terça-feira, 9 de agosto de 2016

Alterações Climáticas - todos somos responsáveis



As mudanças climáticas são a maior ameaça ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais a várias áreas da sociedade: económica, social e ambiental.

Todos nós, sem excepção, estamos a ser afectados por esta questão: cidadãos comuns, empresas, governos, economias e, mais importante de todos, a natureza.
Mudanças climáticas sempre foram registadas ao longo dos milhares de anos que o planeta Terra tem. O problema prende-se com o facto de, no último século, o ritmo entre estas variações climáticas ter sofrido uma forte aceleração e a tendência é que tome proporções ainda mais caóticas se não forem tomadas medidas.
A ocorrência de ondas de calor e secas são fenómenos cada vez mais frequentes, e as consequentes perdas agrícolas representam uma ameaça real para as economias mundiais.
No cerne destas mudanças estão os chamados gases de efeito estufa, cujas emissões têm sofrido um aumento acentuado. O CO2 (dióxido de carbono) é o principal gás negativo desses designados de efeito estufa, e são consequência directa do uso/queima de combustíveis fósseis como o carbono, o petróleo e o gás com fins de produção energética.
É, por isso, imprescindível reduzir as emissões deste tipo de gases.Como? Eliminando, progressivamente, o uso massivo dos combustíveis fósseis, substituindo-os pelas energias renováveis, fomentando a poupança de energia e eficiência energética.
actividade humana foi apontada, em 2007, por cientistas especializados nesta área e reunidos sob o Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas, como sendo a principal causa destas mudanças do clima.
Ao mantermos uma atitude inerte e apática perante esta questão, corremos o risco de sermos expostos a eventos climáticos extremos e imprevisíveis (como os que têm vindo a ser noticiados nos últimos tempos) e com efeitos nefastos para todo o mundo!
A temperatura, no século passado, registou um acréscimo de 0,76ºC. A previsão é que no presente suba entre 1,1 a 6,4ºC, dependendo das medidas mitigadoras que sejam encetadas.
Este incremento da temperatura média tida como normal em mais 2ºC pode induzir respostas céleres, imprevistas e não-lineares que podem desencadear danos irreversíveis nos ecossistemas terrestres.



in http://www.wwf.pt/o_nosso_planeta/alteracoes_climaticas/

sábado, 6 de agosto de 2016

Eye of the Leopard



Adorei este filme!
Magnífico trabalho!



 Eye of the Leopard follows the remarkable life of one small leopard from when she is just 8 days old every step of the way until she is 3 years old and on the brink of adulthood. Legadema, as she is named, works her way into your heart as she slips in and out of danger virtually every day, running from baboons and hyenas but also making landmark strides in hunting and surviving. Narrated by Jeremy Irons it is the story of a mother and daughter relationship as well as that of an emerging huntress in Botswana’s magnificent Mombo region of the Okavango Delta.

“An extraordinary film about one of the world’s most amazing cats.”
- Charlie Gibson, ABC Nightly News

“You always seem to be just in the right pace at the right time!”
- Victoria Maberly ABC Nightline

Mais informações em http://www.wildlifefilms.co/eyeoftheleopard/



O Islão e o Ocidente - A grande discórdia



O ataque ao semanário Charlie Hebdo, em 7 de Janeiro, moveu e comoveu mais os europeus do que as mulheres escravizadas ou massacradas do Boko Haram na Nigéria, do que os egípcios coptas decapitados ritualmente, do que os cristãos crucificados às centenas no Iraque e na Síria.
De onde vem toda esta desalmada violência, esta orgia de sangue e exibicionismo, a lembrar cenas da Antiguidade, limites da perversidade humana?
Quem são os seus autores? Em que acreditam, o que querem e a que reagem? Alguém os comanda?
De que fundas histórias e raízes vêm tão complexas divisões e seitas? Onde está a realidade e onde está o mito? Onde está a verdade e onde está o cliché?


