quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pelo menos Warren Buffet tem vergonha!

O que justifica que os ricos paguem menos impostos que os pobres? Absolutamente nada. O título do artigo é Stop coddling the super-rich (Deixem de mimar os super-ricos), foi publicado no New York Times de 14 de Agosto, o seu autor é Warren Buffett e a sua leitura é obrigatória.


Buffett é actualmente o terceiro homem mais rico do mundo, foi durante anos o mais rico e é considerado o mais astuto investidor de sempre. E o artigo é obrigatório não porque seja a primeira vez que Buffett diz o que escreveu agora, mas porque o que escreveu é importante.

O que Buffett diz é simples: os ricos dos Estados Unidos, apesar de terem visto os seus rendimentos subir de forma astronómica nos últimos anos, têm visto os seus impostos descer sistematicamente graças a uma classe política que os beneficia por sistema. Buffett considera que isso é injusto e que não existe racionalidade social ou económica que sustente esse estado de coisas. E muito menos num contexto de crise financeira como o que os EUA atravessam, onde se pedem sacrifícios à classe média e aos mais desfavorecidos.

O multimilionário dá o seu próprio exemplo e conta que, no ano passado, pagou apenas 17,4 por cento de impostos sobre os seus rendimentos, enquanto os seus empregados pagaram 33 a 41 por cento.

Em Portugal, a história seria a mesma.

Buffett termina propondo um aumento de impostos para os agregados familiares que ganham mais de um milhão de dólares e um aumento ainda mais substancial para os que atingem mais de dez milhões.

O artigo teve um impacto considerável - não só nos EUA -, com apoiantes e detractores a envolver-se em discussão. Os últimos explicaram mais uma vez que era fundamental que o sistema premiasse de forma particularmente generosa os investidores, pois estes corriam grandes riscos e, se os prémios não fossem excepcionalmente generosos, eles deixariam de investir. Curiosamente, este é precisamente um dos argumentos que Buffett desmonta no seu artigo: "Trabalho com investidores há 60 anos", escreve o financeiro, "e nunca vi ninguém recusar um investimento razoável por causa da taxa de imposto a aplicar sobre o eventual ganho".

Outros críticos explicaram tecnicamente que, mesmo que o imposto dos ricos aumentasse, isso não iria resolver os problemas financeiros dos EUA - esquecendo no meio da argumentação minudências como a equidade, a justiça e a moral.

Mas o mais curioso nas reacções ao artigo de Buffett não foi a polémica, mas a quantidade de milionários que apareceram a apoiar a sua posição e a declarar-se disponíveis para pagar mais impostos - o que é tanto mais significativo quanto se conhece a chantagem assassina que os republicanos levaram a cabo para defender as reduções fiscais para os ricos, à qual Obama (que afinal não é FDR, que desgraçadamente não é FDR) cedeu em toda a linha.

A questão é que Buffett acha que a actual injustiça social passa das marcas e que é excessivo e indefensável o privilégio que a sua competência financeira lhe confere.

Tenho a certeza de que muitos ricos portugueses partilham destas ideias e que na realidade lhes repugnam, em termos morais e económicos, os privilégios fiscais de que beneficiam e que sabem que sobrecarregam fiscalmente os portugueses mais pobres. É inevitável que esse sentimento de vergonha atinja os bancos com empresas nas ilhas Caimão e as empresas do PSI20 com sedes na Holanda e noutros paraísos fiscais, que ficámos a conhecer nas páginas do PÚBLICO no passado domingo. É natural que, devido às férias de Verão, estes empresários ainda não tenham aparecido a manifestar o seu apoio às ideias de Buffett, mas certamente que o farão nos próximos dias, exigindo do Governo de Passos Coelho a mesma inflexão fiscal que o terceiro homem mais rico do mundo defende no seu país.

