quinta-feira, 14 de julho de 2011

Descobrimentos Portugueses - Encontro de povos

Em tempos, apresentei uma mostra bibliográfica no Liceu (foto) integrada num projecto mais amplo subordinado ao tema “O ENCONTRO DE POVOS", com a colaboração dos meus queridos colegas Professor António Vilhena (pesquisa) e Professora Lourdes Sendas (montagem).
Parti à descoberta de livros que se debruçassem, de alguma forma, sobre a diáspora dos portugueses a partir do século XV, obviamente, relacionada com o período da Expansão Marítima e Descobrimentos.
Procurei, seleccionei e analisei obras fantásticas e, em cada página e em cada autor, ora a descoberta ora a redescoberta. Fascinantes!
O mistério do encontro, os medos, alegrias, o exotismo dos costumes, línguas, o quotidiano das gentes nunca vistas, as suas crenças e o seu sentir, a sua arte, sabedoria, o encontro com a diferença e com o desconhecido.
Que maravilha aquelas descrições, as narrativas, os desenhos e mapas, os testemunhos, relatos e as reflexões que provocavam!
Apaixonadamente, revisitava a História, a Literatura, a Geografia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, a Astronomia, as Ciências da Natureza! E perdia-me no meio de cores e sabores, sons e emoções, horas e horas de puro prazer com as palavras escritas por quem delas se abeirou, também, para nos ensinar. Porque nada é melhor do que o conhecimento.
O conhecimento da Vida e do Homem no seio das Ciências Sociais e Humanas, na perspectiva de um diálogo multidisciplinar e humanista cada vez mais desejável, porque as desigualdades continuam e o racismo também.


Mapa de Cantino




 Missa no Brasil


Uma página da Carta de Pêro Vaz de Caminha





Alguns apontamentos dessa actividade, com a indicação da obra a que pertencem,  evidenciando particularidades desse “encontro”. Pretendo, acima de tudo, motivar para a sua leitura e consulta.
As ilustrações aqui apresentadas foram retiradas da 1ª obra referida.





Descrições riquíssimas de Frei Bartolomeu de Las Casas, tanto dos índios perante os descobridores a caminho das Canárias, como das condições climatéricas em que o fizeram e do ambiente natural que encontraram!
Curiosamente, aborda o tipo de relações que se estabelecem entre cristãos e indígenas, evidenciando-se, nestas, a violência, a morte: “(…) matando las gentes que no les habian offendido em nada (…)”- página 221/2.
Vale a pena ver todas as ilustrações, belíssimas, de Roque Gameiro e, ainda:
página 77 - estampa com o modelo da máquina do Mundo.
página 121 – mapa de Juan de La Cosa (1500), com as Antilhas e o litoral da América.
página 175 – carta de navegar de Cantino (1502).
numa da páginas iniciais (s/número) – assinatura /dedicatória do Ministro da Educação Nacional, Carneiro Pacheco, referindo-se ao Liceu de Setúbal.
História da Colonização do Brasil, volume I.

Fascinante, excepcional, a CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA, página 86 à 89. A forma como ele nos retrata o povo de Porto Seguro! Apaixonante!
Interessantíssimas as descrições e os pormenores sobre o encontro de guerreiros tupiniquins com os navegadores do Atlântico!
Sentimo-nos, verdadeiramente, nesse momento único! Um misto de espanto, medo e fascínio pelo desconhecido!
Veja-se, também:
página 99 -  fac-simile da última página da Carta de Pedro Vaz de Caminha, com a sua assinatura.
página 145 – gravura / uma missa no Brasil.
página 237 – mapa / a África Meridional.
História da Colonização do Brasil, vol. II.

Na página XXIV, o autor considera que “a colonização europeia da América é o conflito ininterrupto entre a civilização e a Natureza”. Considera, também, que o português foi “o mais morigerado e humanitário, embora tenha recorrido frequentemente à violência, como os espanhóis e os britânicos”.
Faz descrições violentíssimas e com um tal realismo que chega a referir-se (página XXV)  à “ferocidade animal daquelas lutas exterminadoras e ritos canibalescos (…)”. Aborda, ainda, a escravatura, o povoamento e as execuções (página XIX e seguintes).
Vale a pena observar as gravuras apresentadas: retratos, fortalezas, povos encontrados, lutas, navios, execuções e mapas de então.
História da Colonização do Brasil, vol. III.