Islão e o Ocidente - A Grande Discórdia

Autor: Jaime Nogueira Pinto

Editora Dom Quixote

«Direito a Viver sem Mutilação Genital Feminina» – Nova Campanha







Esta campanha é uma iniciativa conjunta do Governo, em parceria com várias entidades públicas e privadas, designadamente com a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) e enquadra-se no III Programa de Ação para Prevenção e Eliminação da Mutilação Genital Feminina 2014-2017, coordenado pela CIG.

A mutilação genital feminina (MGF) é uma forma de violência física e psicológica e uma violação dos direitos humanos de meninas e mulheres. 

Dizer não é um direito e um dever. 

Mutilação Genital Feminina não é tradição, não é cultura. É CRIME.

Sei que é muito difícil de ver (e sentir) mas, por favor, divulguem também este vídeo que publico a seguir, sobre essa prática horrenda, bárbara, que mutila meninas e mulheres em nome de tradições cruéis.

Temos que combater todas as tradições que sejam cruéis, que tortura, mutilam, matam, seja com pessoas (ou animais).

As tradições devem positivas, ser sinal de satisfação e alegria e não de MORTE e SOFRIMENTO.





sexta-feira, 5 de agosto de 2016

PSD ao serviço do lobby tauromáquico




intervenção na AR do deputado Nuno Serra PSD 



Foi assim a intervenção do deputado do PSD, Nuno Serra que, ao serviço do lobby tauromáquico, saiu em defesa das famílias de ganadeiros ao dizer que os anti-touradas perseguem essas famílias privilegiadas pelo Estado português, as quais vivem à custa dos impostos que a esmagadora maioria dos portugueses paga com grande sacrifício, num tempo em que o nosso pobre país está à míngua na área da Saúde, da Educação, do Ensino e daquela Cultura que eleva o Ser Humano.

Quanta falácia, senhor Nuno Serra, ao acusar o PAN, o BE e o PEV de “perseguirem” os aficionados de touradas por “preconceito ideológico” e sugerir-lhes que defendam o corte de subsídios a filmes violentos para com as pessoas, confundindo “filme” com “cruel realidade”, como se as touradas fossem uma ficção, como se ao defenderem as touradas não estejam a esmagar a sensibilidade de milhares de portugueses a quem dói a tortura de um animal, que é um animal como qualquer um de nós.

Nesta matéria ninguém persegue ninguém. E muito menos por preconceito ideológico. Aqui defende-se o direito à Vida, extensivo a todos os animais portugueses, sejam humanos ou não humanos. Nós limitamo-nos a denunciar o vosso vergonhoso servilismo a uma minoria que cria Touros, com o único objectivo de os torturar e matar para satisfazer um mero prazer mórbido, com o dinheiro dos nossos impostos.

E isto é imoral. É um insulto á inteligência dos portugueses. É uma agressão ao bom senso. É um modo vil de fazer política.

Naquela quarta-feira de má memória (dia 20 de Junho de 2016) o PSD, CDS/PP, PCP e o PS (à excepção dos socialistas Eurico Brilhante Dias, Paulo Trigo Pereira, Alexandre Quintanilha, António Sales, António Cardoso e Filipe Neto Brandão) chumbaram os projectos de lei do PAN, BE e PEV que proibiam a utilização de dinheiros públicos ou o financiamento público directo ou indirecto ou ainda o apoio institucional à realização de touradas ou iniciativas que inflijam sofrimentos inúteis ou provoquem a morte de animais não humanos, para divertir os sádicos.

O PAN, o BE e o PEV na intervenção que fizeram criticaram, e muito bem, o aspecto “bárbaro e a violência brutal e explícita” da actividade tauromáquica (à qual me recuso a chamar “espectáculo”, por ser um insulto à Arte) bem como a “insensibilidade” de quem participa nessas actividades, de quem a promove, a aplaude ou a apoia financeira ou institucionalmente.

Um Estado que se preze não pode servir-se do dinheiro dos contribuintes para servir o lobby tauromáquico e com isso promover actividades que se baseiam na violência e na crueldade para com indefesos animais sencientes.

Têm a noção de que a prática desses actos bárbaros contra animais sencientes não humanos são semelhantes aos praticados contra uma criança humana?

