domingo, 30 de junho de 2013

Estou farta destes ajustamentos!



“The Last Judgment” by Hieronymus Bosch, c. 1482

Fazem da nossa vida um jogo, um jogo de vida ou de morte, uma roleta russa, pelas manipuláveis e constantes intervenções na política económica e financeira que fazem, perfeitamente insensíveis à brutalidade das consequências que têm causado e nos vão destruindo como pessoas, cidadãos, como país soberano.

Posicionados sempre e só na mira da famigerada  avaliação do programa de ajustamento português, a troika quer lá saber das pessoas ou do país! A troika, a Comissão Europeia e, pior do que isso, o nosso governo.


O défice orçamental de 5,5% do PIB previsto para este ano, depois da revisão da sétima avaliação, depende da completa aplicação das medidas de austeridade, refere a Comissão, e por isso qualquer perturbação complicará o objetivo.
Qualquer perturbação? Não se vê cada vez mais fome e miséria em Portugal? É preciso mais perturbação do que aquela a que vimos assistindo? Que precisa mais esta gente para entender que se abeirou do abismo e nele cairá, inevitavelmente, se não mudar de rumo e de orientadores desse rumo?
Recorde-se que há dias, no Parlamento, Vítor Gaspar revelou que o défice no primeiro trimestre poderá ter ficado acima de 10% devido à inclusão da injeção de capital público no Banif e que, para atingir as metas orçamentais em 2013 e 2014, o governo terá que avançar com medidas no valor de 4700 milhões de euros (2,8% do PIB), das quais cerca de 1200 milhões já este ano. É nesta parcela que estão algumas das medidas em relação às quais Bruxelas pretende que haja alguma certeza jurídica para evitar novas decisões desfavoráveis do Tribunal Constitucional que chumbou artigos dos Orçamentos do Estado de 2012 e 2013.
Uma loucura esta máquina perversa que nos trucida de fora e à qual os políticos que nos governam respondem, de qualquer modo e a qualquer preço, sacrificando os trabalhadores, destruindo a classe média, os setores produtivos nacionais, desmotivando toda uma geração que deles esperava o esforço e o empenho de negociações e restruturações da dívida que não conduzissem ao que afinal conduziram: a dependência dos grandes da CE aos quais servimos acriticamente numa relação de claro e feroz servilismo, como se os ditos pilares da União Europeia já não existissem ou como se os objetivos que levaram à dita CEE/Europa Unida fossem, agora, letra morta, face a uma diplomacia comunitária cada vez mais cínica que secundariza sobretudo os países do Sul, como, afinal, quase sempre aconteceu.
Estão em causa, entre outras coisas, diplomas relacionados com a mobilidade especial dos funcionários públicos ou cortes nas pensões através da convergência entre o regime geral com a CGA ou a chamada TSU dos pensionistas.
Estão em causa, digo eu, direitos inalienáveis e a nossa soberania e a resposta só pode ser uma: o inconformismo que à luta nos deve levar.
À luta através de greves, manifestações, intervenções nas redes sociais, ao nosso testemunho no dia-a-dia que, afinal, por mais diversificado que seja, é a prova da força das nossas convicções e da nossa determinação em mudar o rumo da política deste país e até da Europa.
Segundo o jornal de Negócios de 28 deste mês, o Parlamento Europeu tem em estudo a criação de uma comissão que investigue a atuação da troika. A iniciativa surge numa tentativa de aumentar um escrutínio democrático na zona euro, podendo estar para breve a criação de uma comissão de inquérito à mesma, que é composta pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.
Já tarda!
Isto tem sido uma loucura mas não tem que continuar a ser.
Nem a loucura nem os loucos que dela padecem!

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Estado terrorista



Honoré Daumier - A Revolta (1860)


Já não se aguenta a situação a que chegou o país e a humilhação que continua a fazer-se a quem do seu trabalho vive, a custo vive e mal se aguenta até na luta, não fosse a decência e a dignidade pelas quais vale sempre a pena lutar.

Mais do que um direito adquirido e até de um dever, a greve é um grito de revolta, o culminar da indignação de um povo espezinhado, roubado, há muito ofendida pelos diversos partidos no poder que do seu voto se têm apropriado para, descarada e criminosamente infringirem a Constituição e dela se servirem para benefício do clientelismo partidário ou dos compadrios financeiros, agora, em nome da troika e da desumana austeridade que em desumana servidão se tornou para a grande maioria do nosso povo. E a resposta tem de continuar a ser frontal, séria, inequívoca, oportuna, mas mais forte e mais coesa.

Tem de haver mais Rua, mais força, mais coragem, mais gritos em uníssono clamando justiça social, pão, salário decente para uma vida decente, igualdade, respeito pelos direitos legitimamente conquistados, o fim das impunidades, da corrupção, dos carrascos da democracia e do terrorismo político de que temos sido alvo.