A missão essencial dos povoadores, no tocante aos indígenas, era trazê-los à fé cristã. Referem-se casos em que houve “excelentes relaçõese “estreito convívio” nesse encontro de povos (página 180 e seguintes). “Além dos colonos que se alistavam nas expedições povoadoras (…), havia, também, uma parte importante da população europeia, caso dos degredados e criminosos homiziados”.
Aborda-se a condição das pessoas …índios…escravos…, conforme se mostra, por exemplo, nas páginas 177 e seguintes.
Veja-se, nas páginas 125 e 126, uma carta fac-similada dando grandes poderes ao capitão-mor e a quem ficasse em seu lugar.
História da Colonização do Brasil, volume III.

Leitura muito interessante! O autor, por exemplo, no capítulo XVII, fala de métodos portugueses de  integração de povos autóctones e de culturas diferentes da europeia num complexo novo de civilização: o luso-tropical; no capítulo XV, refere-se ao Infante D. Henrique como pioneiro de uma política social de integração de não-europeus no sistema luso-cristão de convivência.
(Nota: a Constituição de 1822 tinha no seu artº 20º:”a Nação Portuguesa é a união de todos os portugueses de ambos os hemisférios”).
Gilberto Freyre, O Luso e o Trópico.

Na obra Monumenta Henricina, respeitante aos anos de 1446 a 1448, encontramos, por exemplo, uma descrição interessantíssima (página 36 e seguintes) da luta dos navegadores portugueses contra os indígenas.
Monumenta Henricina

No “Manuscrito de Valentim Fernandes”, vale a pena observar as gravuras sobre mapas apresentados, por exemplo, a seguir à página 230, com as Ilhas de Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Fernando Pó, Santa Helena…
Apresenta “(…) documentos que provam a coragem sublime de uma nação que venceu os oceanos para poder realizar o sonho de um império colonial gigantesco (…)” focando, também, “(…) aqueles que em vez de cuidarem do interesse da grande mater e do rei, cegos pelo vil egoísmo e pela sede de ouro e das riquezas esplandecentes do oriente, se esqueceram do nome português (…) destruíram, por acções detestáveis, crueldades horríveis, o vasto império lusitano que havia sido fundado (…)”.
Manuscrito de Valentim Fernandes”

Na página 56 e seguintes, há referências à forma como os habitantes das aldeias pagavam tributos aos senhorios que lhes concediam as terras para seu sustento.
(Nota: o Tombo informa sobre antigos tributos que os portugueses mantinham com grande vantagem para a Fazenda Real).
Os Tombos de Ceilão (1927)

A viagem de VASCO DA GAMA À ÍNDIA, acção central de OS LUSÍADAS, visava dois objectivos: dilatar o império português, dominando do ponto de vista territorial e comercial, e  implantar a religião cristã no prosseguimento da já velha cruzada contra os seguidores do islamismo.
Era uma missão providencial, desde o mítico aparecimento de Cristo a D. Afonso Henriques antes da batalha de Ourique (canto III, 42-54).
Facilmente se compreende que todos os que representavam impedimento à concretização do plano de D. Manuel fossem, naquela época, praticamente desprovida de consciência dos direitos humanos, alvo de um tratamento hostil, tão hostil que hoje nos escandaliza.
Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas

Num ancoradouro da costa ocidental africana, Fernão Veloso, marinheiro bravo e fanfarrão da armada do Gama, depois de perigosamente atacado por autóctones, refere-se-lhes como “cães”! (canto V, 35, v.7), mostrando uma desrespeitosa sobranceria, relativamente à “bruteza” dos indígenas africanos.
Em consequência das ciladas com que, na costa oriental africana (Ilha de Moçambique e Mombaça) e em Calecut, os nativos tentaram destruir a armada portuguesa, é frequentemente realçada a imagem dos infiéis movidos pela “manha e falsidade” (canto IX, 1,3). Neste caso, trata-se do “ódio ao inimigo religioso, quando ele se torna um obstáculo às actividades que constituíam o principal objectivo político (o estabelecimento de relações comerciais com o oriente e a criação de um vasto império) ou religioso (a evangelização dos povos que desconheciam o cristianismo”.
Maria Vitalina Leal de Matos, ed. Verbo, 2003, pp.51/2. Tópicos para a leitura de Os Lusíadas.
                                                                                                                                