E isto é do foro das aberrações. E inadmissível, em pleno terceiro milénio depois de Cristo. Mas o mais curioso é que nem no terceiro milénio antes de Cristo, os homens que então povoavam a Terra, tinham tão baixos e tão cruéis instintos.

Os deputados da direita, onde podemos incluir os do PS (à excepção dos já referidos deputados) e os do PCP (que se dizem de esquerda, mas para o ser têm de parecer) apresentaram aqueles argumentos do costume, baseados numa mentira apregoada há séculos e que, para as mentes empancadas, soa como uma verdade, de tanto a repetirem, e de tanto se recusarem a ver o óbvio:

1 - “Tradição cultural”, esquecendo-se de que a tauromaquia não é uma tradição (as tradições dignificam o Homem); é apenas um costume bárbaro, sanguinário, perverso, e muito menos é cultural, pois de cultura, a tortura de um ser vivo nada tem, a não ser que falemos da “cultura dos broncos”;

2 - “Factores identitários regionais”, como se a tortura fosse algo que pudesse “identificar” um povo civilizado. Se falamos de terriolas com um descomunal atraso civilizacional, aí sim, é com toda a certeza, um factor identitário desse atraso.

3 – “Valores estéticos”. Saberão os deputados da nação os que são valores estéticos? Estaremos a falar de harmonia e beleza? Poderá na sangrenta tauromaquia, nos gritos dos Touros e dos Cavalos (abafados pelos “Passe Doble”) haver beleza e harmonia? Só um sádico poderá ver beleza no sofrimento atroz de um animal.

4 - “Questões turísticas e económicas”. Turísticas? Ainda haverá alguém em Portugal que ache (porque pensar não sabem) que um turista (refiro-me dos turistas a sério, não nos “turistas de garrafão”, sempre os mesmos, que se deslocam nos autocarros camarários, até às terriolas tauricidas, para fazer de conta que enchem as arenas) visita um país como Portugal e gasta o seu rico dinheirinho para ver torturar animais? Só mesmo os alienados acham que sim. E quanto à “economia” os únicos que ganham dinheiro com isto são os ganadeiros e quem os apoiam, e mesmo assim já estão a ver-se aflitos. Por isso, desesperam pelos subsídios estatais.

Joana Lima, deputada do PS, defendeu ser a tauromaquia uma actividade “lícita” e “devidamente regulamentada”, esquecendo-se que isso não significa que tal actividade não seja altamente reprovável à luz da Razão, da Ética, da Civilização, da Cultura Culta, até porque essas vergonhosas licitude e regulamentação provém da aprovação de legisladores subservientes ao lobby tauromáquico.

E quanta falácia essa de dizer que e a proibição às autarquias de financiarem esta actividade seria uma “interferência na autonomia do poder local” por parte da Assembleia da República! Quantas vezes a AR não interferiu na autonomia do poder local, noutras questões? Ou a senhora Joana Lima acha que somos todos parvos?

Vânia Dias da Silva, deputada do CDS/PP, por sua vez, falou em “intolerância” e de tentativa de “cercear as liberdades” através de políticas proibicionistas, como se proibir a tortura de seres vivos não fosse o dever de qualquer governante bem-intencionado e que zelasse pelos reais interesses de uma Nação, se a quisesse ver no rol dos países evoluídos!

Por fim, o PCP, através da deputada Ana Mesquita fazendo política de direita, deu-lhe para recordar os exemplos de “tradições” tauromáquicas classificadas como património, como a capeia raiana (património da estupidez, refira-se), de um tempo onde imperava o obscurantismo e a mais profunda ignorância, e chegou até a defender esta coisa inacreditável: a necessidade de “aprofundamento do debate sobre as alternativas”.

Quais alternativas? Qual aprofundamento? Qual debate?

Não há nada que aprofundar. Não há nada que debater. Não há nada para alternar (os ganadeiros que emigrem ou vão trabalhar no campo para ter o que comer).

A única alternativa aceitável é abolir esta prática primitiva de broncos, para broncos, que não dignifica Portugal.

