundo. A esperança de vida em 1830 era de 33 anos na Europa ocidental, agora é de cerca de 70 anos no mundo. A desigualdade perante a educação e algumas das condições essenciais da vida diminui, portanto.
Onde a desigualdade se agravou foi, em primeiro lugar, na diferença entre países. E não foi pouco. A globalização tem sido a força determinante dessa desigualdade. Quanto mais plano é o mundo, pior fica.
Mas a desigualdade agravou-se também, em segundo lugar, com a distorção social dentro de cada país. Como se verifica pela infografia ao lado, divulgada por Júlio Mota da Viagem dos Argonautas, a desigualdade variou ao longo dos tempos em sociedades diferentes: na Roma antiga, os 1% mais ricos teriam 16% do rendimento total; no tempo da independência dos Estados Unidos, os 1% teriam 7% do total; mas em 1929, na véspera da Grande Recessão, já teriam 22%, mais do que em roma, sociedade esclavagista.

 

O seu peso diminuiu nos anos 1960 mas recuperou agora: têm de novo 22%. (Os dados sobre Roma são de Walter Scheidel and Steven J. Friesen; sobre os EUA em 1774 1860 de Peter H. Lindert and Jeffrey G. Williamson; e sobre os EUA em 1929–2012, de Emmanuel Saez e Thomas Piketty).
Se considerarmos os 10% mais afortunados ao longo de todo o século XX, a história é comparável, como se verifica no gráfico (de Piketty): nos Estados Unidos, essa medida do poder económico dos de cima acentuou-se. Também subiu na Europa, mas não atingiu ainda os valores de 1900.
A explicação é óbvia: as crises reforçam o poder dos poderosos. Medindo os ganhos dos 1% mais ricos nos períodos de recuperação depois de uma crise, os resultados não são surpreendentes:

 
 Com Bush, 65% dos ganhos de rendimento depois da crise foram para esses 1% mais afortunados, com Obama foram 95%, como registado na infografia ao lado (dados de Saez e Piketty, Excel).
A civilização conduziu a este pesadelo: estamos agora pior do que há duzentos anos.
Antes, chamava-se progresso a este mundo novo que nos era prometido. Agora, deve chamar-se a grande regressão a este mundo velho que nos é imposto.
 
 
Francisco Louçã

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Qual é o nosso problema?



Desobediência civil não é o nosso problema. O nosso problema é a obediência civil.
O nosso problema é que pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm morrido por causa dessa obediência.
O nosso problema é que as pessoas são obedientes por todo o mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade.
O nosso problema é que as pessoas são obedientes enquanto as cadeias se enchem de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam o país.
É esse o nosso problema.

Gen. Ramalho Eanes