Os Indianos viam perigar os seus interesses comerciais devido à acção de desconhecidos que professavam uma religião diferente.
Os naturais de Melinde, que acolhem a frota de Vasco da Gama com grande cortesia e entusiasmo (canto II, 72 e seguintes) e até lhe dão um piloto para os ajudar na travessia do Índico até Calecut, são alvo dos maiores elogios, o mesmo acontecendo com Monçaide, um mouro que, no contacto com os Portugueses, se revelou na Índia de grande simpatia e utilidade (canto VII, 24-41 e canto IX, 5-7).

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas.

AS REACÇÕES FACE AO OUTRO, quer dos Portugueses quer dos naturais das várias regiões onde estes iam chegando, eram determinadas, não exclusivamente mas, acima de tudo, por critérios utilitários, em especial, de natureza económica, por interesses materiais, pela fatal omnipotência do “metal luzente e louro”, que Camões denuncia nas estâncias  finais do canto VIII da sua epopeia.
 Luís Vaz de Camões Os Lusíadas.

Dos muitos aspectos importantes da CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (1500), dois merecem referência especial: o fascínio dos Índios pelos objectos (“cascavéis e manilhas”) que lhes mostra Nicolau Coelho e os pormenores com que, embevecidamente, esses mesmos Índios aparecem descritos, em todo o colorido esplendor do seu exotismo, a par da quase angélica nudez das moças, “bem moças e bem gentis”.
É o olhar europeu que, pela primeira vez, se extasia face aos habitantes do Novo Mundo.
Interessante: fac-símile e transcrição na folha 4 e texto em português actual nas páginas 230/1.
Org. Jaime Cortesão, Carta de Pêro Vaz de Caminha.

Fernão Mendes Pinto (1510?-1583) deixou, do seu peregrinar pela China, registo de muitos usos e costumes que lhe causaram espanto. O modo como é descrita a criação de patos (“adens”) torna-se particularmente apelativo, uma vez que os processos utilizados na mesma fazem lembrar o das chocadeiras eléctricas e os comedouros em série nos aviários actuais.
Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, v.II, páginas 165 e 166.

No reino da China, segundo Fernão Mendes Pinto, o governo, para auxiliar todos os deficientes (“aleijados das mãos”, “aleijados de péis e de mãos”, “mudos”, etc.) e pessoas desamparadas (“mulheres públicas” velhas e doentes, “moças órfãs”, “homens pobres e de bom viver”), punha em prática “ (…) a grandíssima ordem e maravilhoso governo que tem este Chim rei”.
Isto reflecte-se bem na existência, por toda a parte, de celeiros com “mantimentos para que a gente pobre não padeça necessidades”.
Fernão Mendes Pinto Peregrinação, v.II, páginas 240-247.

“O sistema de colonização, quando existia, visava sempre converter o africano num português”. O autor refere que os contactos entre portugueses e africanos foram quase totalmente unilaterais, e que os portugueses resistiram sempre a deixar-se influenciar por raças e civilizações que havia por atrasadas e, consequentemente, inferiores.
Aborda, também, a penetração portuguesa, o sistema de colonização e a escravatura (página 130 e seguintes).
 A.H. de Oliveira Marques, História de Portugal.

Entre outros aspectos, aborda-se, nas páginas 486 e seguintes, a evangelização e condição dos índios e “pretos” que, segundo o autor, foi sempre baixa.
Encontramos, mais uma vez, a referência ao lado missionário e evangelizador no encontro destes povos.
Fala, igualmente, da escravatura negra, sobretudo a importação de escravos de África para o Brasil, baptizados antes do embarque.
Nota: ao lado da página 324, podem ver-se mapas com os principais estabelecimentos portugueses na Ásia, no século XVI.
A.H. de  Oliveira Marques, História de Portugal.