Porque a tauromaquia é simplesmente a arte dos brutos.

E para quem não gosta da palavra bronco, devo dizer que é um vocábulo bem português e significa: tosco, grosseiro, obtuso, rude, boçal, incivilizado, inculto, cruento…


E tudo isto, na verdade, aplica-se à tauromaquia, uma prática tosca, grosseira, obtusa, rude, boçal, incivilizada, inculta, cruenta, que a maioria dos deputados da Nação defende, demonstrando a monumental mediocridade que paira sobre o Palácio de São Bento (e isto para ser delicada).




Isabel Ferreira no seu blogue http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/tag/tauromaquia




Já agora, vejam isto: 
http://www.vidanimal.org/corte-dos-subsidios-a-tauromaquia-saiba-como-votaram-os-eurodeputados-portugueses/


Rochas, mar e sol do Portinho da Arrábida

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sábado, 30 de julho de 2016

David Harvey: O neoliberalismo é um projeto político



Perante uma ameaça global ao seu poder, a classe capitalista corporativa reconheceu que tinha que lutar para travar o poder da classe trabalhadora por quaisquer meios possíveis. 


David Harvey sobre o que é o neoliberalismo exatamente – e porque o conceito é importante. Há onze anos atrás David Harvey publicou O Neoliberalismo. História e Implicações [A Brief History of Neoliberalism], agora um dos livros mais citados sobre a questão. Os anos desde então têm testemunhado novas crises económicas e financeiras, mas também novas ondas de resistência que frequentemente têm como alvo o “neoliberalismo” na sua crítica de sociedade contemporânea.
Cornel West fala do movimento Black Lives Matter como “um julgamento de poder neoliberal”; o falecido Hugo Chávez chamava o neoliberalismo de “caminho para o inferno”; e os líderes sindicais estão cada vez mais a usar o termo para descrever o ambiente mais amplo no qual ocorrem lutas laborais. Os mediamainstream também adotaram o termo só para argumentar que o neoliberalismo realmente não existe.
Mas de que, exatamente, estamos a falar quando falamos de neoliberalismo? É um útil alvo para os socialistas? E como ele tem mudado desde a sua génese no fim do século XX?
Bjarke Skærlund Risager, um doutorando no Departamento de Filosofia e História das Ideias na Universidade Aarhus, sentou-se com David Harvey para discutir a natureza política do neoliberalismo, como tem transformado modos de resistência, e porque a esquerda ainda precisa de ser séria sobre a necessidade de acabar com o capitalismo.
Neoliberalismo é um termo amplamente usado hoje em dia. Porém, frequentemente não está claro ao que se refere quando as pessoas o usam. No seu uso mais sistemático, pode referir-se a uma teoria, um grupo de ideias, uma estratégia política ou um período histórico. Pode começar por explicar como entende o neoliberalismo?
Sempre tratei o neoliberalismo como um projeto político feito pela classe capitalista corporativa porque esta sentia-se intensamente ameaçada politica e economicamente no fim dos anos 1960 e durante os anos 1970. Desesperadamente queria lançar um projeto político que travasse o poder da classe trabalhadora.
Em muitos aspetos, o projeto era contrarrevolucionário. Conteria o que, na época, eram movimentos revolucionários no mundo em desenvolvimento – Moçambique, Angola, China, etc. – mas também uma maré crescente de influências comunistas em países como Itália e França e, em menor grau, a ameaça de um ressurgimento do que aconteceu em Espanha.
Mesmo nos Estados Unidos, os sindicatos produziram um congresso Democrata que era radical nas suas intenções. No começo dos anos 1970, juntamente com outros movimentos sociais, forçaram uma série de reformas e iniciativas reformistas que punham em causa os interesses dos grandes grupos empresariais: a Agência de Proteção Ambiental (EPA), a Administração de Saúde e Segurança Ocupacional (OSHA), proteções para consumidores, e um conjunto inteiro de questões que empoderavam a classe trabalhadora como esta nunca tinha sido empoderada antes.
