Continuam à solta, os vampiros
sobre os quais Zeca Afonso nos alertou, os comedores sobre os quais não resta a
menor dúvida, e que andam por aí, umas vezes disfarçados, outras vezes
descarados, rasgando a alma e os dias da gente ao som do vil metal que em seus
bolsos nojentos tilinta e de morte nos atormenta.
O dinheiro é nosso. Foi-nos
roubado.
Desapareceu dos cofres dos
Bancos para se alojar promiscuamente, corruptamente, nas mãos dos banqueiros
ou num qualquer paraíso fiscal, claro!
Banco de Portugal. Que Banco de Portugal?
Antro de malfeitorias, gente sem vergonha que isto vai consentindo,
conscientemente, enquanto se ouve o clamor de um povo com fome e sede de
justiça mas que tarda em fazê-la.
Salvam-se banqueiros mas não se
salvam os trabalhadores deste país.
Salvam-se os bancos mas não as
instituições democráticas.
Salvaguardam-se os interesses das
elites financeiras mas não se salvaguardam os
interesses do povo.
Salvaguardam-se os interesses de meia dúzia
com o sacrifício de todo um povo sistematicamente humilhado, roubado e espoliado
dos seus mais elementares direitos sociais e políticos.
Estou farta de gentalha e de
oportunistas. Estou farta de merdosos, lambe-botas, gente sem moral e sem
vergonha, gente que tresanda a hipocrisia e a corrupção, gente falsa, sorrisos falsos, falsos apertos de mão, ladrões engravatados, mulheres-bibelot, mulheres-fantoche, homens-fantoche,
gente sem princípios e de artimanhas, gente que vai sempre ao beija-mão, no Governo, na União Europeia, no Parlamento, nas escolas, nas empresas, nas autarquias, nos Tribunais, rindo e
cantando, "cantando e rindo ao som das velhas trombetas".
O pior de tudo isto não é só a raiva
de os querer combater e não conseguir.
O pior de tudo isto não é só a raiva
de os ver à solta, pedantes, arrogantes, prepotentes.
O pior de tudo isto é vê-los do
alto da sua mediocridade social, política e intelectual, arrotando sobre nós,
com os olhos esbugalhados pela ganância e pelos pequenos poderes que criaram,
como uma seita perigosa, muito perigosa, que subverte e manipula os mais
incautos para irremediavelmente os prender nas suas garras afiadas de maléficas intenções.
O pior de tudo isto é eu continuar
à espera do dia em que da revolta Justiça venha e igualdade também.
Porque eu sou aquilo que escrevo
mas muito mais aquilo que penso.
Nazaré Oliveira