sábado, 8 de agosto de 2015

Cientistas encontram a ligação entre o sistema nervoso e imunológico



Uma descoberta sem precedentes acaba de ser divulgada em uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo, a Nature. Um grupo de cientistas encontrou vasos do sistema linfático que antes passaram despercebidos para os cientistas e que percorriam o sistema nervoso central.
Este achado vai mudar os livros, já que acreditava-se que o sistema linfático não ultrapassava a barreira hematoencefálica, uma estrutura de células que impede que certas substâncias cheguem ao cérebro.
Apesar de o sistema linfático estar muito bem mapeado através de todo o corpo, antes deste estudo pensava-se que, quando chegavam no cérebro, os vasos eram interrompidos. Esta nova descoberta vai ser muito boa para realmente saber o que acontece em doenças do sistema nervos central, como o Alzheimer, esclerose múltipla e até mesmo o autismo.
Agora os cientistas podem testar mecanicamente, como em todo o resto do corpo, a relação entre o sistema nervoso central e o sistema imune. O que antes parecia impossível de estudar, agora é uma realidade.
Mas como as coisas passaram sem ser percebidas durante muitos anos? Os pesquisadores que publicaram o artigo afirmaram que o método de preparação das lâminas para observar os vasos foi essencial. Antigamente, não se fazia ideia de que os vasos linfáticos estariam ali e por isso não existia um procedimento correto para encontra-los.


Nesta nova descoberta, os pesquisadores prepararam lâminas para ver ao microscópio as meninges, membranas que separam  e protegem os vasos sanguíneos que alimentam o cérebro, sem remover o osso do crânio no momento de fixar as células, numa espécie de banhos químicos que mantêm íntegros os tecidos.
Após separar cérebro da meninge mais profunda, a pia-máter, todos os constituintes ficavam sem danos, ao contrário dos métodos anteriores, onde a fixação do material ocorria quando as meninges já haviam sido separadas do osso do crânio.




Os pesquisadores observaram um padrão similar de rede de vasos que formavam as células imunes observadas nas lâminas preparadas. Eles testaram estas regiões para vasos linfáticos e foi exatamente o que encontraram. Os pesquisadores revelaram que, ao ver pela primeira vez isto, eles ficaram muito empolgados, porém, continuaram a testar para confirmar a hipótese de que existia uma ligação entre o sistema imune e o cérebro.
Agora, após esta incrível de descoberta, os trabalhos dos cientistas que estudam o cérebro só vão aumentar. Existem várias perguntas sobre doenças que afetam o sistema nervoso central e que com esta novidade podem ser resolvidas.



6.06.2015

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Um Estado forte implementa políticas sociais, distribui a riqueza e defende o princípio da universalidade dos direitos






Economia social: “Existe grande tolerância à pobreza”

Os níveis de pobreza em Portugal são alarmantes e, em tempos de austeridade, aumentou a tolerância a este flagelo. O tema foi debatido no seminário “Estado e terceiro setor: Que novos compromissos”, que o Ei* acompanhou.


“Em Portugal, existe uma grande tolerância à pobreza, uma tolerância que se agravou nos últimos anos”, alertou Carvalho da Silva, coordenador do Centro de Estudos Sociais (CES) – Lisboa. O também sociólogo falava no seminário “Estado e terceiro setor: Que novos compromissos”, que decorreu no dia 18 de junho, no Auditório do edifício-sede do Montepio, na baixa lisboeta.
Perante o contexto de crise, expressão que Carvalho da Silva prefere evitar porque se tornou “uma instituição”, criaram-se novas e diversas necessidades de emergência. “Como é que na atualidade evitamos que esta emergência se torne a normalidade?”, questionou o sociólogo.
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, um dos convidados desta iniciativa organizada pelo Observatório sobre Crises e Alternativas do CES, Laboratório Associado da Universidade de Coimbra, escolheu a palavra “vergonha” para classificar os níveis de pobreza em Portugal.
O Padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), destacou, por seu turno, três problemas com que nos confrontamos: o desemprego, o envelhecimento e o empobrecimento, lembrando que não é o setor privado que vai investir nas populações mais carenciadas ou nas regiões desertificadas do país.
Por este e outros motivos, Lino Maia defendeu um “Estado forte para proteger os cidadãos”, que seja capaz de implementar políticas sociais, distribuir a riqueza e defender o princípio da universalidade dos direitos. “Não se pode entregar tudo nas mãos das instituições do terceiro setor, para não corrermos o risco de o Estado lavar as mãos do assunto”, afirmou.
Já Eugénio Fonseca é da opinião que deve existir uma “responsabilização comum do Estado e da sociedade civil”, delimitando-se com clareza as áreas de atuação de cada parte. “É preciso saber o que compete ao Estado e à sociedade civil.”