José Vítor Malheiros - 23-08-2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Os católicos e a Política

Há sempre um ponto que me desgosta em muitos amigas e amigos católicos: é a distância em relação ao debate público e político, é o nojo fácil pela política. Isso é visível, por exemplo, no Facebook. Ali podemos ver milhentas pessoas a assumir com orgulho a identidade católica e, ao mesmo tempo, a desprezar a identidade política. Na secção "religious views", surge triunfante a palavra "católica". Na secção "political views", surge um pobre e fácil "não uso disso" ou um "são todos iguais", etc. Na revista Communio (Setembro 1988), o omnipresente Francisco Lucas Pires escreveu um artigo que é, para mim, a melhor resposta a esta pobreza apolítica de um certo catolicismo.

Nesta prosa, intitulada "Pureza de Coração e Vida Política", Lucas Pires afirma que existem duas maneiras de um cristão lidar com a esfera política. A primeira passa por aceitar que os princípios e regras da esfera política são de "outro tipo" e que, por isso, o cristão só deve ter preocupações com a salvação da sua consciência. Ou seja, o cristão deve criar uma redoma à sua volta, retirando-se assim dos debates da Cidade. Nesta via, o cristão julga-se tão puro, que não quer sujar as mãos na realidade. "Sim, sou muito católico, mas não quero nada com a política, são todos iguais".

Como já perceberam, Francisco Lucas Pires critica esta primeira via, e defende uma alternativa. Para o ex-líder do CDS e inspirador de boa parte do PSD atua l, um cristão tem o dever de lutar na Cidade, tem o dever de fazer opções públicas e políticas. Porque o leigo não é o padre a viver fora da Cidade. O leigo tem de viver no mundo, tem de produzir e/ou participar numa narrativa normativa para a Cidade, mesmo quando essa Cidade é dura e suja. Sim, a política namora com o pecado e com a mentira, mas - precisamente por causa disso - a política é o terreno propício para se apurar a "pureza de coração". Só podemos testar a nossa pureza num mundo imperfeito e duro. A redoma apolítica é uma via fácil e pouco cristão.

Portanto, numa lógica algo parecida à de T.S. Eliot, Lucas Pires diz que o cristão tem de tentar influenciar o espaço público, tem de levar os seus valores cristãos para a Cidade. O cristão não tem apenas de salvar a sua consciência: também tem de salvar a sua cultura. O cristão não é apenas um ser metafísico, também é um ser historicamente situado. No fundo, não deve existir uma separação entre a obediência moral (a Cristo, a Deus) e a vida política e colectiva aqui na Cidade dos homens. Pelo contrário: deve existir uma tensão criadora entre a ética cristã e a realidade política.

Henrique Raposo

sábado, 27 de agosto de 2011

Música portuguesa

Adoro poesia e música mas, quando há trabalhos que ligam magnificamente as duas coisas, com cantores e interpretações que marcaram e marcam os meus dias, é fascinante!
Estive em muitos destes concertos. Pura e simplesmente fabuloso assistir ao vivo a estes temas!
(Esta publicação é feita de forma aleatória, claro!)








 

Educação Sexual

Este trabalho ganhou um prémio da OMS - Organização Mundial de Saúde - no tema Educação Sexual. Muito bom!
A divulgar. Para crianças, jovens e adultos.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os simpatizantes de Hitler jamais adormeceram!

Noruegueses acendem vela para a ilha de Utoya (ao fundo) no amanhecer de 23 de julho, um dia após o ataque em Oslo

Focada em descobrir o que se passa na cabeça de imigrantes morenos, barbudos e que não se separam do Alcorão, a Europa deixou passar despercebida a ameaça que representam os loiros de olhos azuis nascidos sobre o seu solo. O massacre de 77 pessoas na Noruega, cometido por um norueguês "puro" - como os nacionalistas europeus gostam de chamar os filhos de pais arianos -, acordou o Velho Continente para o terrorismo de extrema-direita.

