Recuso-me
Recuso-me a ficar amolecido
Tragicamente cilindrado
E muito antes de lutar - vencido
E muito antes de morrer - violado.
Recuso-me ao silêncio e à mordaça
Serei independente, livre e exacto
A verdade é uma força que ultrapassa
A própria dimensão em que combato.
Recuso-me a servir a violência
Embora a minha voz de nada valha
Mas que me fique ao menos a consciência
De que tentei romper esta muralha.
Recuso-me a ter medo e a estiolar
Na concha dos poetas sem mensagem
Que me levem o corpo e a coragem
Mas que me fique esta voz para cantar.
Poema de João Apolinário
Música e
canto de Luis Cilia
"Recuso-me" - Canção inserida no seu disco "La poesie Portugaise de
nos jours et de toujours", vol 1, de
1967.