Nesta situação, houve, de facto, uma ameaça global ao poder da classe capitalista corporativa e, portanto, a questão era: “o que fazer?” A classe dominante não era omnisciente, mas reconheceu que existiam várias frentes nas quais tinha que lutar: a frente ideológica, a frente política, e, acima de tudo, tinha que lutar para travar o poder da classe trabalhadora por quaisquer meios possíveis. Disso, surgiu o projeto político que eu chamaria neoliberalismo.
Pode falar um pouco sobre as frentes ideológicas e políticas e os ataques contra a classe trabalhadora?
A frente ideológica consistia em seguir o conselho de um homem chamado Lewis Powell. Ele escreveu um memorando no qual dizia que as coisas estavam a ir longe demais, que o capital precisava de um projeto coletivo. O memorando ajudou mobilizar a Câmara de Comércio e a Mesa de Negócios [Business Roundtable, a associação de executivos das maiores corporações dos Estados Unidos].
As ideias também eram importantes à frente ideológica. A conclusão na época era que era impossível controlar as universidades porque o movimento estudantil era forte demais e os docentes demasiado progressistas, então fundaram think tanks como o Manhattan Institute, a Heritage Foundation, a Ohlin Foundation. Esses think tanks trouxeram as ideias de Freidrich Hayek e Milton Friedman e a economia pelo lado de oferta.
A ideia era esses think tanks fazerem pesquisas sérias e alguns fizeram – por exemplo, a Agência Nacional de Pesquisa Económica (NBER) foi uma fundação privada que fez pesquisa extremamente boa e extensiva. Essas pesquisas seriam publicadas independentemente e influenciariam a imprensa e, pouco a pouco, cercaria e infiltrariam as universidades.
Esse processo demorou muito tempo. Penso que chegamos a um ponto em que não é mais necessária a Heritage Foundation. As universidades basicamente foram conquistadas pelos projetos neoliberais.
Em relação à classe trabalhadora, o desafio era fazer o trabalho “doméstico” competitivo com o trabalho global. Uma das formas era abrir a imigração. Nos anos 1960, por exemplo, os alemães estavam a importar trabalhadores turcos, os franceses trabalhadores do Magreb, os britânicos trabalhadores das colónias. Mas isso criou muito insatisfação e perturbação.
Em vez disso, escolheram uma outra maneira: levar o capital para onde a mão-de-obra barata estava. Mas para a globalização funcionar, tinha que reduzir tarifas e fortalecer o capital financeiro, pois o capital financeiro é a forma mais móvel do capital. Então, capital financeiro e coisas como a livre flutuação de moedas tornaram-se pontos críticos ao projeto de travar a classe trabalhadora.
Ao mesmo tempo, projetos ideológicos de privatizar e desregular a economia criaram desemprego. Então, desemprego no país e transferência de  empregos para fora do país, e um terceiro componente: mudança tecnológica, desindustrialização através de automação e robotização. Essa era a estratégia de esmagar a classe trabalhadora.
Foi um atentado ideológico, mas também um atentado económico. Para mim, neoliberalismo era sobre isso: era um projeto político, e acho que a burguesia e a classe capitalista corporativa colocaram em prática pouco a pouco.
Não creio que começaram por ler Hayek ou algo do género, creio que intuitivamente diziam: “Temos que esmagar a classe trabalhadora e como fazemos?” E encontraram uma teoria legitimadora existente que apoiaria esse objetivo.
Desde a publicação do O Neoliberalismo. História e Implicações [em inglês] em 2005, muito já foi escrito sobre o conceito. Parece que tem dois campos: estudiosos mais interessados na história inteletual do neoliberalismo e pessoas que se preocupam com o “neoliberalismo atualmente existente”. Onde se encaixa?
Há uma tendência nas ciências sociais, que tendo a resistir, para procurar uma teoria singular das coisas. Então há uma ala de pessoas que dizem que o neoliberalismo é uma ideologia e escrevem uma história idealista dele.
Um exemplo disso é o argumento de governabilidade de Foucault que vê as tendências de neoliberalismo já presentes no século XVIII. Mas se você vê o neoliberalismo como uma ideia ou um conjunto de práticas limitadas de governabilidade, vai encontrar vários precursores.
