BALADA PARA A VELHA ILHA
«Horas mortas, quando o luar
passeia,
As brancas tranças desfeitas,
pela areia,
Há sombras do passado a
deslizar
Por entre os muros, no cimo
dos portais,
Nas rochas e nas pedras
carcomidas,
Contando histórias velhas, já
perdidas
Na distância e na bruma do
não-mais.
Tinem ferros, há vozes e
canções,
Soluços e murmúrios de
orações
(Há quem afirme e teime que é
o mar... )
Subindo em espirais feitas de
mistério
Ao encontro dos passos de quem
passa.
Ecos dispersos de um
longínquo império,
roçar de sedas nos salões
desertos
dos seculares palácios sem
vivalma.
E dizem que de túmulos
abertos
Surgem guerreiros, bispos e
donzelas
Que vão depois seguindo, à
luz da lua,
Tacteando as paredes, rua em
rua,
Até que a aurora venha e se
debruce
Em rubores de menina, pelas
janelas.
E dizem mais... e contam... e
afirmam...
(Bem sei que é lenda. É lenda
e fantasia
— Mas que seria a vida sem o
sonho
E que seria duma velha ilha
Sem o perfume, a estranha
maravilha,
Da lenda a envolvê-la em
poesia? )»
Guilherme de Melo