Em 1974, ainda continuava tão actuante e viva a secular causa missionária dos Portugueses em terras de Moçambique que, nesse mesmo ano, o Pe. Alexandre Valente de Matos publicou este Dicionário Português-Macua, com o objectivo principal de facilitar o apostolado cristão junto das tribos macuas.
Pretendeu, também, contribuir, para que os europeus, encarregados de desempenhar funções não religiosas, dispusessem de um auxiliar linguístico que lhes facilitasse as relações com as referidas tribos.
Curiosa é a página 50, por apresentar várias palavras do campo lexical de religião.
Pe. Alexandre Valente de Matos,  Dicionário Português –Macua.
No IV Centenário da chegada à Índia, uma conferência sobre a influência dos Descobrimentos Portugueses na História da Civilização (1898).
Conferências de Consiglieri Pedroso.

Para além de gravuras muito interessantes, por exemplo, na página 144, sobre a primeira cidade fundada no Ultramar Português (Ilha de Santiago, Cabo Verde), temos abordagens relativas aos Portugueses em África, Ásia, Oceânia e América.
Portugal no Mundo (1967).

Damião de Góis (1502-1574), sublinha a cruel conduta do rei D. Manuel quando, em 1497, na sequência do édito de expulsão de judeus e mouros, publicou uma lei obrigando a retirar os filhos com menos de 14 anos aos seguidores do judaísmo que, não querendo converter-se à fé cristã, teriam de sair de Portugal.
Tal crueldade levou muitos desses judeus a matarem os filhos e até a suicidarem-se, e suscitou, nos próprios cristãos, tal piedade e misericórdia, que estes esconderam em suas casas muitas crianças judias, desobedecendo às ordens régias.
Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei Dom Manuel

Defensor incansável dos índios, o Pe. António Vieira (1608-1697) escreve do Maranhão (Brasil), em 4.4.1654. uma interessante carta ao Rei D. João IV. Nela, depois de dar a conhecer ao monarca que os governadores portugueses não obedecem às suas disposições legais, relativamente às populações autóctones, refere que uma das causas de morte de muitos índios, ao serem arrancados às suas terras, é a falta de mantimentos necessários ao seu sustento.
Pe António Vieira, Cartas (I)

Graças ao contacto com as terras que descobriam e/ou dominavam, e com os povos que, em seguida, iam colonizando, os Portugueses incorporaram progressivamente na sua língua vocábulos, do mesmo modo que termos do Português passaram a fazer parte de idiomas de povos distantes como os Japoneses e os Indianos, entre outros.
No Japão, por exemplo, adoptou-se a palavra portuguesa “tempero”, dando-lhe a pronúncia “tempura” e designando, com ela, um prato feito com camarões e legumes panados e fritos.
Os Indianos, por sua vez, perfilharam o vocábulo português “casta”que, depois de “aplicado às castas da Índia, (…) se estendeu a todas as línguas modernas com o sentido de classe social sem mistura e sem contacto com as demais”.
Dicionário Honaiss da Língua Portuguesa

Poeta dolorosamente experimentado em andanças por terras portuguesas do oriente, Bocage (1765-1805) deixou dos habitantes de Goa uma imagem em que avulta a vaidade sem limites.
Obcecados em exibirem fantasiosas genealogias de grande antiguidade e pretensas riquezas de vulto, os Goeses não passavam, no entanto, de pelintras cheios de presunção.
Bocage, Sonetos

Wenceslau de Morais (1854-1929), o “grande orientalista da literatura portuguesa moderna”, apaixonado pelo Japão, dedicou várias páginas à mulher japonesa. Não a achando bela, julga-a “a mulher mais gentil do mundo”, com os seus mil encantos”, “ondulante como a serpente”… uma sedutora irresistível!
Wenceslau de Morais

Fascinantes, os álbuns fotográficos sobre Moçambique (África Oriental Portuguesa), com imagens riquíssimas tanto do ponto de vista etnográfico como do ponto de vista arquitectónico e colonial!
Legendados. Vale a pena folheá-los! (a capa de um deles é aqui apresentada).





ECO-CONSCIÊNCIA

Caminhamos para um desastre psicológico, social e ecológico. Dominados pela tecnologia e o consumismo, vamos perdendo o verdadeiro significado da vida, que é a paz e a felicidade.
O amor e a compaixão por todos os seres, é a nossa única salvação.

Dalai Lama

Quadro de Kandinsky

Elementos biográficos, técnico-artísticos e alguns dos seus magníficos trabalhos:
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/kandinsky/

terça-feira, 12 de julho de 2011

Os bois

  





Quando era pequenita, bem os via, puxando a muito custo os carregadíssimos carros que chiavam pelo caminho e anunciavam o seu duro trabalho e a sua dura submissão.