O que falta aqui é perceber a maneira pela qual a classe capitalista orquestrou os seus esforços durante os anos 1970s e os primeiros anos da década de 1980. Acho justo falar que na época – no mundo inglês, pelo menos – os capitalistas corporativos se tornaram unificados.
Eles concordaram entre si sobre muitas coisas, como a necessidade de uma força política para os representar. Então, deu-se o controlo do Partido Republicano e uma tentativa de minar, até certo grau, o Partido Democrata.
A partir dos anos 1970s, o Supremo tribunal tomou muitas decisões que deixaram a classe capitalista corporativa comprar as eleições mais facilmente que no passado.
Por exemplo, surgem reformas de financiamento de campanhas que trataram as doações às campanhas como uma forma de livre expressão. Há uma longa tradição nos Estados Unidos de capitalistas corporativos comprarem eleições, mas agora essa prática foi legalizada ao invés de ser considerada como corrupção escondida.
Em geral, penso que esse período foi definido por um movimento amplo numa série de frentes, ideológicas e políticas. E a única maneira de explicar aquele movimento amplo é reconhecer o relativamente alto grau de solidariedade da classe capitalista corporativa. O capital reconheceu o seu poder numa tentativa desesperada de recuperar a sua riqueza económica e a sua influência, que tinham diminuíram a partir do fim dos anos 1960 e continuaram assim nos anos 1970.
Houve numerosas crises desde 2007. Como a história e o conceito de neoliberalismo nos ajudam a entendê-las?
Houve poucas crises entre 1945 e 1973; houve alguns momentos sérios, mas nenhuma crise grande. A viragem para políticas neoliberais ocorreu no meio da crise dos anos 1970, e o sistema inteiro tem sofrido uma série de crises desde então. E, é claro, crises produzem as condições de futuras crises.
Em 1982-1985, houve uma crise de endividamento no México, Brasil, Equador e basicamente todos os países em desenvolvimento, inclusive Polónia. Em 1987-1988, teve a grande crise nas instituições de poupança e crédito nos Estados Unidos. Teve uma crise ampla na Suécia em 1990 e todos os bancos tiveram que ser nacionalizados.
Então, certamente temos a Indonésia e Ásia Sudeste em 1997-1998, depois a crise mudou para a Rússia, Brasil e atingiu a Argentina em 2001-2002.
E existiram problemas nos Estados Unidos em 2001 que foram resolvidos tirando dinheiro da bolsa de ações e colocando-o no mercado imobiliário. Em 2007-2008, o mercado imobiliário implodiu, então deu-se a crise aqui.
Pode olhar num mapa do mundo e ver como as tendências à crise se movimentaram. Pensar no  neoliberalismo é útil para entender essas tendências.
Um dos maiores movimentos de neoliberalização foi a demissão de todos os keynesianos do Banco Mundial e FMI em 1982 – um saneamento total dos assessores económicos que tinham ideias keynesianas.
Foram substituídos por economistas neoclássicos do lado da oferta e a primeira coisa que fizeram foi decidir que a partir de então o FMI deveria seguir uma política de ajuste estrutural sempre que surgisse uma crise.
Em 1982, certamente, houve uma crise de endividamento no México. O FMI disse: “Vamos salvar-te”. Na verdade, o que o FMI fez foi salvar os bancos de investimento de Nova York e implementar uma política de austeridade.
A população de México sofreu algo como uma perda de 25% do seu padrão de vida nos quatro anos depois que se seguiram a 1982 como resultado das políticas de ajuste estrutural do FMI.
Desde então, houve quatro ajustes estruturais no México. Muitos outros países tinham sofrido mais do que um. Essa tornou-se uma prática padrão.
O que estão a fazer na Grécia agora? É quase uma cópia do que fizeram no México em 1982, mas só mais sofisticado. Isto é o que também aconteceu nos Estados Unidos em 2007-2008. Salvaram bancos e fizeram as pessoas pagarem através de uma política de austeridade.
As crises recentes e a forma como as mesmas foram geridas pelas classes dominantes fez com que repensasse a sua teoria sobre o neoliberalismo?