Tem de haver mais insubmissão, mais insubmissos, mais indignação e mais indignados, mais Portugal e menos Europa, mais Política e menos Economia, mais Povo, mais ação e menos silêncios, mais exigência e mais seriedade. Em tudo.

O Estado de Direito, o Estado Democrático, não pode continuar a ser-nos negado por um grupo de instalados no poder que falsearam o juramento de lealdade para com o país quando pelo sufrágio popular para a ação governativa foram investidos.
Falharam o compromisso que aos sete ventos propagandearam em campanhas eleitorais de má memória. Quebrou-se a confiança.

Escandalosamente e com uma insensibilidade política que jamais alguém pensara vir a acontecer, continuam a arrastar a grande maioria do nosso povo para o abismo, obstinadamente apostados numa austeridade sem dó nem piedade, preocupados com a troika, sim, mas não com o país.

“O país não está parado”, afirmara o ministro da Presidência, Marques Guedes no final da reunião do Conselho de Ministros, reportando-se à greve geral do passado dia 27.

Não está parado? Não está parado mas ficará de vez se se continuarem as políticas de empobrecimento constante da grande maioria dos portugueses, com o roubo dos salários, aumento de impostos, falta de investimento, falta de incentivo à produção nacional, falências constantes de pequenas e médias empresas e o futuro penhorado para centenas e centenas de jovens que continuam a ser enganados ao longo da sua escolaridade e formação académica, pois o desemprego os esperará apesar do discurso demagógico do empreendedorismo e da inovação empresarial que este governo apregoa.

Estou farta de cinismo na Política e da verborreia arrogante de uma classe de parasitas que nos invadiu.

Temos que os combater, tal como as pragas.

Como disse, e bem, o Professor António Nóvoa, em tempos tão duros ninguém tem o direito de ficar em silêncio.

 

Nazaré Oliveira

domingo, 16 de junho de 2013

Greve dos Professores


 
A Greve dos professores é um acto de civilização

 
Um sistema educativo constituído por trabalhadores precários, caixeiros-viajantes desumanizados, sobrecarregados de burocracia, com parcos descontos para a segurança social, pondo em causa a vida digna dos que já estão reformados. Professores que ainda tinham direitos, entre os 40 e 60 anos, enviados para um gigante despedimento colectivo ou reformas antecipadas. Turmas atascadas de crianças mal-educadas, seleccionadas para o lixo do «ensino profissional», um eufemismo para saber usar um computador e dizer umas palavras de inglês para uns turistas verem, mantendo a força de trabalho criteriosamente adequada à desordem de um país baseado em baixos salários e exportações. Eis o cenário que os nossos professores estão com esta greve a combater. Não podemos ver nesta greve nada a não ser um acto de civilização, em defesa do bem-estar colectivo.

Para os historiadores, sociólogos do trabalho, afirmar que a greve prejudica tem o mesmo significado que afirmar que a chuva molha. Porque a greve, proibida durante tantos anos e conquistada com mortos e feridos, só é greve se prejudicar a produção, neste caso, a formação da força de trabalho. Sabemos, e não podemos deixar de lembrar aos que hoje trabalham, que a greve é-o porque pára a produção mas também porque pode criar mecanismos de solidariedade, criar fundos de greve (para suportar vários dias de greve), democratizar as estruturas de organização dos trabalhadores (plenários de escolas, assembleias abertas, dirigentes com cargos rotativos); a greve pode também mobilizar outros sectores de trabalhadores à sua volta – foi tudo isto que aconteceu no ano passado em Chicago, nos EUA, naquela que foi a mais importante, e vitoriosa, greve de professores, quando vários bairros de Chicago se mobilizaram, com fundos e acções em defesa dos professores.

A palavra desemprego hoje carrega este significado – os desempregados pressionam os salários dos que estão empregados para baixo, fazem-nos aceitar piores condições laborais.

Argumentei no último livro que coordenei que a estratégia da troika consiste, primordialmente, em reconverter o mercado de trabalho. Como? Transformar todos os trabalhadores do país em trabalhadores precários, isto é, pôr fim ao direito ao trabalho substituído por um estado em que se alterna entre a precariedade e o assistencialismo, os «rendimentos mínimos», quando se fica desempregado.

Um precário ganha em média menos 37%, se for formado menos 900 euros, se não for formado menos 300 euros. Há um número cada vez maior de pessoas eliminadas do mercado de trabalho – num processo de eugenização social da força de trabalho - mas o número dos que voltam ao mercado de trabalho ganhando muito menos aumenta também. Quer isto dizer que, tendencialmente, quem consegue voltar ao mercado de trabalho volta com um salário inferior. Por isso vivemos num país onde há cada vez mais gente desempregada e cada vez mais gente a ganhar o salário mínimo, salário mínimo que é a palavra mágica que contém em si (quase) tudo – bairros sociais degradados, má educação, brutalidade, violência, má alimentação, fome, apatia social.

