sábado, 6 de junho de 2015

Balada para a Ilha de Moçambique





BALADA PARA A VELHA ILHA

«Horas mortas, quando o luar passeia,
As brancas tranças desfeitas, pela areia,
Há sombras do passado a deslizar
Por entre os muros, no cimo dos portais,
Nas rochas e nas pedras carcomidas,
Contando histórias velhas, já perdidas
Na distância e na bruma do não-mais.
Tinem ferros, há vozes e canções,
Soluços e murmúrios de orações
(Há quem afirme e teime que é o mar... )
Subindo em espirais feitas de mistério
Ao encontro dos passos de quem passa.

Ecos dispersos de um longínquo império,
roçar de sedas nos salões desertos
dos seculares palácios sem vivalma.
E dizem que de túmulos abertos
Surgem guerreiros, bispos e donzelas

Que vão depois seguindo, à luz da lua,
Tacteando as paredes, rua em rua,
Até que a aurora venha e se debruce
Em rubores de menina, pelas janelas.

E dizem mais... e contam... e afirmam...
(Bem sei que é lenda. É lenda e fantasia
— Mas que seria a vida sem o sonho
E que seria duma velha ilha
Sem o perfume, a estranha maravilha,
Da lenda a envolvê-la em poesia? )»



Guilherme de Melo