Bom, não creio que a solidariedade entre a classe capitalista hoje seja como antes. Geopoliticamente, os Estados Unidos não estão numa posição de mandar globalmente como nos anos 1970.
Acho que estamos a assistir a uma regionalização das estruturas globais de poder dentro do sistema de estados – hegemonias regionais como Alemanha na Europa, Brasil na América Latina, China na Ásia Oriental.
Obviamente, os Estados Unidos ainda têm uma posição global, mas os tempos mudaram. Obama pode ir ao G20 e dizer: “Devemos fazer isso” e Angela Merkel pode responder “Não estamos a fazer isso”. Isso não aconteceria nos anos 1970.
Então a situação geopolítica é mais regionalizada, há mais autonomia. Penso que é parcialmente um resultado do fim da Guerra Fria. Países como Alemanha não precisam mais de depender dos Estados Unidos para proteção.
Além disso, o que tem sido chamado de a “nova classe capitalista” de Bill Gates, Amazon e Silicon Valley tem políticas diferentes dos tradicionais capitalistas do petróleo e da energia.
Como resultado, tendem a agir de forma própria, então há muita rivalidade entre, digamos, energia e finanças, e energia e o pessoal de Silicon Valley, etc. Há sérias divisões que são evidentes em questões como mudança climática, por exemplo.
A outra coisa crucial, penso eu, é que a onda neoliberal dos anos 1970 não aconteceu sem resistência. Houve resistência massiva dos trabalhadores, de partidos comunistas na Europa, etc.
Mas eu diria que até o fim dos anos 1980, a luta foi perdida. Então, na medida em que a resistência tem desaparecido, os trabalhadores e sindicatos já não têm o poder que tinham, a solidariedade entre a classe dominante não é mais necessária para [o neoliberalismo] funcionar. Não precisa mais de se juntar e fazer algo contra a luta de baixo porque não existe mais uma ameaça. A classe dominante está a dar-se extremamente bem e não  precisa de mudar realmente nada.
Porém, enquanto a classe capitalista está a dar-se muito bem, o capitalismo não está. As taxas de lucro recuperaram-se, mas as taxas de reinvestimento são terrivelmente baixas e muito dinheiro não está a circular de volta na produção e está a ir para a compra de terras e a especulação financeira.
Vamos falar mais sobre resistência. No seu trabalho, aponta o aparente paradoxo de que os ataques neoliberais foram acompanhados por um processo paralelo de declínio em luta de classes – pelo menos no Norte Global – a favor de “novos movimentos sociais” para liberdades individuais. Pode desvendar como o neoliberalismo provoca certas formas de resistência?
Aqui uma proposta para pensar. E se cada modo dominante de produção, com a sua configuração política particular, cria um modo de oposição como uma imagem de espelho a si mesmo?
Durante a era Fordista da organização do processo da produção, a imagem de espelho era o grande e centralizado movimento sindical e os partidos políticos centralistas democráticos.
A reorganização do processo da produção e a viragem para a acumulação flexível durante os tempos neoliberais têm produzido uma esquerda que, em muitos aspetos, é a sua imagem de espelho: redes, descentralização, não hierárquica. Acho isso muito interessante.
E até certo ponto a imagem de espelho confirma aquela que está tentar destruir. No final, acho que o movimento sindical na verdade reforçou o Fordismo.
Creio que uma grande parte da esquerda hoje, sendo muito autonomista e anárquica, está na verdade a reforçar o jogo final do neoliberalismo. E muitas pessoas da esquerda não gostam de ouvir isso.
Mas, é claro, a questão surge: Há forma de se organizar que não é uma imagem de espelho? Podemos esmagar esse espelho e encontrar algo diferente que não faz o jogo do neoliberalismo?
A resistência ao neoliberalismo pode ocorrer de diferentes maneiras. No meu trabalho, eu enfatizo que o ponto no qual o valor é realizado é também um ponto de tensão.
O valor é produzido no processo de trabalho, e esse é um aspeto muito importante da luta de classes. Mas o valor é realizado no mercado através do comércio, e há muita política envolvida nisso.
