sexta-feira, 16 de maio de 2014

Recuso-me







Recuso-me

 
Recuso-me a ficar amolecido
Tragicamente cilindrado
E muito antes de lutar - vencido
E muito antes de morrer - violado.

Recuso-me ao silêncio e à mordaça
Serei independente, livre e exacto
A verdade é uma força que ultrapassa
A própria dimensão em que combato.

Recuso-me a servir a violência
Embora a minha voz de nada valha
Mas que me fique ao menos a consciência
De que tentei romper esta muralha.

Recuso-me a ter medo e a estiolar
Na concha dos poetas sem mensagem
Que me levem o corpo e a coragem
Mas que me fique esta voz para cantar.

Poema de João Apolinário
Música e canto de Luis Cilia 



 "Recuso-me" - Canção inserida no seu disco "La poesie Portugaise de nos jours et de toujours",  vol 1, de 1967.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Nos 40 anos do 25 de Abril





Nos 40 anos do 25 de Abril: o governo é dono das pessoas ou as pessoas são donas do governo?


Quando se pergunta se o 25 de Abril valeu a pena o sinal é muito sério.
Esta pergunta foi feita insistentemente por Winston Churchill, em discurso após discurso, a partir de 1933, data em que Hitler chegou ao poder. Repetia-a vezes sem conta. Retomou-a num discurso radiofónico dirigido aos italianos, em 1944, e depois na Universidade de Leiden, na Holanda, em 1946. Umas vezes a pergunta era dirigida contra as ditaduras de Hitler e Mussolini, outras contra a ditadura de Staline e seus apaniguados.


Vale a pena recordar a pergunta de Churchill a propósito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. Jornais e revistas, rádios e televisões têm repetido a pergunta: "o 25 de Abril valeu a pena?". Todas as perguntas são boas para começar uma conversa. Mas esta, francamente, não dá para grande conversa. É óbvio que valeu a pena -- pela simples razão de que o regime existente antes do 25 de Abril era absurdo.
A pergunta realmente pertinente é quase oposta: como foi possível aturar uma ditadura em Portugal durante 48 anos? Porque é que a ditadura só caiu em 1974? Essas são perguntas difíceis e eventualmente embaraçosas.

Em 1215 – repito, em 1215 – a Magna Carta declarava que o Rei não podia prender um súbdito sem uma acusação formulada à luz da lei. Que todos os súbditos tinham direito a um julgamento leal pelos seus pares. Que a ninguém podia ser vedado o direito de viajar ao estrangeiro. Que o Rei não podia confiscar a propriedade dos súbditos, nem cobrar impostos sem o consentimento destes.
Isto passou-se em 1215. Em 24 de Abril de 1974 – e, em bom rigor, até pelo menos 26 de Novembro de 1975 – estes preceitos não eram respeitados em Portugal.


Em nome de quê? Por que razão? Os historiadores saberão dizer-nos mais em detalhe. Mas, em termos de teoria política, as razões do Dr. Salazar e do Prof. Marcelo Caetano eram de natureza semelhante à das que foram papagueadas pelos comunistas após o 25 de Abril e até ao 25 de Novembro.
As razões aduzidas para não respeitar os preceitos da Magna Carta de 1215 eram basicamente as seguintes: eles sabiam o que era bom para o país, os outros não; os que discordavam do que era bom eram necessariamente inimigos do bem. Por estas razões, cabia ao governo dos bons dirigir e pastorear as massas, perseguindo e calando os maus. Por outras palavras, Salazar, Caetano, Cunhal e Cia achavam que o governo era dono das pessoas, não que as pessoas eram donas do governo.


Vale agora a pena recordar os sete testes que Churchill apresentou para sabermos quem era dono de quem, se o governo do povo ou o povo do governo. Eis os sete testes:
– "Existe liberdade de expressão de opiniões e de oposição e crítica ao governo que se encontra no poder?


– Os cidadãos têm o direito de destituir um governo que considerem censurável e estão previstos meios constitucionais de manifestarem a sua vontade?
– Existem tribunais que estão ao abrigo de violência por parte do executivo ou de ameaças de violência popular e sem nenhumas ligações com partidos políticos específicos?


– Poderão esses tribunais aplicar leis claras e bem estabelecidas que estão associadas, na mente das pessoas, ao princípio geral da dignidade e da justiça?
– Há "jogo leal" para pobres e para ricos, para os cidadãos comuns e para os detentores de cargos públicos?


– Existe a garantia de que os direitos dos indivíduos, ressalvadas as suas obrigações para com o Estado, serão mantidos, afirmados e enaltecidos?
– Está o simples camponês ou operário que ganha a vida trabalhando e lutando diariamente para sustentar a sua família livre do receio de que uma qualquer organização policial sinistra, controlada por um único partido, lhe bata à porta e o leve para a prisão ou para ser sujeito a maus-tratos sem um julgamento justo e público?"


