quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O património de apenas oito homens é igual ao de metade mais pobre do mundo

Apenas 8 pessoas detêm património equivalente a mais de metade da população mundial


PUBLICADO EM 14/02/2017


No relatório recente publicado em Janeiro último pela OXFAM sobre a situação atual das desigualdades no mundo, conclui-se que: “novas estimativas indicam que o património de apenas oito homens é igual ao de metade mais pobre do mundo”.
O presente relatório relembra a preocupação geral em torno das desigualdadesidentifica as causas para a mesma, os argumentos que sustentam as desigualdades e aponta potenciais vias para reverter a atual situação.
Em 2012, no Fórum Económico Mundial, o aumento da desigualdade económica foi apontado como uma grande ameaça à estabilidade social, mais tarde, o Banco Mundial vinculou como objetivo erradicar a pobreza e a necessidade de promover uma prosperidade partilhada. Já em 2016, Barack Obama no seu discurso de despedida na Assembleia Geral da ONU referiu que “um mundo no qual 1% da população controla a riqueza equivalente à dos restantes 99% nunca será estável”. Perante este cenário, o relatório aponta como efeito do não combate à desigualdade a possibilidade de desintegração das sociedades, o aumento da criminalidade e a falta de esperança.
Como causas para a desigualdade, foram identificadas alguns factos, como as empresas estão atualmente a trabalhar para os mais ricos, onde segundo estimativas da Oxfam, as 10 maiores empresas mundiais tiverem entre 2015 e 2016, tantos lucros como o equivalente ao PIB de 180 países. Outro fator que explica o nível de desigualdade verificado prende-se com o facto de serem sacrificados os trabalhadores e os fornecedores, onde por exemplo, na India, o diretor executivo da maior empresa de informática recebe 416 vezes mais do que a média dos funcionários. A evasão fiscal é outro fator apontado. O super-capitalismo dos acionistas também contribui para o aumento das desigualdades, onde no Reino Unido, em 1070, 10% dos lucros eram distribuídos pelos acionistas, e em 2016 essa percentagem passou para os 70%. Os lobbies, ou capitalismo de camaradagem ajuda a justificar a desigualdade, principalmente pela via da manutenção destas posições privilegiadas, mantendo influência nas regulações e políticas públicas nacionais e internacionais. O papel dos super-ricos na crise das desigualdades e ainda a competição entre países para a atração de investimento criando benefícios fiscais são ainda apontados como causas para as desigualdades existentes.
São expostos no relatório 6 argumentos/premissas teóricas que alimentam e impulsionam a economia pensada para os 1% mais ricos. A lista das seis falsas premissas é a seguinte:
1.    O mercado está sempre certo e o papel dos Governos deve ser minimizado;
2.    As empresas precisam de maximizar os seus lucros e retornos para os acionistas a todo o custo;
3.    A riqueza individual extrema é benéfica e um sinal de sucesso, e a desigualdade não é relevante;
4.    O crescimento do PIB deve ser o principal objetivo da formulação de políticas;
5.    O nosso modelo económico é neutro em relação ao género;
6.    Os recursos do nosso planeta são ilimitados;
Para sustentar esta lista de argumentos, a Oxfam no relatório destaca três intervenções, Robert Kennedy, em 1968 afirmou que “O PIB mede tudo, exceto o que faz a vida valer a pena”, já a declaração da responsabilidade do FMI – Fundo Monetário Internacional diz que “Em vez de gerar crescimentos, algumas políticas neoliberais aumentam a desigualdade, colocando em risco uma expansão duradoura”, por fim Charlotte Perkin Gillman afirma que “É impossível melhorar o mundo com tantas pessoas mantidas no fundo”.
            Ainda no relatório, são apontados oito bases sólidas de construção de uma economia humana:
1.    Os Governos trabalharem para os 99%;
2.    Os Governos cooperarem, ao invés de competirem;
3.    As empresas trabalharem em beneficio de todos;
4.    A extrema riqueza será eliminada para que a extrema pobreza possa ser erradicada;
5.    A economia funcionar a favor de homens e mulheres igualmente;
6.    A tecnologia ser colocada ao serviço dos 99%;
7.    A economia ser movida por energias renováveis sustentáveis;
8.    O que realmente importa ser valorizado e mensurado.
É ainda, nesta matéria, deixado um aviso pelo relatório, que devemos e podemos construir uma economia humana antes que seja tarde demais.
Por: Pedro Perdigão 



