segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Uma doente com cancro deixada na escadaria de uma igreja



O inferno de uma doente com cancro deixada na escadaria de uma igreja

Foi longa a espera de Rosa. Doente de cancro, com graves problemas de mobilidade, esta mulher de 46 anos teve nesta segunda-feira alta do Hospital Joaquim Urbano, onde lhe trataram mais uma infeção respiratória e a deixaram sair, mesmo sabendo que, naquele dia, ela não tinha uma casa para onde ir.
Metida sozinha num táxi, foi parar, desamparada, às escadas da igreja do Carvalhido, na rua onde o marido arruma carros. Aguentou-se ali, deitada, umas cinco horas, até ser transportada pela polícia para um quarto numa pensão de Cedofeita, arranjado pela mesma Segurança Social que lhes cortara o rendimento social de inserção, deixando-os sem capacidade de pagar uma renda.
Felizmente está sol, reparava Paulo Natividade. É o amigo. O amigo que Armindo tem tido desde que a droga, o desemprego e a espiral descendente, contra a qual vai lutando, fizeram dele o arrumador de carros “oficial” da Rua da Prelada. E o amigo que não calou a indignação pela forma como naquela segunda-feira o Hospital Joaquim Urbano deu alta a uma mulher que não tinha, sabiam disso, para onde ir. Armindo tinha-os avisado de manhã. “Fiquei sem casa. Aguentem-na aí até eu resolver o problema”, pediu ao telefone a um médico, à frente de Paulo. Às 14h, quando lá chegou, já ela não estava. Saíra num táxi. Pago, por “pena dela”, pelo director de Serviço de Pneumologia, explicou ao PÚBLICO o assessor de imprensa do Centro Hospitalar do Porto.  
“Ela queria sair. O médico avisou-a do problema da casa, mas a senhora disse que tinha familiares no Carvalhido e deixaram-na sair”, insistiu a mesma fonte, garantindo que, neste caso, não poderiam forçar a intervenção da Segurança Social. Não era a primeira vez que Rosa entrava e saía daquele hospital. Soma outros problemas de saúde ao cancro que, segundo a família, lhe deixa pouca esperança de vida, e “não é uma doente fácil”. Mas Armindo não entende porque cederam e não esperaram que chegasse, tendo em conta a sua condição física débil e as dores que a obrigam a tomar morfina, entre vários outros medicamentos cujo custo não conseguem suportar. Foi deixada por um taxista nas escadas da igreja do Carvalhido às “portas do céu”, como se lê numa parede, e foi um irmão dele, Joaquim, que a descobriu assim, desamparada.
Armindo estava ainda no hospital, quando o irmão lhe telefonou. Pediu ajuda ao seu outro “irmão” Paulo Natividade, que trabalha naquela mesma rua e que acabou por passar a tarde ali, com eles. Pessoas foram chegando, incluindo o pároco responsável pela igreja cuja entrada ostenta uma imagem de Cristo e um mapa da Europa, mostrando a distância entre o Porto e Jerusalém, a Terra Prometida. Segundo o amigo, o sacerdote disse-lhes que procurassem apoio na junta de freguesia e, perante os apelos de quem ali estava, pediu ao sacristão que lhes arranjasse um cobertor. Depois, celebrou-se missa, e os fiéis foram saindo, indiferentes, a maioria deles, ao que ali se passava – deixando ainda mais indignadas duas funcionárias do lar de Monte dos Burgos, Maria Nogueira e Ana Sousa que, ainda de farda, amparando Rosa, quase davam àquele escadório um ar de hospital em hora de visitas. Houvesse conforto…
Ainda assim, alguns paroquianos aproximaram-se, perguntaram, ajudaram. Um euro, dois. Um paliativo para aquela família, com um filho dependente, de 16 anos, que perdeu o rendimento social de inserção, no valor de 408 euros. O rapaz deixou a escola, “para cuidar da mãe”, mas Armindo não sabia explicar se fora esse o motivo do corte. Conhecia, isso sim, as consequências dele. O senhorio do “apartamento” onde dormiam, na Rua Álvares Cabral, fechou-lhes a porta da casa. Trabalha com dinheiro à vista, sem recibos. “Só me deixa entrar se eu lhe pagar 400 euros”, queixava-se o antigo motorista, que, ao mesmo tempo que luta para se afastar da droga que lhe “estragou a vida”, convivia, naquela casa partilhada por outros inquilinos, “com um “ambiente pesado, tentador” para um ex-toxicodependente.
Os haveres deles ainda estavam, nesta terça-feira, todos lá dentro. Nas escadas, na segunda-feira, Rosa vestia a roupa com que saíra do hospital e aguentava, mal, a espera. Dois agentes da polícia, chamados ao local, já tinham há muito pedido ajuda, ligando para o número de emergência social, quando, passavam das 19h, receberam a indicação de que havia para a família um quarto numa pensão, em Cedofeita. E foi deitada nos bancos traseiros do carro patrulha da PSP que esta mulher, a quem foi detectado há um ano um cancro no pulmão, foi levada. O cobertor que lhe arranjaram nas escadas da igreja foi útil para conseguirem levá-la, de novo escadas acima, até um segundo andar, onde esta terça-feira foi já visitada por uma assistente social – que ficou de ver o que se passou com o processo do rendimento social de inserção e de procurar uma solução de habitação para esta família que, durante uma tarde, deixou, às portas do céu, um exemplo vivo de como a vida pode ser um inferno.