O leitor pode certamente reparar que não se encontra nestes testes de Churchill uma única referência ao conteúdo substantivo das políticas de cada governo. Se é de esquerda, se é de direita, se promove ou se enfraquece o chamado "Estado social". Churchill não perguntava se "a democracia vale a pena" em função de concordarmos ou não com as políticas passageiras do governo transitoriamente em funções.
Quarenta anos depois do 25 de Abril, esta visão churchilliana da democracia não parece ainda enraizada entre nós. Quando se pergunta se o 25 de Abril valeu a pena – e quando a pergunta é levada a sério e se começa a discutir os resultados "deste regime" – o sinal é muito sério. Foi por estas e por outras que a ditadura durou 48 anos entre nós. E foi também por isso que, logo a seguir ao 25 de Abril, por pouco não íamos tendo outra ditadura de sinal contrário.




21/04/2014


Professor universitário, IEP-UCP

sábado, 19 de abril de 2014

A Paixão de Cristo na poesia




Crucificação (c. 1582). Paolo Veronese (1528-1588).
Óleo sobre tela (102 x 102 cm). Musée du Louvre, Paris. 




Autores portugueses encontraram inspiração nos passos dolorosos da vida de Jesus. A sinfonia das suas palavras transporta-nos para o mistério da cruz. 


A inspiração de vários poetas mostra o olhar sofredor da Mãe que segura e chora o seu Filho: 

«Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da Pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado
Embrulhado nas dobras do teu mando»
(Torga, Miguel)

«Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa…
E deixa-me sonhar a vida inteira»
(Quental, Antero de)

«Oh Virgem de Nazaré,
Oh Mãe de Jesus
Lírio aberto aos pés da cruz,
Cujas pétalas de luz
Vertem lágrimas de fé»
(Conde de Monsaraz, [Papança, António Macedo])

«Junto da cruz, que estremecia ao vê-la
Chorou, baixinho, a Mater Dolorosa:
E a terra, em volta, soluçou com ela»
(Oliveira, António Correia de)

O Sinédrio decretara a Sua morte. Nestes passos dramáticos em direcção à humilhação, Jesus prepara-se para a doação total. Os doze esperam com ânsia uma palavra do Mestre.

«Levanta as mãos ao Céu vasto e piedoso
Vara-lhe o seio tenebroso espinho
Caem gotas, de sangue precioso,
De suor, nas violetas do caminho»
(Leal, A. Gomes)

Mesmo de poetas descrentes, a beleza da sua linguagem expõe um sentimento religioso. Ao longo dos séculos, a Paixão e Morte de Cristo são fonte inspiradora da poesia. Luís de Camões – uma das almas lusitanas – tem elegias onde canta a Paixão do Filho do Homem.

«Aquele corpo tenro e delicado,
Sobre todos os santos sacrossanto,
De açoutes rigorosos flagelados»
(Camões, Luís)

O poeta limiano, Diogo Bernardes considera-se culpado daquela morte. A luminosidade das suas palavras como que formalizam um pedido de desculpas. O lirismo religioso deste poeta do século XVI é marcado pela sinceridade. 

«Eu vos crucifiquei, eu vos vendi,
Eu vos neguei mil vezes, que não três
Eu fui o que esse lado vos abri!» …
«Por eles (os meus pecados), meu senhor, te vejo estar
Crucificado nesse duro lenho»
(Bernardes, Diogo)

Partindo das palavras do Evangelho de S. João (19, 1-3), o poeta da Arrábida ilustra a paixão de Jesus com a luminosidade de um místico. Frei Agostinho da Cruz assume a culpa do sofrimento e morte de Jesus. 

«Eu fui, eu sou Senhor, o que vos pus
Nesse duro madeiro pendurado,
Donde morreis por mim, doce Jesus»
(Cruz, Frei Agostinho)

Quando medita nas chagas de Cristo, Diogo Bernardes pede mesmo à sua alma que, por amor delas, se arrependa dos seus pecados e dê início a uma vida nova.

«Quando meus olhos nessas chagas ponho
E não me vejo em lágrimas banhado
Corrido fico, todo me envergonho»
(Bernardes, Diogo)

José Régio aborda os últimos passos de Jesus num registo diferente. Lamenta ter nascido tarde, mas considera que Ele foi crucificado pelos homens.

