sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Relatório da Fundação Bertelsmann - um número crescente de democracias está a cortar direitos civis e a prejudicar o Estado de Direito



As restrições a liberdades democráticas nos últimos anos fizeram não só com que o número de autocracias no mundo aumentasse mas, mais preocupante, que um número crescente de democracias esteja também a cortar direitos civis e prejudicar o Estado de Direito – esta é uma das conclusões de um estudo da Fundação Bertelsmann.  

Este relatório, publicado nesta quinta-feira, traça um retrato sobretudo de deterioração – da qualidade da democracia, da economia, e da capacidade ou vontade de controlo de tensões internas através de diálogo pelos Governos de dezenas de países

No chamado “Índice de Transformação” da Fundação, que desde 2006 analisa os desenvolvimentos políticos e económicos em 129 países “em desenvolvimento e transformação”, nota-se que cada vez há mais pessoas a viver em ambientes mais desiguais: nos últimos dez anos, a proporção de países que conseguiram um nível bom ou moderado de inclusão social diminuiu de um terço para um quarto. 

Ao mesmo tempo, também há mais pessoas a viver sob regimes repressivos: da população mundial total, 3,3 mil milhões de pessoas vivem em autocracias, contra 4,2 mil milhões em democracias – o maior número de pessoas a viver em regimes autocráticos desde que o estudo começou, há 12 anos. 

Mas a fundação com sede em Gütersloh, na Alemanha, diz que “mais problemático é o facto de os direitos civis estarem a ser diminuídos e o Estado de Direito enfraquecido num número cada vez maior de democracias”, incluindo “antigos faróis da democratização como o BrasilPolónia Turquia, que estão entre os que mais caíram no Índice de Transformação”.

Falta de diálogo 

Entre os países com deterioração significativa da situação política estão cinco que “já não cumprem critérios mínimos de democracia”: Moçambique, Bangladesh, LíbanoNicarágua Uganda. O relatório aponta para uma “deterioração gradual na qualidade da democracia durante vários anos”, mas também diz que “muitas vezes, falhas na qualidade das eleições foram o suficiente” para uma alteração substancial. 

Uma das razões que mais contribuiu para a degradação política é a incapacidade ou falta de vontade dos Governos lidarem com conflitos sociais através do diálogo, diz o relatório. Este foi o indicador que mais desceu nos últimos 12 anos, com um decréscimo em 57 Estados, e uma queda notória na Turquia e no Burundi. Pior, alguns exploram deliberadamente os conflitos sociais – é o caso da maioria dos governos de países árabes como o Bahrein ou a Líbia

A relação entre a situação económica e política também é referida no relatório. Apesar de um exemplo de bom desempenho de uma autocracia, a China – cuja economia foi a que mais aumentou em relação à economia global – é uma excepção, sublinham os autores. Outros países como a Rússia, Tailândia e Venezuela contribuem para o mau resultado das autocracias como um todo. 

“O BTI [Índice de Transformação da Bertelsmann] mostra claramente que os sistemas anti-democráticos não são mais estáveis nem mais eficientes”, diz Aart de Geus, o presidente da Fundação, comentando os resultados num comunicado de imprensa.

O estudo vê ainda o fraco desenvolvimento sócio-económico como um dos maiores obstáculos a um desenvolvimento em direcção à democracia e sustentabilidade económica.

performance económica global piorou significativamente nos últimos dez anos, diz o relatório: indicadores macroeconómicos caíram em 71 países e aumentaram em apenas 17.

Várias ditaduras com economias de mercado enfrentaram dificuldades, da Malásia ao Qatar, de Singapura aos Emirados Árabes Unidos, e várias democracias também, em especial o Brasil, Hungria, México, Nigéria, África do Sul, e Turquia. “Também se dá o caso”, notam os autores, “de [estes] serem todos países objecto de muito má gestão e erosão da qualidade da democracia”.