Vampiros à solta



Continuam à solta, os vampiros sobre os quais Zeca Afonso nos alertou, os comedores sobre os quais não resta a menor dúvida, e que andam por aí, umas vezes disfarçados, outras vezes descarados, rasgando a alma e os dias da gente ao som do vil metal que em seus bolsos nojentos tilinta e de morte nos atormenta.
O dinheiro é nosso. Foi-nos roubado.
Desapareceu dos cofres dos  Bancos para se alojar promiscuamente, corruptamente, nas mãos dos banqueiros ou num qualquer paraíso fiscal, claro!
Banco de Portugal. Que Banco de Portugal? Antro de malfeitorias, gente sem vergonha que isto vai consentindo, conscientemente, enquanto se ouve o clamor de um povo com fome e sede de justiça mas que tarda em fazê-la.
Salvam-se banqueiros mas não se salvam os trabalhadores deste país.
Salvam-se os bancos mas não as instituições democráticas.
Salvaguardam-se os interesses das elites financeiras mas não se salvaguardam os
interesses do povo.
Salvaguardam-se os interesses de meia dúzia com o sacrifício de todo um povo sistematicamente humilhado, roubado e espoliado dos seus mais elementares direitos sociais e políticos.
Estou farta de gentalha e de oportunistas. Estou farta de merdosos, lambe-botas, gente sem moral e sem vergonha, gente que tresanda a hipocrisia e a corrupção, gente falsa, sorrisos falsos, falsos apertos de mão, ladrões engravatados, mulheres-bibelot, mulheres-fantoche, homens-fantoche, gente sem princípios e de artimanhas, gente que vai sempre ao beija-mão, no Governo, na União Europeia, no Parlamento, nas escolas, nas empresas, nas autarquias, nos Tribunais, rindo e cantando, "cantando e rindo ao som das velhas trombetas".
O pior de tudo isto não é só a raiva de os querer combater e não conseguir.
O pior de tudo isto não é só a raiva de os ver à solta, pedantes, arrogantes, prepotentes.
O pior de tudo isto é vê-los do alto da sua mediocridade social, política e intelectual, arrotando sobre nós, com os olhos esbugalhados pela ganância e pelos pequenos poderes que criaram, como uma seita perigosa, muito perigosa, que subverte e manipula os mais incautos para irremediavelmente os prender nas suas garras afiadas de maléficas intenções.
O pior de tudo isto é eu continuar à espera do dia em que da revolta Justiça venha e igualdade também.
Porque eu sou aquilo que escrevo mas muito mais aquilo que penso.

Nazaré Oliveira

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Devia estar tanta gente presa!

TPC:

Partindo da análise da gravura apresentada, refira as razões pelas quais este e muitos muitos mais, continuam a ser intocáveis ou nem sequer são investigados relativamente ao poderoso património financeiro que em poucos anos construíram.


Nazaré Oliveira

Porto Porto Porto





Neste Natal vou fazer uma coisa que adoro: andar pela cidade do Porto, sorrindo às minhas ruas, aos meus jardins, às minhas livrarias, aos meus "cantos" e lugares, à minha Universidade, ao frio e ao calor das gentes, como uma mulher  feliz e contente, deslumbrada, a cada dia que passa, com o brilho do Sol e as cores da Vida.

Nazaré Oliveira

domingo, 7 de dezembro de 2014

Extrema pobreza, pobreza, fome, subnutrição







O The Economist, dia 27.11 2014, publicou  na sua edição on-line este texto, acompanhado do vídeo que aqui também apresento:

“Since 1990, the number of people defined as the world’s poorest group – living on less than $1.25 per day – has halved. But hunger levels have only gone down by a fifth. The prevailing wisdom is that to eliminate nutrition problems we had to produce more food and facilitate access to it. So now that fewer people live in extreme poverty, why haven't malnutrition rates gone down accordingly?"