In https://observatorio-das-desigualdades.com/2017/02/14/relatorio-oxfam-uma-economia-para-os-99/

sábado, 11 de fevereiro de 2017

A Extrema-Direita Euro-Americana


  

A 20 de Janeiro realizou-se, em Koblenz (Alemanha), uma reunião de líderes populistas europeus para preparar o ano de 2017 na esteira do que Marine Le Pen chamou o ano do despertar do mundo anglo-saxónico: 2016 com o Brexit do Reino Unido e a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA.
A atenção ao mundo anglo-saxónico por parte das direitas europeias mais duras não é de todo uma novidade
Ao longo do segundo pós-guerra várias foram as figuras que estimularam o imaginário desses meios políticos continentais. Em particular, os hard-liners entre os liberais e os conservadores europeus olharam com simpatia os congéneres britânicos e norte-americanos, em particular a primeira-ministra Margaret Thatcher com o seu liberalismo de ferro, os presidentes Ronald Reagan com a sua segunda Guerra Fria dos anos 80, George W. Bush com o seu neo-conservadorismo de novo milénio e finalmente Donald Trump com o seu nacionalismo populista. Essas referências anglo-saxónicas não ficaram restringidas apenas à área liberal-conservadora, mas atingiram também a chamada extrema-direita pós-industrial – hoje em ascensão – e até, em certa medida, sectores da extrema-direita tradicional, onde personagens como o deputado britânico Enoch Powell com o seu discurso do “rios de sangue” de 1968 ou os candidatos presidenciais norte-americanos Barry Goldwater (1964) e Pat Buchannan (anos 90) deixaram marcas.
A dimensão mais interessante desse fenómeno é a inversão da dinâmica de influência que ocorreu ao longo do século XX, passando os EUA a ser o exportador de discursos e práticas a partir da segunda metade do século, quando, até ai, a Europa tinha sido o farol dos meios radicais ocidentais. Esta inversão na extrema-direita é objecto de análise científica já desde a década de 90 do século passado.
A dimensão transatlântica
Limitando a nossa análise à extrema-direita nos Estados Unidos, esses movimentos estão presentes já no final do século XIX com o populismo anti-elitista e anti-imigracionista, mas resultam pouco compatíveis com as correntes europeias coesas devido à matriz contra-revolucionária dessas últimas.
O papel da União Soviética
As relações transatlânticas estreitam-se a partir da fundação, em 1917, da União Soviética, cujo protagonismo internacional é visto como uma ameaça comum. A proximidade da Europa ao ‘perigo vermelho’ faz com que as revoluções nacionalistas dos anos 20 e 30 no Velho Continente sejam saudadas com favor. A recepção positiva nos EUA é facilitada pelo activismo da emigração política vinda da Rússia e da emigração económica oriunda da Europa ocidental, nesse último caso apoiada, na sua acção propagandista, pelos próprios regimes de Roma e Berlim. De alguma eficácia resulta também o empreendedorismo político dos adeptos norte-americanos dos fascismos europeus e o favor das facções republicanas admiradoras do anti-comunismo de Mussolini e Hitler.
O protagonismo anglo-saxónico na frente bélica antifascista durante a Segunda Guerra Mundial e os êxitos do conflito armado em 1945 fazem com que o vector inverta a sua direcção. Ao longo dos anos 50 e 60, os EUA tornam-se, por um lado, os campeões da derrota da extrema-direita europeia e, por outro lado, os novos paladinos da luta anti-comunista. Por seu lado, os derrotados europeus de 1945 – e os seus sucessores – começam a encarar a Nova Ordem Mundial como um Janus bifronte, onde Moscovo e Washington se equivalem em termos de ameaças ideológicas e políticas para a Europa. Essa fractura explica o desinteresse total da ultra-direita norte-americana pelas malogradas internacionais neo-fascistas dos anos 50 e 60 na Europa e a marginalidade dos saudosistas norte-americanos à George Lincoln Rockwell com a sua World Union of National Socialists (WUNS). Nesse último caso, aliás, convém salientar que o White Nationalism do segundo pós-guerra sempre continuou a olhar com interesse ao Nacional-socialismo europeu.
Pelo contrário, os EUA tornam-se a referência organizacional dos anti-comunistas europeus, ocidentais e orientais, através de estruturas de coordenação como a World Anti-Communist League (WACL) de 1966. Debaixo desses chapéus – cada vez mais numerosos graças à acção não só da administração norte-americana, mas também de think tanks republicanos – desenvolvem-se redes internacionais de colaboração, nas quais participam europeus de direita e de extrema-direita em nome do combate ao inimigo comum. Uma realidade que, caído o comunismo, se repetirá com a luta contra o radicalismo islâmico. Aqui o factor religioso, central na direita norte-americana, jogará um papel não secundário na moldagem do imaginário dos congéneres europeus, através da absorção de conceitos quais o choque de civilizações e a cruzada contra o terrorismo.
A partir do último quartel do século XX, as influências anglo-saxónicas atingiram também as franjas sub-culturais e juvenis da extrema-direita, através da produção musical anti-comunista desde os anos 70 (o chamado Rock Against Communism – RAC) e da difusão ideológica pela internet (as correntes White Power). Aqui, os EUA tiveram um papel importante graças às liberdades constitucionais (I e II emendas) garantidas aos grupos radicais, particularmente activos na Web desde os anos 90.
Embora não se devam confundir os partidos populistas de direita, em ascensão na Europa, com os movimentos sub-culturais, folclóricos e marginais, é importante salientar como o mundo anglo-saxónico (os EUA in primis) continue a exercer uma influência assinalável no discurso e na estratégia dos radicais do Velho Continente. Assim, fenómenos mais recentes como a Alt-Right norte-americana, adepta da Nouvelle Droite francesa e apoiante de Trump, são vestígios da antiga circulação intelectual transatlântica que sempre existiu, mas que foi progressivamente abandonada por muita extrema-direita americana cada vez mais isolada no seu caminho messiânico.
Geert Wilders. Photo by Metropolico.org / CC BY-SA 2.0
in http://cei.iscte-iul.pt/blog/a-extrema-direita-euro-americana/