MARIA JOÃO GUIMARÃES, 22 de Março de 2018, jornal PÚBLICO  https://www.publico.pt/2018/03/22/mundo/noticia/cada-vez-mais-democracias-estao-a-cortar-liberdades-1807567

terça-feira, 31 de julho de 2018

Rosas albardeiras na Serra da Arrábida

 
 Clicar em cima das fotos para apreciá-las melhor.


 


Campanha em Marrocos: "Sê um homem e cobre as tuas mulheres"




Logo pela manhã, esta notícia no DN dava conta de mais uma situação abominável à luz dos Direitos Humanos e da Igualdade de Género que sempre defenderei:

Em Marrocos, obcecados sexuais pertencentes a várias organizações conservadoras, incluindo a "consciência marroquina", a hashtag #konrajoulan ("sê um homem"), lançaram no facebook a campanha 'Sê um homem e cobre as tuas mulheres', acompanhada da imagem de uma figura de negro da cabeça aos pés, sobre fundo amarelo, e os dizeres "sê um homem e não deixes as tuas mulheres e filhas saírem vestidas de modo pornográfico".
Num dos posts, o primeiro comentário diz: "Sim, não queremos as nossas mulheres vestidas de puta.”

A dura realidade para milhares de mulheres, a dura luta que continua a ser travada contra culturas e mentalidades que estagnaram ao serviço do homem-macho e cada vez mais embrutecido pelo poder que julga ter por possuir um pénis e no qual fundamenta a legitimidade das suas monstruosas convicções sobre a relação homem-mulher.

Vangloriando-se e autopromovendo uma virilidade "assente na cobrição" e numa sexualidade claramente amputada de valores e princípios onde não há lugar ao diálogo nem ao prazer mas ao poder e ao autoritarismo assentes no pressuposto  de que ser homem e ter um pénis é o bastante para ser superior à mulher, subjuga-a, escraviza-a e esvazia-a completamente da dignidade e do respeito que sistematicamente lhe rouba através da violação, do assédio e obscenidades verbais proferidas e da menoridade cívica e intelectual com que é olhada e tratada. 

Felizmente que há organizações e gente corajosa e determinada, caso de Betty Lachgar, incansável nas petições e declarações enviadas ao Governo para que findem estas agressões consentidas e institucionalizadas. 

E tudo isto num país que continua a ser um dos destinos preferidos dos portugueses mas não o meu. 

Um país sobre o qual um inquérito da Unicef em 2014 revelou que mais de 63% das mulheres consideram que "por vezes se justifica" sofrerem algum tipo de violência física por parte dos cônjuges.

Um país no qual um programa da TV estatal mostrou, em 2016, como "disfarçar" com maquilhagem as marcas dessa violência, um país onde apalpões e piadas obscenas ditos por homens a desconhecidas na rua são de tal forma "normais" que os guias de viagem aconselham as turistas a nunca andar sós, a nunca entrar em cafés (considerados reino masculino) e a ter muito cuidado na praia...

Marrocos, um país aqui tão perto!

Segundo o PÚBLICO de ontem, esta campanha foi lançada no início de Julho para impedir as marroquinas de usarem biquíni ou fatos de banho e está a agitar as redes sociais.

'Sê um homem e cobre as tuas mulheres'?

Majda Avrani, mulher marroquina citada pelo DN, já lhes respondeu:

'Sê um homem e rala-te com o teu cu'.



Nazaré Oliveira



PS:
Não deixem de ler
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/29/internacional/1532873887_330458.html






segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ricardo Robles




Raquel Varela (facebook)
27 de Julho 2018 às 11:54

Rebentou o escândalo Robles, vereador da capital do Bloco de Esquerda. Comprou por 400 mil, fez 1 milhão de obras financiadas (fez questão de dizer com a CGD) e quer vender por 5,7 milhões. Explicou que é tudo legal. E é. Como é legal viver de juros da dívida pública ou colocar dinheiro em off shores e depois reinvesti-lo aqui na forma de empréstimos bancários para fazer,por exemplo, obras em casas a ser vendidas - será o próximo passo empreendedor do vereador do BE? É um escândalo mesmo, e é indiferente se foi a direita que o colocou cá fora e com que intenções porque os factos existem, independentemente do mensageiro.

