Um encontro olhado com a desconfiança de quem não conhece mas com o espanto de quem nada assim vira.
Foi um encontro confronto, como um dia vos disse, parte a parte, feito de preconceitos, de racismo, de prepotência, de discriminações quanto às minorias e etnias…mas também de deslumbramento e receio. Um encontro que levou à escravização do outro e à sua morte, à morte de 20 milhões de seres humanos, sobretudo na altura em que se tornava mais agressivo o tráfico de seres humanos – o tráfico negreiro, o exemplo mais triste e mais sombrio do desrespeito pelos direitos humanos.
De facto, o negro era a peça, era o homem-objecto. Sem protecção jurídica, como uma mercadoria que, apesar de valiosa, era tratada ao mais baixo nível daquilo a que poderíamos chamar desumanidade.
Vozes se levantaram contra tal, caso dos frades Francisco Vitória e António de Montesinos, Bartolomeu de Las Casas e o nosso Padre António Vieira, cujas intervenções apelam ao respeito pelo homem, mesmo o escravo, considerando os horrores em que viviam e a forma como eram explorados.
Com o Humanismo, nos séculos XV e XVI, veiculando a perspectiva antropocêntrica, olha-se para o Homem como o centro do Universo, o centro da Humanidade. E começa a fazer-se luz sobre esta nova forma de olhar a vida, a sociedade, buscando a harmonia e o equilíbrio em tudo o que, de alguma forma, faz emergir os valores mais nobres desse Homem, como a ética social, a procura do Bem comum, a procura do Bem para todos, a felicidade e a procura do bem-estar, o combate às causas que provocam o sofrimento e dor e as razões e princípios que nos devem levar a condenar todo e qualquer obstáculo à plena realização do Homem como ser superior.
Na realidade, para reconhecermos a importância do Bem comum temos que reconhecer a Pessoa. A Justiça. A Moral.
Mas o século XVI também trouxe a loucura das perseguições religiosas…das perseguições movidas pelo espírito e Tribunal da Inquisição e do Índex, particularmente contra os protestantes e contra aqueles que apelidavam de heréticos.
Ninguém escapou ao olhar terrível da Inquisição. No entanto, não podemos deixar de recordar que um Lutero e um Calvino, por exemplo, já condenavam a forma como desumanamente se eliminavam e calavam os que pretendiam a liberdade de culto no seu tempo. E a forma corrupta e opressora como se arquitectava a sociedade de então, no mais completo desrespeito por aquela que era (é) a grande mensagem de Jesus Cristo “são todos iguais aos olhos de meu Pai”!
Até os homens de ciência foram perseguidos. Livreiros, intelectuais, professores… caso de Gil Vicente, Damião de Góis…
Utilizavam a tortura e faziam-se condenações à morte baseadas em denúncias a maior parte das vezes anónimas! Sem julgamento justo! Sem direito à inocência! Sem direito à defesa! Como alguém disse, “a suspeição era o princípio do fim”.
Os condenados não chegavam a saber por que é que os acusavam e, se mostrassem arrependimento, prisioneiros ficavam.
Em Portugal, século XVI, os judeus sofreram horrores com isto: os mais elementares direitos eram-lhes retirados por causa de professarem a sua religião. Inclusive o direito à vida. A circularem livremente sem que alguém os espiasse e condenasse arbitrariamente.
Documentos históricos datados de Abril de 1506, falam de um trágico acontecimento em Lisboa, motivado por uma afirmação que um deles fizera, durante uma missa, de que a luz que um crucifixo reflectia não era de origem divina! Foi morto de imediato e, nesse dia, por causa disso, mataram-se quase 2000 cristãos-novos!
Vivia-se a medo!