Não que as polícias nacionais ignorassem a atividade dos militantes neonazistas - pelo contrário, sabem que os xenófobos simpatizantes de Hitler jamais adormeceram. Mas no último relatório do Serviço Europeu de Polícia (Europol) sobre o terrorismo, a atividade de extremistas de direita ocupava apenas duas páginas. No entendimento dos especialistas europeus, no século XXI esta vertente política deseja se infiltrar na sociedade através de conquistas nas urnas, um passo atrás do outro, e não pela força, embora a polícia tenha interrompido a organização de grupos neonazistas na França, Hungria, República Tcheca e Alemanha entre 2008 e 2009.

Os atentados promovidos por Anders Behring Breivik bagunçaram esta lógica. E se o maior perigo não fossem as organizações, mas os radicais isolados, que mesmo sozinhos, são capazes de provocar 10, 20, 77 mortes de inocentes? Para estes, aliás, os partidos de extrema-direita são vistos como moderados demais na luta contra a imigração e a abertura cultural, como foi o caso do extremista norueguês. Depois de ser filiado por sete anos ao ultraconservador Partido do Progresso, ele optou por batalhar sozinho pelas suas ideias.

"Quem precisa de um grupo quando se tem internet? Com um computador, Breivik garimpou aqui e ali todos os elementos necessários para imaginar, planejar e executar os seus atentados. E ainda encontrou respaldo para fortalecer as suas ideologias, que na cabeça dele, legitimam a sua ação", explica Sylvain Crépon, autor de La Nouvelle Extrême Droite (A Nova Extrema Direita, em tradução livre) e pesquisador na Universidade Paris-Nanterre.

No seu manifesto de mais de 1,5 mil páginas, enviado a amigos e agora publicado na internet, Breivik agradece a seus "irmãos e irmãs que o apoiaram no Reino Unido, na França, Bélgica, Alemanha, Suíça, Itália, Espanha, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda, etc". A questão que a Europa se pergunta é se ele vai conseguir inspirar à ação outros tantos nacionalistas que, como ele, se sentiriam na obrigação de livrar a Europa da invasão estrangeira.

Na opinião de Crépon, existe um paralelo entre o terrorista norueguês e os radicais islâmicos que ele tanto despreza: a percepção de que está em curso uma guerra de civilizações e, portanto, é preciso evitar a invasão do inimigo - sejam os ocidentais que se intrometem nos países árabes, por um lado lado, ou sejam as famílias muçulmanas que decidem viver na Europa, por outro. "Para pessoas como Breivik, a social-democracia vigente na maior parte a Europa é a grande responsável de uma abertura para todos, algo que ele rejeita com todas as forças. Se os adeptos das ideias dele se engajarem nesta guerra, teremos um verdadeiro problema."

Resposta europeia é crucial para barrar ações extremistas

Neste sentido, as reações da Europa à tragédia na Noruega são determinantes para evitar novos atentados, alertam especialistas. Porém, por enquanto, poucas foram as vozes que ousaram cutucar de frente a avalanche que pode estar por trás das ações do norueguês. A maior parte dos líderes europeus condenou os ataques, mas não abordou o problema do extremismo de direita ou do aumento da tensão entre nacionalistas e muçulmanos.

O imobilismo suscitou reclamações da comissária europeia das Relações Interiores, Cecilia Malmström. "Muito poucos dirigentes se levantaram para defender a diversidade cultural na Europa", declarou. Exceção à regra foi o chefe de governo da Espanha, o socialista José Luis Zapatero: ao lado do premiê britânico, o conservador David Cameron - que não o acompanhou nas críticas -, o espanhol disse que o massacre foi "um dos acontecimentos mais preocupantes já vistos no solo europeu". "Foi algo extremamente grave que precisa de uma resposta, uma resposta europeia, uma resposta comum para defender a liberdade e a democracia", afirmou. "Isso pede que as pessoas se levantem, combatam o radicalismo e reajam face à xenofobia."

O cientista político Jean-Yves Camus, especialista em extrema-direita do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), em Paris, destaca que a tragédia trouxe à tona as consequências de uma política adotada por parte dos governantes europeus: a de responsabilizar indiretamente a imigração muçulmana pelas dificuldades enfrentadas no continente - sejam econômicas ou sociais.