Dobrados sob cargas terríveis que levavam  e aprisionados num jugo que os  emparelhava na sua condição servil, eram impiedosamente picados pelo prego afiado do aguilhão que lhes exigia o esforço limite e brutal.
Via-os sofrer. Sabia que sofriam. Humilhados, explorados.
Paravam por momentos como quem pedia auxílio, fincando as patas dianteiras e trémulas sobre a terra que com dor marcavam, e dos seus olhos negros, grandes, brilhantes, a doçura da inocência que brotava daquele corpo magnífico.
Como alguns dos seus pobres donos, que sem um ai e um queixume, labutando de sol a sol, só regressavam a casa ao toque do sino da aldeia, deixando para trás o cheiro da terra acabada de regar, o som da enxada que em sulcos a abrira e o murmurar do ribeiro, agora, sózinho,  serenamente abraçando o entardecer.
Quando os carros de bois passavam na rua,   naqueles fins de tarde de Verão quentes, cheirando a campo, pinheiros,  urzes  e rosmaninho,  emoldurados por um céu de ouro, vermelho e azul onde as aves brincavam a cantar e o fumo das lareiras pintava o horizonte, eu parava as correrias, o jogo da macaca ou da bilharda para os ver passar. 
E olhava-os. Como quem afaga ou beija.

No livrinho de leitura da escola primária tínhamos o poema que publico aqui, de   Afonso Lopes Vieira, "Os Bois". Nunca o esqueci.
Aqui fica tudo isto, em jeito de homenagem e reflexão.
Porque os animais também são gente!

Nazaré Oliveira



Os bois! Fortes e mansos, os boizinhos,
- leões com corações de passarinhos!

Os bois! Os grandes bois, esses gigantes,
tão amigos, tão úteis, tão possantes!

Vede os bois a puxar, pelas estradas,
aquelas pesadíssimas carradas.

O corpo deles, com o esforço, freme,
e o carro geme, longamente geme...

E à noite, pela estrada tão sòzinha,
o carro geme, geme, e lá caminha...

E parece, pela noite envolta em treva,
que é o carro a chorar por quem o leva.

Vede o boi a puxar à velha nora,
que parece também que chora, chora...

A nora chora, e o boi, cansadamente,
anda à roda, anda à roda, longamente...

E parece pela tarde erma que expira,
que é a água a chorar por quem a tira.

Mas vede os bois, também, nessa alegria
de trabalhar na terra à luz do dia!

Vede os bois a puxar ao arado, agora
que o lavrador conduz pelo campo fora!

Eis um canto de amor no ar se espalha:
- é a terra a cantar por quem trabalha!

O arado rasga a terra, e os bois, passando,
com os seus olhos a vão abençoando.
Sem as suas fadigas e canseiras,
não teriam florido as sementeiras!

Sem a sua força, sem a sua dor,
não estava rindo a terra toda em flor!...

E, por onde os bois lavraram,
as fontes frescas brotaram,
as árvores verdejaram,
os passarinhos cantaram,
as flores floriram,
os campos reverdeceram,
os pães cresceram
e os homens sorriram!...


Afonso Lopes Vieira

domingo, 10 de julho de 2011

Humor na escola

Não resisto!
Obrigada ao De Rerum Natura!


 

Afghanistan worst place in the world for women but India in top five

India-worst-place-women-sunflower
A woman works at a sunflower field at Kunwarpur village, east of Allahabad, India.
 Her country has been ranked the fourth worst in the world for women.

