segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vampiros à solta



Continuam à solta, os vampiros sobre os quais Zeca Afonso nos alertou, os comedores sobre os quais não resta a menor dúvida, e que andam por aí, umas vezes disfarçados, outras vezes descarados, rasgando a alma e os dias da gente ao som do vil metal que em seus bolsos nojentos tilinta e de morte nos atormenta.
O dinheiro é nosso. Foi-nos roubado.
Desapareceu dos cofres dos  Bancos para se alojar promiscuamente, corruptamente, nas mãos dos banqueiros ou num qualquer paraíso fiscal, claro!
Banco de Portugal. Que Banco de Portugal? Antro de malfeitorias, gente sem vergonha que isto vai consentindo, conscientemente, enquanto se ouve o clamor de um povo com fome e sede de justiça mas que tarda em fazê-la.
Salvam-se banqueiros mas não se salvam os trabalhadores deste país.
Salvam-se os bancos mas não as instituições democráticas.
Salvaguardam-se os interesses das elites financeiras mas não se salvaguardam os
interesses do povo.
Salvaguardam-se os interesses de meia dúzia com o sacrifício de todo um povo sistematicamente humilhado, roubado e espoliado dos seus mais elementares direitos sociais e políticos.
Estou farta de gentalha e de oportunistas. Estou farta de merdosos, lambe-botas, gente sem moral e sem vergonha, gente que tresanda a hipocrisia e a corrupção, gente falsa, sorrisos falsos, falsos apertos de mão, ladrões engravatados, mulheres-bibelot, mulheres-fantoche, homens-fantoche, gente sem princípios e de artimanhas, gente que vai sempre ao beija-mão, no Governo, na União Europeia, no Parlamento, nas escolas, nas empresas, nas autarquias, nos Tribunais, rindo e cantando, "cantando e rindo ao som das velhas trombetas".
O pior de tudo isto não é só a raiva de os querer combater e não conseguir.
O pior de tudo isto não é só a raiva de os ver à solta, pedantes, arrogantes, prepotentes.
O pior de tudo isto é vê-los do alto da sua mediocridade social, política e intelectual, arrotando sobre nós, com os olhos esbugalhados pela ganância e pelos pequenos poderes que criaram, como uma seita perigosa, muito perigosa, que subverte e manipula os mais incautos para irremediavelmente os prender nas suas garras afiadas de maléficas intenções.
O pior de tudo isto é eu continuar à espera do dia em que da revolta Justiça venha e igualdade também.
Porque eu sou aquilo que escrevo mas muito mais aquilo que penso.

Nazaré Oliveira