Colo (filme de Teresa Villaverde)

Teresa Villaverde


COLO Trailer #1 - Film by TERESA VILLAVERDE from ALCE FILMES on Vimeo.

O filme “Colo”, da realizadora portuguesa Teresa Villaverde, foi selecionado para a competição oficial da 67ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que decorre entre 09 e 19 de fevereiro de 2017, foi hoje anunciado.
Num comunicado conjunto, a produtora da longa-metragem, Alce Filmes, e a Portugal Film – Agência Internacional de Cinema Português, sublinham a seleção do novo filme de Teresa Villaverde para “a secção mais importante e prestigiosa deste festival, um dos mais importantes do mundo”.
Trata-se de uma ficção que conta no elenco com João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda, Clara Jost, Tomás Gomes, Dinis Gomes, Ricardo Aibéo, Simone de Oliveira e Rita Blanco.
Com realização e argumento de Teresa Villaverde, o filme, de 135 minutos, tem direção de fotografia de Acácio de Almeida, montagem de Rodolphe Molla, som de Vasco Pimentel, Marion Papinot, Joël Rangon, direção de produção de António Gonçalo, e Paulo Belém como assistente de realização.
“O filme é uma reflexão muito atual, e quase serena, sobre o nosso caminho comum como sociedades europeias de hoje, sobre o nosso isolamento, a nossa perplexidade perante as dificuldades que nos vão surgindo, sobre a nossa vida nas cidades e dentro das nossas famílias. É um filme em tensão crescente que nunca chega a explodir”, descreve o comunicado.
A longa-metragem “Colo” é produzida pela Alce Filmes – Teresa Villaverde (Portugal), em coprodução com a Sedna Films – Cécile Vacheret (França).
Teresa Villaverde, 50 anos, nascida em Lisboa, é realizadora, argumentista e produtora premiada em vários festivais internacionais, criou, entre outros filmes, “A Idade Maior” (1991), “Os Mutantes” (1998), “Água e Sal” (2001), “Transe” (2006) e “Cisne” (2011).


in http://bomdia.eu/filme-colo-de-teresa-villaverde-selecionado-para-o-festival-de-berlim/


Ler também este artigo.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Uma foto do Salazarismo

Vidago,Trás-os-Montes, 1952 *


(Clicar para ampliar)



Uma foto bonita mas dramática. 
A realidade brutal do Salazarismo bem patente na miséria que crianças e mulher evidenciam, quer pelo semblante que mostram, quer pelas roupas que usam, quer pela posição de profunda humildade que deixam transparecer.

Não havia infância para os pobres! Não havia nada para os pobres exceto trabalho miserável, sofrimento e exploração... apesar do sorriso puro e do olhar inocente dos que sonhavam com um amanhã diferente.



Nazaré Oliveira

*Foto gentilmente cedida pelo João Rodrigues Silva