Terceiro setor não se esgota na proteção social”

Refletindo sobre o tema do primeiro painel “Que caminhos para a proteção social?”, Eugénio Fonseca realçou uma ideia que reuniu o consenso de vários interlocutores: “O terceiro setor não se esgota na proteção social”, está a trilhar novos caminhos e é muito transversal na sua atuação, mas deve reforçar a participação no desenvolvimento local.
Encarar o “terceiro setor apenas como proteção social é perigoso do ponto de vista de ajuda às pessoas, nomeadamente nos territórios de baixa densidade”, considerou na mesma linha de pensamento Eduardo Figueira, presidente da Animar – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local. Para uma igualdade de direitos e oportunidades em todo o país, defendeu, é vital haver uma estratégia de desenvolvimento local em que exista uma parceria entre o setor público, social e privado.
O Padre Lino Maia lembrou que “desde a aldeia mais recôndita de Bragança até à ponta mais ocidental da ilha das Flores existe uma IPSS” que age com “espírito de cidadania e gratuitidade” para tentar resolver os problemas de cada região com “consciência de que somos guardas uns dos outros e que cada um deve fazer o que lhe compete”.
Jorge Faria, da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), referiu o papel das autarquias no apoio ao terceiro setor, considerando que estas têm cada vez mais consciência da importância da economia social. “São as entidades que maior número de relações estabelecem no dia-a-dia com as instituições deste setor”, sublinhou.

“Não” à lógica do subsídio como “penso rápido”

Outro ponto debatido no painel “Que caminhos para a proteção social” foi a relevância do Estado contratualizar serviços às instituições do setor social, saindo-se da lógica do “subsídio”.
A este propósito, Rogério Cação, vice-presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Solidariedade Social (FENARCECI), afirmou “abominar” a palavra subsídio e considerou que
“o conceito de prestação de serviços vincula as organizações à qualidade”.
Também Eduardo Figueira, da Animar, notou que “temos que forçar o Estado a desempenhar o seu papel, mas em zonas onde o Estado não chega é importante que as instituições sejam pagas pelos seus serviços”.
Na sua intervenção, Eugénio Fonseca frisou igualmente que os “subsídios não podem ser utilizados como pensos rápidos”, alertando que “os verdadeiramente pobres, por falta de informação ou confiança nas instituições, não solicitam os seus direitos”.

“Política é uma das mais altas formas de caridade”

Eduardo Graça, presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES), sublinhou, por sua vez, que o terceiro setor é “subalternizado no contexto do desenvolvimento socioeconómico do país, apesar da sua autonomização e dos esforços que têm sido feitos pelos intervenientes nesta área”.
Inspirado nas palavras do Papa Francisco, Eduardo Graça considerou que é preciso denunciar a “cultura do descarte” e da “globalização da indiferença”, reabilitando “a política que é uma das mais altas formas de caridade”. “Não é possível partir um cidadão ao meio para pagar só pela metade o seu trabalho. É preciso respeitar a dignidade no global”, afirmou.

Cooperar mais e encontrar soluções conjuntas

Na mesma ocasião, Rogério Cação afirmou-se como um defensor da cooperação para o terceiro setor, mas observou que ainda existe um longo caminho a percorrer. “Somos um bairro com várias famílias que não cooperam tanto quanto deveriam. É preciso juntar esforços, partilhar ideias e encontrar soluções para criar um espaço de desenvolvimento para a economia social”, frisou.
O presidente da FENARCERCI considerou ainda que as instituições da economia social estão mais fortes depois da crise, porque conseguiram reinventar-se para sobreviver em condições adversas, concluindo que “O que não mata fortalece”.



 29 de junho de 2015 

*Educação informação 

sábado, 1 de agosto de 2015

Água, terra, vida

Clicar para ampliar






Porque os outros se mascaram mas tu não...

Porque


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

   

Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar Novo


Fotografia da minha autoria

É urgente uma nova revolução alimentar




Gostei desta reflexão.
De facto, é urgente uma política de sustentabilidade verdadeiramente posta ao serviço do Homem, da exploração correta e sensata dos  recursos, da justa repartição da riqueza mundial, da solidariedade...
É urgente uma nova Economia, uma nova forma de olhar a Globalização...

Nazaré Oliveira




A Alimentação 

Com o acelerado crescimento populacional, que prevê mais 2,5 mil milhões de pessoas em 2050 e mais 3,5 mil milhões em 2100, o mundo vai precisar, num curto horizonte temporal, de produzir mais 70% dos alimentos atualmente produzidos. Como isso vai ser conseguido é uma grande incógnita. O alimento é uma necessidade básica de qualquer ser vivo, e por isso a questão não pode ser ignorada.

A lança de caça constituiu para aos homens primitivos uma enorme evolução e aportou uma rica dieta proteica às tribos nómadas de caçadores. No entanto, a grande revolução alimentar ocorreu há cerca de dez mil anos com a domesticação de animais e plantas e com o início do cultivo das terras. Primeiro junto aos cursos de água, depois em zonas irrigadas por elaboradas técnicas de canalização e aproveitamento da água. Na Idade Média, a invenção da charrua de ferro permitiu arrotear e conquistar para a exploração agrícola vastos terrenos antes ocupados por florestas. Foi o sucesso desta agricultura e os excedentes assim criados que esteve na origem da Europa das catedrais, da explosão artística da renascença e do avanço científico e tecnológico da Idade Moderna. Este modelo de agricultura foi exportado para o novo mundo, e juntamente com O TRABALHO ESCRAVO, originou a monocultura e permitiu a produção de alimentos em quantidades nunca antes imaginadas.