Muita resistência à acumulação de capital ocorre não só no lugar de produção, mas também através do consumo e a realização do valor.
O exemplo de uma fábrica de automóveis: grandes fábricas costumavam empregar 25 mil trabalhadores; agora empregam 5 mil, pois a tecnologia tem reduzido a necessidade de trabalhadores. Então cada vez mais empregos estão a ser deslocados da esfera de produção e estão a ser cada vez mais empurrados dentro da vida urbana.
O centro principal de descontentamento dentro da dinâmica capitalista está crescentemente a mudar para lutas sobre a realização do valor – sobre as políticas da vida quotidiana na cidade.
Os trabalhadores obviamente são importantes e há muitas questões relativamente aos trabalhadores que são cruciais. Se estivéssemos em Shenzhen na China, lutas sobre o processo de trabalho são dominantes. E nos Estados Unidos, por exemplo, a greve na empresa Verizon deveria ter sido apoiada.
Mas em muitos lugares no mundo, lutas sobre a qualidade da vida quotidiana são dominantes. Registe-se as grandes lutas nos últimos dez a quinze anos: algo como Gezi Park em Istambul não foi uma luta de trabalhadores, foi descontentamento com as políticas da vida quotidiana e a falta de democracia e os processos decisórios; as revoltas nas cidades brasileiras em 2013, novamente foram manifestações de descontentamento com as políticas da vida quotidiana: transporte, possibilidades e contra todos os gastos nos grandes estádios quando não havia dinheiro para construir escolas, hospitais e habitação decente. As revoltas que nós vemos em Londres, Paris e Estocolmo não são sobre o processo de trabalho: são sobre as políticas de vida quotidiana.
Essas políticas são bem diferentes das políticas que existem no lugar da produção. No lugar do trabalho, é capital versus trabalho. Lutas sobre a qualidade da vida urbana são menos claras em relação à sua configuração de classe.
Políticas claras de classe, que geralmente vêm de um entendimento sobre produção, ficam mais confusas enquanto se tornam mais realistas. É uma questão de classe, mas não é uma questão de classe no sentido clássico.
Considera que falamos demais sobre neoliberalismo e pouco sobre capitalismo? Quando é apropriado usar um termo ou o outro, e quais são os riscos envolvidos em misturá-los?
Muitos liberais dizem que o neoliberalismo foi longe demais em relação à desigualdade de rendimento, que a privatização foi além do normal, que existem bens comuns que temos que cuidar, tal como o meio ambiente.
Há também uma variedade de maneiras de falar sobre o capitalismo, a economia da partilha, por exemplo, que acaba por ser muito capitalizada e muito exploradora.
Há a noção de capitalismo ético, que acaba por ser simplesmente sobre a necessidade de ser honesto em vez de roubar. Portanto, há possibilidades nas mentes de algumas pessoas de algum tipo de reforma da ordem neoliberal para uma outra forma de capitalismo.
Acho possível que se possa fazer um capitalismo melhor do que o atualmente existe. Mas não muito melhor.
Os problemas fundamentais estão tão enraizados agora que não há forma de avançar sem um movimento anticapitalista forte. Então, colocaria as coisas nos termos anticapitalistas ao invés de colocá-las em termos anti neoliberais.
E creio que o perigo é que, quando ouço pessoas a falar de anti neoliberalismo, não existe a perceção de que o capitalismo em si, em qualquer das suas formas, é o problema.
A maioria dos anti neoliberal falha em não tratar dos macroproblemas de crescimento composto sem fim – problemas ecológicos, políticos e económicos. Então, prefiro falar de anti capitalismo do que de anti neoliberalismo.


Entrevista a David Harvey conduzida por Bjarke Skærlund Risager.

29 de Julho, 2016 - 13:23h

in http://www.esquerda.net//artigo/david-harvey-o-neoliberalismo-e-um-projeto-politico/43872?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook


Publicado originalmente no blog da revista Jacobin.
Tradução de Sean Purdy para o Blog Junho.