«Por isso choro em mim a mágoa verdadeira
De ter nascido tarde, e só te vir achar,
Feito em marfim, metal, pedra madeira,
No cimo dum altar»
……
«O Cristo, ao alto, alonga os magros braços nus
Por sobre a escuridão do rancho desolado
Que segue, ao som da marcha, o seu Jesus
Por nós crucificado»
(Régio, José)

Preso e atado à cruz, a multidão gritava: Crucifica, crucifica. A humilhação estava patente naquele rosto.
André Dias explica a crueldade daquela morte.Este poeta dos séculos XIV e XV (1348-1437) coloca nas suas palavras a injustiça daquele tribunal.
 
«E todos bradavam com grande voz e alta:
- Crucifica! Crucifica este falso profeta
E morra sobre a cruz morte cruel e feia,
Que jamais não engane toda a nossa gente»
(Dias, André) 

Depois de saber que tudo estava consumado, Jesus disse: «Tenho sede». Teve como bebida, o amargo vinagre.
 
«Mas tem sede o Rabi. Um, mais cruel,
uma esponja, em caniço pontiagudo,
toda em fel ensopou. – Ora, este fel
amarga mais o mestre do que tudo»
(Leal, A. Gomes)

Do alto da cruz, os seus olhos sem brilho contemplavam Jerusalém. Após ter tomado o vinagre, Jesus exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, rendeu o Espírito.

«Filhos de Cristo, consumou-se agora
O horrendo crime de Israel, na cruz.
Trémula se abre a terra; o sol descora
A igreja chora, - que morreu Jesus»
(Ribeiro, Tomás)

A noite ia tombando de hora a hora cheia de assombro e cósmica tristeza. Esta morte foi vida. Foi um rasgão no tempo.

«Tu morreste por nós na cruz da afronta
E o sangue derradeiro
Derramaste do alto do madeiro,
Jesus, filho de Deus, Deus Verdadeiro
Aos crimes do homem não lançaste a conta
Inocente cordeiro
Quando foste no alto do madeiro
Lavar com sangue o último e o primeiro»
(Garret, Almeida.)

Com a morte e ressurreição, a lanterna da vida brilha e alimenta a árvore frondosa do cristianismo.

«Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão
Tua vontade se faça, a minha não»
(Nemésio, Vitorino)





fonte:  http://www.agencia.ecclesia.pt/

terça-feira, 15 de abril de 2014

Amélia dos olhos doces






Poesia de Joaquim Pessoa, música de Carlos Mendes.  
Cantada por CARLOS MENDES.


Iraque autoriza violação de meninas





Quando li esta noticia fiquei horrorizada e com uma vontade enorme de gritar ao mundo inteiro que isto não pode ser.
Crianças… Não só as mulheres mas também, agora, sob proteção legal, a violação de crianças, de menores que mal começaram a andar e a falar… inocentes a quem tudo têm roubado, e agora, até o direito à infância!
Monstros que assim pensam e legislam não merecem a liberdade, quiçá, a vida e o ar que todos respiramos. Não merecem nada tal o nojo em que vivem e fazem viver estes pobres seres, presos nas malhas de quem dos seus corpinhos se serve para satisfazer os seus desejos animalescos, brutais, medonhos, negros, muito negros.
Nestas paragens, salvo raríssimas exceções, continua-se a fundamentar o grotesco, a ignominia e até esta morte lenta e esta escravatura infantil consentida, com razões que nem no Alcorão encontramos, como muitas outras. São sim, o pior que de mau existe, e de cobardia e de perversidade que estes homens promíscuos procuram ávidamente, tal a sua fome de sadismo.
Invocam Alá em vão porque não são sérios nem nunca o foram face à sua religião e ao seu livro sagrado, fundamentando as suas perversidades sexuais e não só, numa Sharia assustadora ao serviço dos seus desejos mais mesquinhos.
Estes, dizem seguir à risca a lei islâmica quando propõem ao governo de Bagdad um projeto lei que permita o matrimónio em qualquer idade e no qual só se pudesse divorciar quem tivesse 9 anos. Sim, com esta condição e mais esta: casar-se, depois,  com outro homem (no caso de ser mulher). E isto sem falar de mais outro horror: enquanto a mãe amamenta, o marido pode  ter relações sexuais as vezes que quiser e com quantas mulheres quiser!
Pobres meninas! Pobres mães e pobres pais!
Os cristãos iraquianos vivem apavorados com isto. De facto, obrigar uma menina de 5 anos  - idade considerada para o matrimónio - a casar-se com um homem mais velho, é violação.
Só não é violação para os fundamentalistas da Sharia que a ela recorrem para satisfazer os seus instintos mais baixos e repugnantes.
Que  país este e que gente é esta, que isto aprova e isto faz!
Por favor, ONGs de Direitos Humanos, onde estais?



Nazaré Oliveira