Targeted violence against female public officials, dismal healthcare and desperate poverty make Afghanistan the world's most dangerous country in which to be born a woman, according to a global survey released on Wednesday.
The Democratic Republic of the Congo (DRC), Pakistan, India and Somalia feature in descending order after Afghanistan in the list of the five worst states, the poll among gender experts shows.
The appearance of India, a country rapidly developing into an economic super-power, was unexpected. It is ranked as extremely hazardous because of the subcontinent's high level of female infanticide and sex trafficking.
Others were less surprised to be on the list. Informed about her country's inclusion, Somalia's women's minister, Maryan Qasim, responded: "I thought Somalia would be first on the list, not fifth."
The survey has been compiled by the Thomson Reuters Foundation to mark the launch of a website, TrustLaw Woman, aimed at providing free legal advice for women's groups around the world.
High maternal mortality rates, limited access to doctors and a "near total lack of economic rights" render Afghanistan such a threat to its female inhabitants. "Continuing conflict, Nato airstrikes and cultural practices combine to make Afghanistan a very dangerous place for women," said Antonella Notari, head of Women Change Makers, a group that supports women social entrepreneurs around the world.
"Women who do attempt to speak out or take on public roles that challenge ingrained gender stereotypes of what is acceptable for women to do or not, such as working as policewomen or news broadcasters, are often intimidated or killed."
The "staggering levels of sexual violence" in the lawless east of the DRC account for its second place in the list. One recent US study claimed that more than 400,000 women are raped there each year. The UN has called Congo the rape capital of the world.
"Rights activists say militia groups and soldiers target all ages, including girls as young as three and elderly women," the survey reports, "They are gang raped, raped with bayonets and some have guns shot into their vaginas."
Pakistan is ranked third on the basis of cultural, tribal and religious practices harmful to women. "These include acid attacks, child and forced marriage and punishment or retribution by stoning or other physical abuse," the poll finds.
Divya Bajpai, reproductive health adviser at the International HIV/Aids Alliance, added: "Pakistan has some of the highest rates of dowry murder, so-called honour killings and early marriage." According to Pakistan's human rights commission, as many as 1,000 women and girls die in honour killings annually.
India is the fourth most dangerous country. "India's central bureau of investigation estimated that in 2009 about 90% of trafficking took place within the country and that there were some 3 million prostitutes, of which about 40% were children," the survey found.
Forced marriage and forced labour trafficking add to the dangers for women. "Up to 50 million girls are thought to be 'missing' over the past century due to female infanticide and foeticide,", the UN population fund says, because parents prefer to have young boys rather than girls.
Somalia, a state in political disintegration, suffers high levels of maternal mortality, rape, female genital mutilation and limited access to education and healthcare.
Qasim added: "The most dangerous thing a woman in Somalia can do is to become pregnant. When a woman becomes pregnant her life is 50-50 because there is no antenatal care at all. There are no hospitals, no healthcare, no nothing.
"Add to that the rape cases that happen on a daily basis, and female genital mutilation being done to every single girl in Somalia. Add to that famine and drought. Add to that the fighting [which means] you can die any minute, any day."
Monique Villa, the chief executive of the Thomson Reuters Foundation, said: "Hidden dangers – like a lack of education or terrible access to healthcare – are as deadly, if not more so, than physical dangers like rape and murder which usually grab the headlines.
"In Afghanistan, for instance, women have a one in 11 chance of dying in childbirth. In the top five countries, basic human rights are systematically denied to women.
"Empowering women tackles the very roots of poverty. In the developing world when a woman works, her children are better fed and better educated because they spend their money for their family."
The survey was based on responses from more than 200 aid professionals, academics, health workers, policymakers, journalists and development specialists chosen for their expertise in gender issues.
Each country was also ranked in terms of six risk factors including: health, discrimination and lack of access to resources, cultural and religious practices, sexual violence, human trafficking and conflict-related violence.
In terms of individual risk categories, Afghanistan was deemed to be the most dangerous for health, economic/discrimination and non-sexual violence; the Congo is most plagued by rape and sexual violence; and India has most problems with trafficking.
"You have to look at all the dangers to women, all the risks women and girls face," said Elisabeth Roesch, who works on gender-based violence for the International Rescue Committee in Washington.
"If a woman can't access healthcare because her healthcare isn't prioritised, that can be a very dangerous situation as well."
The TrustLaw website has been in existence for some time, linking up local NGOs and social entrepreneurs with established law firms who are prepared to offer legal advice on a pro-bono basis. The groups are vetted by Transparency International.
More than 450 law firms are already involved including some from China. Among those that have recently benefited have been the charity Riders for Health, which delivers medicine to remote villages, and reviewed its contracts in Nigeria.

Owen Bowcott, The Guardian, Wednesday 15 June 2011
 Photograph: Rajesh Kumar Singh/AP


MUITO INTERESSANTE ! http://www.guardian.co.uk/world/interactive/2011/jun/15/gender-afghanistan?intcmp=239