Apenas 8 pessoas detêm património equivalente a mais de metade da população mundial |
PUBLICADO EM 14/02/2017
No relatório recente
publicado em Janeiro último pela OXFAM sobre a situação atual
das desigualdades no mundo, conclui-se que: “novas estimativas indicam que o
património de apenas oito homens é igual ao de metade mais pobre do mundo”.
O presente relatório relembra a preocupação geral em torno das
desigualdades, identifica as causas para a mesma, os argumentos
que sustentam as desigualdades e aponta potenciais vias para
reverter a atual situação.
Em 2012, no Fórum Económico Mundial, o aumento da desigualdade económica foi
apontado como uma grande ameaça à estabilidade social, mais tarde, o Banco
Mundial vinculou como objetivo erradicar a pobreza e a necessidade de promover
uma prosperidade partilhada. Já em 2016, Barack Obama no seu discurso de
despedida na Assembleia Geral da ONU referiu que “um mundo no qual 1% da
população controla a riqueza equivalente à dos restantes 99% nunca será
estável”. Perante este cenário, o relatório aponta como efeito do não combate à
desigualdade a possibilidade de desintegração das sociedades, o aumento da
criminalidade e a falta de esperança.
Como causas para a desigualdade, foram identificadas alguns factos, como as
empresas estão atualmente a trabalhar para os mais ricos, onde
segundo estimativas da Oxfam, as 10 maiores empresas mundiais tiverem entre
2015 e 2016, tantos lucros como o equivalente ao PIB de 180 países. Outro fator
que explica o nível de desigualdade verificado prende-se com o facto de serem sacrificados
os trabalhadores e os fornecedores, onde por exemplo, na India, o diretor
executivo da maior empresa de informática recebe 416 vezes mais do que a média
dos funcionários. A evasão fiscal é outro fator apontado. O super-capitalismo
dos acionistas também contribui para o aumento das desigualdades, onde
no Reino Unido, em 1070, 10% dos lucros eram distribuídos pelos acionistas, e
em 2016 essa percentagem passou para os 70%. Os lobbies, ou capitalismo
de camaradagem ajuda a justificar a desigualdade, principalmente pela
via da manutenção destas posições privilegiadas, mantendo influência nas
regulações e políticas públicas nacionais e internacionais. O papel dos
super-ricos na crise das desigualdades e ainda a competição entre
países para a atração de investimento criando benefícios fiscais são
ainda apontados como causas para as desigualdades existentes.
São expostos no relatório 6 argumentos/premissas teóricas que alimentam e
impulsionam a economia pensada para os 1% mais ricos. A lista das seis falsas
premissas é a seguinte:
1. O mercado está sempre certo e o papel dos
Governos deve ser minimizado;
2. As empresas precisam de maximizar os seus
lucros e retornos para os acionistas a todo o custo;
3. A riqueza individual extrema é benéfica e
um sinal de sucesso, e a desigualdade não é relevante;
4. O crescimento do PIB deve ser o principal
objetivo da formulação de políticas;
5. O nosso modelo económico é neutro em
relação ao género;
6. Os recursos do nosso planeta são
ilimitados;
Para sustentar esta lista de argumentos, a Oxfam no relatório destaca três
intervenções, Robert Kennedy, em 1968 afirmou que “O PIB mede tudo, exceto o
que faz a vida valer a pena”, já a declaração da responsabilidade do FMI –
Fundo Monetário Internacional diz que “Em vez de gerar crescimentos, algumas
políticas neoliberais aumentam a desigualdade, colocando em risco uma expansão
duradoura”, por fim Charlotte Perkin Gillman afirma que “É impossível melhorar
o mundo com tantas pessoas mantidas no fundo”.
Ainda no
relatório, são apontados oito bases sólidas de construção de uma economia
humana:
1. Os Governos trabalharem para os 99%;
2. Os Governos cooperarem, ao invés de
competirem;
3. As empresas trabalharem em beneficio de
todos;
4. A extrema riqueza será eliminada para que
a extrema pobreza possa ser erradicada;
5. A economia funcionar a favor de homens e
mulheres igualmente;
6. A tecnologia ser colocada ao serviço dos
99%;
7. A economia ser movida por energias
renováveis sustentáveis;
8. O que realmente importa ser valorizado e
mensurado.
É ainda, nesta matéria, deixado um aviso pelo relatório, que devemos e
podemos construir uma economia humana antes que seja tarde demais.
Por: Pedro
Perdigão
In https://observatorio-das-desigualdades.com/2017/02/14/relatorio-oxfam-uma-economia-para-os-99/