Como consequência do crescimento populacional e das lutas anti-escravatura, o modelo ameaçava esgotar-se. Na viragem do século XVIII para o século XIX, Thomas Malthus, um homem esclarecido, alertou para a sua insustentabilidade, dizendo que a população iria crescer mais rapidamente que a produção de alimentos. Mas, logo a seguir, o aproveitamento da energia fóssil iria contrariar Malthus, provocar uma inesperada revolução na agricultura e trazer uma nova prosperidade à espécie humana. A agricultura mecanizou-se, libertou os campos do TRABALHO ESCRAVO, ao mesmo tempo que novos fertilizantes revigoravam a terra desgastada e eficientes pesticidas combatiam as pragas e faziam as mondas. Somado a tudo isto, a ciência - com a genética e a descoberta da cura das doenças -,e a tecnologia- com a cultura intensiva e o aperfeiçoamento das alfaias -, haveriam de operar um milagre - a revolução verde - que criou grandes excedentes alimentares e foi responsável pela Idade de Ouro em que atualmente nos encontramos.

Com a revolução verde, o homem libertou-se da árdua tarefa de trabalhar a terra. Em algumas décadas o sector primário, antes o mais representativo, passou a ocupar uma percentagem de apenas um dígito...Em apenas dois séculos a população mundial cresceu seis vezes, as cidades ocuparam o lugar dos campos, enormes massas populacionais ascenderam aos serviços, nasceu a consumista classe média urbana como motor da economia. Este sucesso teve - e continua a ter! -custos ecológicos e ambientais enormes, que podem ser traduzidos num cortejo de conceitos que começam a ENTRAR no nosso discurso diário: manipulação genética, perda de biodiversidade, criação de animais em cativeiro, utilização de hormonas e antibióticos de crescimento, solos empobrecidos e contaminados, escassez de água, alterações climáticas...

É urgente uma nova revolução alimentar. Selina Juul, uma especialista dinamarquesa em alimentação, fundadora do movimento Stop Wasting Food, diz que se não houvesse desperdícios, possivelmente os alimentos produzidos atualmente seriam suficientes para alimentar a população do futuro. John Vidal, jornalista do Guardian, escreveu que urge encontrar outras soluções para alimentar mais de 2.5 mil milhões de pessoas dentro de quatro décadas - as populações da China e da Índia somadas. Acrescenta ainda, que para enfrentar a escassez de água e de terra arável precisamos de uma  geração de novos agricultores, com novas ideias e cultivando novos produtos. Fala de algas, de carne artificial, de novos cereais e até de insectos. Outros, advogam que a solução virá do mar - estufas marítimas, dessalinização... -, enquanto outros sonham em RECUPERAR vastas extensões de deserto, citando a propósito ambiciosos projetos como o Shara Forest Projet, ou a Great Green Wall of Africa.

Na era do consumidor alterou-se profundamente a nossa dieta alimentar. Vivemos na época dos alimentos processados, do excesso de açúcar, dos aditivos, da carne feita à pressa, do exagero dos produtos lácteos. Consumimos mais alimentos do que aqueles que precisamos para viver. As novas gerações são mais altas e mais atléticas, mas também mais obesas. É muito difícil contrariar este estado de coisas, pois a indústria alimentar é um dos pilares da nossa economia. Argumenta-se, por exemplo, com a importância das bebidas refrigerantes para a economia e para o EMPREGO e quase não se fala dos danos que elas causam à saúde.


Para fugir ao ditado popular, que diz que pela boca morre o peixe, um dia teremos de mudar os nossos hábitos alimentares. E quem sabe se, para tal, não teremos primeiro de mudar de economia.






 Luís Queirós in http://poscarbono.blogspot.pt/2015/07/a-alimentacao.html

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Como é que se esquece alguém que se ama?




Como é que se esquece alguém que se ama?


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver?
Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar?
Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar.
As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar.
Sim, mas como se faz?
Como se esquece?
Devagar.
É preciso esquecer devagar.
Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.
Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente.
Elas não saem de lá.
Estúpidas! É preciso aguentar.
Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar.
A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente.
É preciso paciência.
O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada.
Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração.
Ninguém aguenta estar triste.
Ninguém aguenta estar sozinho.
Tomam-se conselhos e comprimidos.
Procuram-se escapes e alternativas.
Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se.
Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo.
Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma.
A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada.
É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo.

É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução.
Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.

 Não adianta fugir com o rabo à seringa.
Muitas vezes nem há seringa.
Nem injecção.
Nem remédio.
Nem conhecimento certo da doença de que se padece.
Muitas vezes só existe a agulha.

 Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar.

Fica tudo à nossa espera.

Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

 O esquecimento não tem arte.

Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar.

Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.



Texto de Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'.

Foto minha.