A ministra da educação, Isabel Alçada, afirmou “(…) a possibilidade de os alunos com mais de 15 anos retidos no 8º ano pularem para o 10º através de exames (…) não pode ser encarada como facilitismo, mas antes como um incentivo aos jovens para se esforçarem. (…) Não é uma medida que tenha nada a ver com facilitismo, pelo contrário: mantém a exigência porque o exame é o mesmo, mas dá àqueles que por alguma razão tiveram uma repetência que não lhes permitiu completar o ano na idade própria, a hipótese de estudarem, de se prepararem e apresentarem a exame (…) o que importa é que as pessoas estudem e se esforcem, queiram ir mais longe - isto é uma possibilidade e eu espero que esta alteração incentive os jovens a que continuem a estudar e se esforcem (…). Se estudarem e tiverem vontade, a vontade move o mundo. Se os jovens quiserem e se esforçarem, para alguns será possível. (…) Não há a limitação de estarem inscritos ou não. Só precisam da autorização do encarregado de educação”. Deus nos acuda!
E é assim que se querem fazer reformas importantes na educação? Importantes? A continuar este tipo de política educativa, no mais completo desrespeito, quer pelo professor quer pelos alunos verdadeiramente empenhados em todo o processo de aprendizagem, está a defender-se descaradamente o facilitismo e a abrir-se cada vez mais a porta àqueles que desde sempre, salvo raras excepções, vão à escola para passear-se, para dar cabo do trabalho dos outros, para desestabilizar, para entrarem na sala de aula quando lhes apetece, negando os apoios que a escola faculta e, muitos deles, completamente desorientados pela inércia e falta de autoridade parental, assumindo atitudes e comportamentos claramente marginais…
O que se pretende, Senhora Ministra? “Fazer de conta”? Fingir que se aprende? Desprestigiar quem ensina e verdadeiramente trabalha? Desvalorizar aqueles jovens que de facto estão interessados em aprender? Mostrar que todos os meios servem para se obterem taxas de sucesso, ainda que fictícias?
Incentivar? Incentivar quem não quer trabalhar? E como é que esses alunos “pulando do 8º para o 10º” vão adquirir os pré-requisitos fornecidos pelo 9º ano, fundamentais na aprendizagem de conteúdos a leccionar durante o secundário, por exemplo, no 12º ano de História A?
O ministério, populista e teimosamente ignorante, coloca-se escandalosamente no lado errado, vai contra as boas práticas que tanto propagandeia e, mais grave ainda, reforça, de uma forma obscena, a irresponsabilidade desses alunos que quer beneficiar, e, com toda a certeza, aquele tipo de encarregados de educação que não vemos na escola ou que lá vão só para dizer que o seu menino ou menina é muito querido, sensível... mas o professor é que é exigente e antipático, que a turma é tramada, que... blábá, bláblá, bláblá.
Já estou a ver o pessoal a dar o salto do 10º para o 12º! Lindo! Muito lindo! Admiravam-se?
Para os ministérios e para os directores e gestores de empresas públicas já tem sido usado este critério, portanto, pessoal, qualquer dia, os alunos ficam em casa, mandamos materiais via plataforma digital (recuperação da tv-escola?), os meninos até podem levar o portátil para a cama, os paizinhos e os ditos alunos satisfeitos porque fazem o que querem e lhes sai mais barato, a escola remodelará os horários e as salas por causa da utilização dos PCs, despedir-se-ão pelo menos 50% dos professores e, numa óptica de rotatividade e até de racionalização do trabalho e poupança (duvidosa!), haverá escalas para nós, professores, quer para fazermos ronda nocturna, limpezas, secretaria, enfim, o que for preciso "a bem da nação", não é verdade?
O orçamento do estado recuperará, o défice reduzir-se-á, o governo pulará de contente e até sugerirá este novo modelo à Grécia! Os paizinhos dos tais alunos rejubilarão porque, finalmente, vêem mais rápido e possível o dia de terem o filhinho doutor e, porque entretanto a U.E. já está farta de países de mentecaptos... fora connosco!
Lindo! Muito lindo!
É esta a estratégia para a modernidade e para o desenvolvimento do meu país em matéria de educação? Que se passa com este governo, com esta Assembleia da República, com este Presidente da República, com estes deputados?
Oh vergonha das vergonhas!
Comemoramos este ano o centenário da República, da 1ª República, mas alguns não o fazem, certamente, com respeito e convicção pelo seu ideário!
É tal o cansaço causado pelo desgaste e pelo cumprimento obrigatório de tantas e tantas leis absurdas (nocivas e inconsequentes) que nos têm ultimamente obrigado a cumprir, que quase já não reagimos tal a forma autoritária com que a ignorância institucionalizada e instalada nos amordaça a livre expressão das nossas críticas e das nossas propostas.
Amassados por esta máquina perversa dos auto-proclamados "bem pensantes" e "bem-falantes" intensamente promovidos pelo clientelismo dos seus partidos, tudo parece assustador.
Como um vírus perigoso e fatal que se vai espalhando e contaminando as nossas instituições e a nossa dignidade como país, ferindo de morte as conquistas do 5 de Outubro de 1910 e do 25 de Abril de 1974, irremediavelmente perdidas com as decisões desta gente.
"O sono da razão engendra monstros". Maria Nazaré Oliveira