"Muitos dirigentes brincam com fogo. Quanto mais anunciam medidas como a restrição de fronteiras e o aumento das expulsões de imigrantes ilegais, mais a extrema-direita se sente estimulada. Até o momento em que ela quer ir além", adverte. "Chega um ponto em que os extremistas de direita deixam as organizações políticas para agir além delas, ao perceberem que os governantes têm um limite nas ações anti-Islã que eles tanto desejam."

LÚCIA MÜZELL (em Paris)

Estação de S.Bento (Porto)

  

  





  



Segundo a revista norte-americana Travel+Leisure a Estação de comboios de S. Bento considerada uma das 14 mais belas do mundo.

A fachada e os azulejos da estação portuense deram-lhe o título de uma das mais belas (Foto: Adriano Miranda)

A estação de comboios de São Bento, no Porto, foi considerada uma das 14 mais belas do mundo pela revista norte-americana Travel+Leisure. Os painéis de azulejos azuis e brancos de Jorge Colaço, que enchem as paredes desta estação da Linha do Minho, colocaram o edifício na mesma lista de outras paragens ferroviárias como a neoclássica Gare du Nord, em Paris, ou Atocha, em Madrid.

Na lista das 14 estações de comboio mais belas, a de São Bento é destacada pela sua fachada em pedra e telhados de mansarda, bem como pelos “20 mil esplêndidos azulejos” criados por Jorge Colaço e produzidos pela Fábrica Cerâmica Lusitana, um trabalho que, segundo a Travel+Leisure, fará qualquer visitante “suspirar”.

O projecto chegou às mãos do artista em 1905 mas só dez anos depois era apresentado ao público, que nas paredes da estação pode ver alguns episódios da história de Portugal como a entrada de D. João I no Porto, para celebrar o casamento com D. Filipa de Lencastre, ou o torneio de Arcos de Valdevez.

Além de São Bento, a Travel+Leisure destaca ainda a beleza da estação de Maputo, em Moçambique, a única escolhida no continente africano, bem como os jardins interiores da estação de Atocha, em Madrid, ou ainda as estações de Kanazawa, no Japão, a Southern Cross Station, em Melbourne, na Austrália, de Sirkeci, em Istanbul, na Turquia, ou a neogótica S. Pancras Internacional, em Londres.

Os Estados Unidos lideram a lista com três estações – a Union Station, em Los Angeles; a Union Station, em Washington; e a Grand Central Terminal, em Nova Iorque.

Na Europa, destaque ainda para a estação central de Antuérpia, na Bélgica. A arquitectura e a decoração da estação Chhatrapati Shivaji, em Bombaim, na Índia, e da estação de Kuala Lumpur, na Malásia, também as colocaram na lista da revista.

E a Estação de Maputo, que eu também conheço! 



A identidade europeia e o terrorismo

O assassinato de Oslo é um alerta para os que desvalorizam o multiculturalismo ou desconfiam da sua eficácia. Os atentados de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, e depois em 11 de Março de 2005 em Madrid e 7 de Julho do mesmo ano, em Londres, praticados por extremistas islâmicos, espalharam por todo o mundo o medo e a insegurança, exigindo dos estados meios eficazes ao seu combate, mas sem pôr em causa as liberdades e garantias dos direitos individuais dos cidadãos.

No passado dia 22 de Julho, um cidadão norueguês, de 32 anos, Anders Breivik, depois de ter colocado uma bomba em Oslo junto do edifício governamental, matando oito pessoas, dirigiu-se à ilha de Utoya, onde decorria um encontro de cerca de 500 jovens do Partido Trabalhista no poder, disfarçado de polícia, matando a tiro mais 69 jovens, alguns deles quando nadavam no mar para tentar fugir da morte. E ao que consta uma outra bomba tinha já sido preparada para o mesmo efeito.

Estes factos demonstram que a Europa se encontra sujeita a duas ameaças terroristas de sinal contrário: o terrorismo fundamentalista islâmico (jihadista) e o de extrema-direita anti-islâmico (antijihadista).