Nenhum aluno será prejudicado se esta greve sair vencedora e conseguir o que pode, e está ao seu alcance:  reduzir o horário de trabalho, empregar mais professores, estender e melhorar a sua formação nas universidades (ampliar de novo os cursos superiores), devolver aos cursos de educação uma forte componente científica, dignificar o trabalho com salários decentes, acabar com o terror do medo de perder o emprego, diminuir o número de alunos por turma, impor o respeito pelos professores, por parte dos alunos e por parte de todos nós como sociedade – a reboque garantimos a sustentabilidade da segurança social porque com relações laborais protegidas e emprego os descontos para esta aumentam.

O que impressiona nesta greve não é que ela prejudica os alunos. É que ela é o derradeiro acto para salvar os alunos, uma geração inteira «queimada» por um Governo que nada tem para lhes oferecer a não ser um salário baixo ou um passaporte para a emigração, para países que, ao contrário dos anos 60, também eles estão a braços com desemprego crescente!

Vivemos abaixo das nossas possibilidades. Hoje um trabalhador, por força do desenvolvimento tecnológico, é 5,35 vezes mais produtivo do que em 1961, mais de 430% mais produtivo! Isso significa que produzimos riqueza social suficiente para ter turma de 10, 15 alunos, escolas amplas com espaços verdes, espaços de brincadeira, funcionários bem pagos e atentos; professores bem formados em cursos com extensão universitária de 5 ou 7 anos; aprendizagem de instrumentos musicais, teatro…

Esta greve aos exames defende a dignidade laboral de quem vê no acto educativo um acto de construção da civilidade, da educação, da candura, do amor a aprender, do respeito pelo outro, da ciência como meio de emancipação humana.

 Posted on Junho 16, 2013 por Raquel Varela

O paleio de Couto dos Santos

Este Sr. Couto dos Santos... Só paleio! Fala à boca cheia de números e esquece-se das pessoas e, pior ainda, esquece-se da porcaria que fez há anos e que para a situação a que chegou a Escola Pública atualmente também contribuiu. Coitado! Manias não lhe faltam e arrogância também, e isto, sem falar da sua ignorância relativamente aos professores e à sua luta. Seriedade, meu senhor! Informe-se mas BEM!





domingo, 9 de junho de 2013

Peço desculpa por querer defender o meu emprego

 


 
Sou professor há quase 20 anos e ganho 1300 euros por mês. Não me queixo, há quem ganhe muito menos. A minha mulher, também professora, está desempregada. O seu subsídio de desemprego, que está quase a acabar, é de 380 euros. Pago casa ao Banco e tenho duas filhas pequeninas.

Tenho mais de 40 anos. Se neste momento for despedido pelo Ministério da Educação e ficar sem emprego, não sei como vou sobreviver. Eu e as minhas filhas. Com esta idade, quem é que me dá trabalho?

É por isso que vou fazer greve no dia 17 de Junho e nos outros dias. Porque estou a
lutar pelo meu emprego, pela minha sobrevivência.

No fundo, resume-se a isto. Podia apresentar mil argumentos, mas o principal é este. E não venham falar dos alunos e de como vão ser prejudicados. Adoro os meus alunos. São muitíssimo importantes para mim, mas as minhas filhas são mais importantes do que eles. E são as minhas filhas e o seu futuro que estão em causa neste momento.

Se me dissessem que eu não fazia falta, ainda podia repensar a minha posição. Mas se o número de alunos no sistema acaba de aumentar muitíssimo, com o alargamento da escolaridade obrigatória para o 12.º ano, como é que podem dizer que eu não faço falta se até agora sempre fiz? Se há milhares de professores que foram para a reforma, sem que tenha entrado ninguém de novo, como é que é possível que eu não seja necessário ao sistema?

Aumentando as turmas para 30 alunos ou mais? Fazendo ainda mais fusões e mega-agrupamentos?

Obrigando os alunos a deslocações cada vez maiores? Negando
o pequeno-almoço nas escolas aos que mais precisam? É isso que querem para os vossos filhos?

E
as promessas do primeiro-ministro de que os professores efectivos não irão para a mobilidade para mim valem zero. Eu não sou efectivo numa escola, sou Quadro de Zona Pedagógica e, vai-se a ver, afinal era só mesmo dos efectivos que o presidente do conselho estava a falar.

A palavra de Pedro Passos Coelho, para mim, vale zero.

Porque é um cidadão sem palavra, sem honra, sem espinha.

Sim, vou fazer greve. Peço desculpa por querer defender o meu emprego.

 

 03/06/2013 - Por Ricardo Ferreira Pinto

(retirado do blogue Aventar)