Se a esquerda gastasse 5% do tempo a estudar a teoria do valor de Marx em vez de dedicar-se a ser uma espécie de braço da ONU, especializada em palavras bonitas e boas intenções, ninguém tinha dúvidas porque estamos perante um escândalo. Que no mínimo exigiria a demissão imediata do vereador eleito. Especulação imobiliária não é vender uma casa e comprar uma melhor, não é ir a um bom restaurante, não é fazer obras na casa de férias - tudo isso é fruto de rendimento do trabalho, do nosso trabalho, que varia consoante a formação e outros factores, e não do trabalho alheio. Especulação imobiliária é rentismo parasitário. Vou ser didáctica. O valor é distribuído a partir da produção real em renda, juro e lucro. Mas todo o valor tem origem no trabalho produtivo real. Se eu ficar a olhar para 6 milhões de notas e cuidar delas como o Zé das Medalhas, dar-lhes beijinhos e festinhas, cantar-lhes ao ouvido, 24 horas depois ou 24 anos depois eu tenho 6 milhões de notas. Nada mais. Dinheiro não faz dinheiro. Esse capital só se amplia se passar pela produção real. Para gerar uma mais valia de 4 milhões de euros é preciso esmifrar até ao tutano milhares de trabalhadores produtivos, industriais e outros, aqui ou na China - dinheiro que aqui chega para pagar estes especuladores Lisboetas ou Parisienses via Bancos. Na verdade Lisboa torna-se uma cidade insuportável mas o custo maior da especulação é a intensificação da exploração do trabalho produtivo que tem que pagar estes super-lucros - esse problema é tão ou mais grave do que a descaracterização da cidade e mesmo a falta de casas para quem trabalha. É levar os trabalhadores do mundo industrial - à escala mundial - à exaustão para fazer com que de 1 milhão se passe para 5 milhões. Robles propõe-se na verdade viver como António Mexia ou qualquer accionista de um Banco, à custa de (muito) trabalho alheio.

E não, a esquerda não é monástica. Não faz votos de pobreza. Viver bem do trabalho, com qualidade de vida, é urgente, precisamos de bem-estar e qualidade de vida sim. Mas viver de especulação é uma imoralidade. Legal, pois claro. Mas Robles tentou lavar a alma, explicando que as obras tiveram empréstimo de um banco público - a CGD, falida, recapitalizada com o dinheiro do SNS e da educação, assim é mais bonitinho o negócio. E, por fim, fez um acto de caridade, aluga uma das casas por 170 euros a uma pobre família, quem sabe se a uma família de um trabalhador produtivo?...Oh Dear, muito obrigada Senhor! Bem hajas pelo teu acto! Nós vos agradecemos. Do socialismo na gaveta ao socialismo no caixão.

Escusado será dizer que a direita tem pouco a queixar-se - criaram o monstro de que tudo é vendável, incluindo o direito à habitação e à cidade, inventaram a laboração contínua nas fábricas explicando que «tem que ser» porque «o país precisa», ou seja, as casas que se vendem por magia por 5 vezes mais de um dia para o outro são a tortura da linha de montagem de tipos que trabalham de sábado a sábado. O que é impressionante é que alguém de esquerda ouse desconhecer isto e ainda se arrisque a justificar o injustificável.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Meus queridos touros!


Como é possível, meu Deus, alguém defender, promover e ir ver esta crueldade sem limites, esta dor inimaginável de um ser que nada fez de mal, que merece viver com dignidade, tal como eu, como nós?
Gente diabólica...
Reparem no focinho daquela gentalha, a começar pelo do toureiro... Olhem quanto sofrimento na expressão deste nobre animal...
Lutarei sempre por vocês, queridos touros, até ao dia da vossa libertação destas bestas que vos infernizam a vida e nos dilaceram a alma.


Nazaré Oliveira