segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ricardo Robles




Raquel Varela (facebook)
27 de Julho 2018 às 11:54

Rebentou o escândalo Robles, vereador da capital do Bloco de Esquerda. Comprou por 400 mil, fez 1 milhão de obras financiadas (fez questão de dizer com a CGD) e quer vender por 5,7 milhões. Explicou que é tudo legal. E é. Como é legal viver de juros da dívida pública ou colocar dinheiro em off shores e depois reinvesti-lo aqui na forma de empréstimos bancários para fazer,por exemplo, obras em casas a ser vendidas - será o próximo passo empreendedor do vereador do BE? É um escândalo mesmo, e é indiferente se foi a direita que o colocou cá fora e com que intenções porque os factos existem, independentemente do mensageiro.

Se a esquerda gastasse 5% do tempo a estudar a teoria do valor de Marx em vez de dedicar-se a ser uma espécie de braço da ONU, especializada em palavras bonitas e boas intenções, ninguém tinha dúvidas porque estamos perante um escândalo. Que no mínimo exigiria a demissão imediata do vereador eleito. Especulação imobiliária não é vender uma casa e comprar uma melhor, não é ir a um bom restaurante, não é fazer obras na casa de férias - tudo isso é fruto de rendimento do trabalho, do nosso trabalho, que varia consoante a formação e outros factores, e não do trabalho alheio. Especulação imobiliária é rentismo parasitário. Vou ser didáctica. O valor é distribuído a partir da produção real em renda, juro e lucro. Mas todo o valor tem origem no trabalho produtivo real. Se eu ficar a olhar para 6 milhões de notas e cuidar delas como o Zé das Medalhas, dar-lhes beijinhos e festinhas, cantar-lhes ao ouvido, 24 horas depois ou 24 anos depois eu tenho 6 milhões de notas. Nada mais. Dinheiro não faz dinheiro. Esse capital só se amplia se passar pela produção real. Para gerar uma mais valia de 4 milhões de euros é preciso esmifrar até ao tutano milhares de trabalhadores produtivos, industriais e outros, aqui ou na China - dinheiro que aqui chega para pagar estes especuladores Lisboetas ou Parisienses via Bancos. Na verdade Lisboa torna-se uma cidade insuportável mas o custo maior da especulação é a intensificação da exploração do trabalho produtivo que tem que pagar estes super-lucros - esse problema é tão ou mais grave do que a descaracterização da cidade e mesmo a falta de casas para quem trabalha. É levar os trabalhadores do mundo industrial - à escala mundial - à exaustão para fazer com que de 1 milhão se passe para 5 milhões. Robles propõe-se na verdade viver como António Mexia ou qualquer accionista de um Banco, à custa de (muito) trabalho alheio.

E não, a esquerda não é monástica. Não faz votos de pobreza. Viver bem do trabalho, com qualidade de vida, é urgente, precisamos de bem-estar e qualidade de vida sim. Mas viver de especulação é uma imoralidade. Legal, pois claro. Mas Robles tentou lavar a alma, explicando que as obras tiveram empréstimo de um banco público - a CGD, falida, recapitalizada com o dinheiro do SNS e da educação, assim é mais bonitinho o negócio. E, por fim, fez um acto de caridade, aluga uma das casas por 170 euros a uma pobre família, quem sabe se a uma família de um trabalhador produtivo?...Oh Dear, muito obrigada Senhor! Bem hajas pelo teu acto! Nós vos agradecemos. Do socialismo na gaveta ao socialismo no caixão.

Escusado será dizer que a direita tem pouco a queixar-se - criaram o monstro de que tudo é vendável, incluindo o direito à habitação e à cidade, inventaram a laboração contínua nas fábricas explicando que «tem que ser» porque «o país precisa», ou seja, as casas que se vendem por magia por 5 vezes mais de um dia para o outro são a tortura da linha de montagem de tipos que trabalham de sábado a sábado. O que é impressionante é que alguém de esquerda ouse desconhecer isto e ainda se arrisque a justificar o injustificável.