O gravíssimo problema da Pobreza, da Extrema Pobreza, persiste e persistirá,  enquanto as políticas continuarem a considerar o primado da Economia sobre tudo e sobre todos e não priorizarem os problemas pela sua dimensão ética e moral e enquanto continuarem a ver o ser humano integrado numa visão claramente tecnocrática, redutora, tantas vezes maniqueísta e trucidada  por uma estatística que não tem colaborado para a resolução dos problemas, antes, os tem iludido, adiado ou sinalizado como se de uma inevitabilidade a Pobreza se tratasse.

Na nossa sociedade, particularmente a sociedade pós industrial cujas penosas consequências continuam a verificar-se no eterno e terrível diálogo Norte-Sul e no constante neocolonialismo a que têm continuado sujeitos povos martirizados, quer por ditadores locais e aspetos culturais tradicionais opressivos que continuam a impôr, quer pela continuada posição do capitalismo selvagem que, com relações internacionais à sua medida e numa clara falta de rigor e de ética política, insistem na delapidação das riquezas naturais dos que as têm mas não as conseguem rentabilizar, continuando-se o eterno problema dos países cuja população morre de fome à espera de investimentos locais e ajudas que privilegiem a sustentabilidade dos seus recursos e não o aumento da dívida externa que os consome e os destrói e a isso os obriga.

Por isso é que os números da pobreza não param de crescer ou se disfarçam em atraentes análises numérico-estatísticas que tantas vezes "separam a fome da subnutrição".
Mas o drama da fome é também o da subnutrição. Infelizmente.
Gente incompetente e insensível, esta, que tem governado quase por todo o mundo ao arrepio dos mais elementares Direitos Humanos, fingindo que isto assim não vê ou vendo mal que isto existe.

Gente cínica, políticos cínicos e cínicas políticas que continuam a não querer ver o óbvio quando o óbvio é a dor a fome e a pobreza e se arrasta dolorosamente e até silenciosamente por corpos que já não falam não gritam não mentem nem sequer já vivem.
Querer acabar com a pobreza não pode ser somente, como tem sido até aqui, pedir e recolher alimentos e distribuí-los.
Querer acabar com a pobreza é, antes de mais, querer evitá-la. Através de políticas que pugnem pela defesa inequívoca da dignidade do ser humano através do Trabalho, da Educação e da Justiça Social.
Não podemos continuar pelo mundo fora a planear sistematicamente um combate que todos conhecem mas que só alguns enfrentam com seriedade como alguns voluntários, missionários, ONGs.

Os  que mais precisam, famintos, doentes, desempregados, os sacrificados de sempre, continuarão à nossa espera nesse vasto e terrível campo de batalha que é a Pobreza. E continuarão a morrer, lentamente, até ao dia em que cairão de vez no sono eterno de uma morte injusta.



Nazaré Oliveira

sábado, 6 de dezembro de 2014

Tenho saudades tuas, Porto!


Sou e sempre serei anti-touradas


Vídeo




Subscrevo tudo o que ouvi e li!

Muito obrigada por terem colocado aqui este magnífico trabalho, este magnífico testemunho com o qual me identifico completamente.
Também sou anti touradas. Amo os animais. Sou contra a tortura, a crueldade, a pena de morte.
Magníficos seres, inocentes seres, como os touros, perversa e cinicamente  criados em liberdade para um fim de terror monstruosamente planeado  como só os sádicos e os carrascos sabem planear e fazer, loucos, embriagados ao som de olés e bravos que também nos ferem, enquanto o sangue do animal jorra, quente, ainda a fervilhar de vida, vindo das entranhas barbaramente despedaçadas pelos ferros da morte e pela arrogância do assassino que dele se abeira a sorrir.

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um abraço, José António Pinto!

José António Pinto



José António Pinto, assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã, no Porto, recebeu, esta terça-feira, uma medalha de ouro comemorativa do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Propôes trocá-la por políticas que não causem mais estrago na vida dos que deixaram de dar lucro.

«Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada, quero emprego com direitos para gerar essa riqueza, quero que a dignidade do homem seja mais valorizada que os mercados, quero que o interesse coletivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados», disse José António Pinto, após receber a medalha no Salão Nobre da Assembleia da República.

Num recado à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, o assistente social disse ambicionar «que os cidadãos deste País protestem livremente e de forma legítima dentro desta casa e que ao reivindicarem os seus direitos por uma vida melhor não sejam expulsos pela polícia das galerias deste Parlamento». 
Insistiu várias vezes que trocava a medalha por «um outro modelo de desenvolvimento económico» que dê igualdade de oportunidades a todos.
Subscrevo todas as palavras de José António Pinto. 
Ainda há gente em condições neste país. Gente que diz mas que também faz o que diz.

Ouvir aqui  http://tiny.cc/2izv7w