No primeiro interrogatório policial, o jovem assassino confessou os factos, mas negou a culpa, alegando que a acção que levou a cabo era um mal necessário para impedir o avanço do multiculturalismo e da imigração muçulmana.

Antes de levar a cabo a sua acção, o jovem norueguês colocou na Net um longo manual teórico e explicativo, intitulado Declaração de Independência Europeia, onde augurava uma revolução europeia em 2083. Nos termos dessa declaração "o grande inimigo a que a Europa se encontra subjugada é o Islão", o que teria alienado da sua monogenealogia cultural, isto é, dos autênticos valores cristãos. Como adjuvantes e colaboradores deste inimigo, provisoriamente vitorioso, colocou uma longa lista de nomes, instituições e concepções teórico-ideológicas, tais como a União Europeia, as Nações Unidas e o multiculturalismo, enquanto dimensão de um "marxismo cultural".

Como se vê, a matança na Noruega significou a execução de um plano de um fanático que julgou estar a assumir a tarefa de salvar a Europa dos seus inimigos e reconduzi-la pelos caminhos de uma suposta "Europa independente", prometida para 2083. O mundo ficou estupefacto, interrogando-se como foi possível um acto destes ter sido praticado num país que é um dos mais elevados modelos europeus.

Os governantes noruegueses reagiram com firmeza ao acto tresloucado, prometendo uma luta sem tréguas contra todos os que possam pôr em causa a democracia e os valores do multiculturalismo. Para dar um sinal nesse sentido, o primeiro-ministro assistiu a uma cerimónia religiosa, celebrada numa mesquita, em memória das vítimas.

O acto terrorista do jovem norueguês, mesmo que possa ser isolado, merece profunda reflexão, uma vez que pretende representar uma visão histórica da Europa enquanto "civilização unitária e espaço geopolítico, desenhados por reacção a entidades ou ameaças exteriores".

Se recordarmos a evolução histórica da Europa através dos tempos encontramos em primeiro lugar a "Europa cristã contra o Islão. Depois, a Europa branca, imperial e civilizada oposta ao mundo colonial e "selvagem". No período da Guerra Fria, temos, no plano religioso, uma Europa católica e protestante; no plano económico, uma Europa capitalista; no plano político um Europa liberal e democrática, oposta a uma Eurásia ortodoxa, muçulmana e soviética. E foi nesta evolução que a Europa, além das suas especificidades e antagonismos nacionais, vem ganhando uma consciência de si, enquanto civilização definida pela sua vocação universal" (secção Ideias e Debates do suplemento Actual do semanário Expresso, edição 6.8.11).

O assassino de Oslo revelou-se como um fanático duma falsa identidade europeia homogénea, ignorando que a verdadeira identidade europeia é de natureza heterogénea e pelo encontro com outras alteridades.

Há cerca de dois anos, uma afirmação de Angela Merkel, no sentido de que o multiculturalismo na Alemanha tinha sido um enorme fracasso causou uma grande polémica. E em França, embora nenhum governante tenha feito idêntica confissão derrotista, as medidas tomadas nos últimos anos têm como pressuposto as dificuldades de organização e coexistência numa sociedade multicultural. O assassinato de Oslo é um alerta para os que desvalorizam o multiculturalismo ou desconfiam da sua eficácia. As posições extremas contra o multiculturalismo, como as reveladas pelo assassino de Oslo, pretendem recuperar uma pureza que nunca existiu e apenas como mito pode ser reactivada. É preciso que os políticos europeus se lembrem que o projecto europeu, segundo os seus fundadores, vai no sentido de se alcançar uma sociedade caracterizada pelo pluralismo, pela solidariedade, pela tolerância, pela não discriminação. Neste aspecto, Merkel e Sarkozy têm-se revelado de uma ignorância perturbadora. As capitais europeias da cultura deverão também elas cumprir esta missão de promoção do multiculturalismo e de diálogo intercultural, ajudando a derrotar o terrorismo, seja ele de que natureza for.

Narciso Machado - 24-08-2011 PÚBLICO
Juiz desembargador jubilado