quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Sócrates político vs Sócrates filósofo
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Sócrates |
Sócrates vs. Sócrates
Há 2500 anos,
na Grécia antiga, viveu em Atenas um filósofo de nome Sócrates que foi
imortalizado por alguns dos seus discípulos, de entre os quais se destacou
Platão, que nos livros que escreveu deu a conhecer o pensamento do grande
filósofo. A frase lapidar de Sócrates, "só sei que nada sei",
simboliza a sua incessante procura da Verdade e revela a humildade de quem
reconhece a dificuldade - ou a impossibilidade! - em atingir o verdadeiro
conhecimento, o espistemé. Por amor à Verdade e à Justiça, Sócrates
aceitou o veredito de quem o acusava de não obedecer aos deuses e de, com as
suas ideias, perverter os jovens. Bebeu voluntariamente, até à última gota, a
cicuta letal para cumprir a sentença à pena capital a que fora condenado pelos
juízes de Atenas.
Na atualidade portuguesa, suspeito de enriquecimento ilícito, um outro Sócrates enche os noticiários das televisões e as páginas dos jornais. A suspeição, que recai sobre este ex-governante, liberta incontidas emoções nos espíritos, causa polémica nos debates e incendeia paixões. A opinião sobre a sua pessoa e os factos que levaram à sua detenção - raramente vista com indiferença -, é o assunto mais fraturante da sociedade portuguesa nos dias que correm.
Estas duas personagens parecem ter em comum apenas o nome. O ateniense valoriza a verdade, está desapegado do poder e das riquezas materiais. Ele sabe que só o verdadeiro conhecimento lhe traz a sabedoria. O lusitano mostra acreditar que só tem certezas: "sabe que tudo sabe". Neste aspeto, estará próximo dos sofistas gregos que usavam a retórica para convencer o povo e para quem a doxa importava mais do que o epistemê. O português faz lembrar os príncipes da renascença ciosos dos seus séquitos e amantes da envolvência perfumada do poder. E traz-nos à memória O Príncipe de Nicolau Maquiavel, a cartilha para conquistar e preservar o poder e que, neste domínio, defende o princípio de que os fins justificam os meios.
Na Europa Medieval e nos anos que precederam a Revolução Francesa e a independência da América, o poder era considerado como tendo origem divina. O soberano administrava a justiça e só prestava contas a Deus ou à igreja que o representava. De tal modo, que na Inglaterra de Henrique VIII a igreja incómoda foi subjugada ao poder do soberano. Mas, em última análise e na ausência de uma moderação acima dos homens, só a força das armas ou os jogos de poder asseguravam a sua manutenção.
Nos modernos estados ocidentais laicos a religião - mais propriamente a igreja - já tem pouca influência. O poder democrático emana do povo e são as leis produzidas pelos seus representantes que o regulam e limitam. Mas a democracia tem-se revelado imperfeita: após a revolução industrial a economia e a sua exigência em fortalecer o poder industrial e financeiro sobrepuseram-se e condicionaram o poder político. No nosso tempo a globalização - afinal a economia! -, impondo a submissão dos governos aos mercados, é um outro forte condicionante do poder. Não esquecendo o poder dos media que, quando manipulados fazem opinião, constroem e destroem a imagem dos políticos e, deste modo, interferem com o sentido do voto.
No plano das leis e dos princípios - se quisermos até no plano moral, pois legal e moral tendem a confundir-se-, o poder da Justiça acaba por ser a única limitação ao poder político e económico. Por isso, nos estados democráticos o poder judicial independente adquire uma nova força. O caso do impeachment do presidente Nixon ocorrido nos EUA, depois de um complexo e prolongado processo judicial, ficará para a história como um caso exemplar. No Portugal recente temos tido exemplos desta situação, veja-se, por exemplo, a atuação do Tribunal Constitucional. E não existe alternativa nem proposta para outro poder moderador que não seja o judicial.
Sócrates está, assim, nas antípodas de Sócrates. Nas encruzilhadas da vida que, a cada momento, surgem na nossa frente uma escolha exclui a outra. E não se trata apenas de escolher entre pessoas, mas entre arquétipos subjacentes a valores éticos. A opção, que fizermos, irá condicionar o nosso futuro.
Na atualidade portuguesa, suspeito de enriquecimento ilícito, um outro Sócrates enche os noticiários das televisões e as páginas dos jornais. A suspeição, que recai sobre este ex-governante, liberta incontidas emoções nos espíritos, causa polémica nos debates e incendeia paixões. A opinião sobre a sua pessoa e os factos que levaram à sua detenção - raramente vista com indiferença -, é o assunto mais fraturante da sociedade portuguesa nos dias que correm.
Estas duas personagens parecem ter em comum apenas o nome. O ateniense valoriza a verdade, está desapegado do poder e das riquezas materiais. Ele sabe que só o verdadeiro conhecimento lhe traz a sabedoria. O lusitano mostra acreditar que só tem certezas: "sabe que tudo sabe". Neste aspeto, estará próximo dos sofistas gregos que usavam a retórica para convencer o povo e para quem a doxa importava mais do que o epistemê. O português faz lembrar os príncipes da renascença ciosos dos seus séquitos e amantes da envolvência perfumada do poder. E traz-nos à memória O Príncipe de Nicolau Maquiavel, a cartilha para conquistar e preservar o poder e que, neste domínio, defende o princípio de que os fins justificam os meios.
Na Europa Medieval e nos anos que precederam a Revolução Francesa e a independência da América, o poder era considerado como tendo origem divina. O soberano administrava a justiça e só prestava contas a Deus ou à igreja que o representava. De tal modo, que na Inglaterra de Henrique VIII a igreja incómoda foi subjugada ao poder do soberano. Mas, em última análise e na ausência de uma moderação acima dos homens, só a força das armas ou os jogos de poder asseguravam a sua manutenção.
Nos modernos estados ocidentais laicos a religião - mais propriamente a igreja - já tem pouca influência. O poder democrático emana do povo e são as leis produzidas pelos seus representantes que o regulam e limitam. Mas a democracia tem-se revelado imperfeita: após a revolução industrial a economia e a sua exigência em fortalecer o poder industrial e financeiro sobrepuseram-se e condicionaram o poder político. No nosso tempo a globalização - afinal a economia! -, impondo a submissão dos governos aos mercados, é um outro forte condicionante do poder. Não esquecendo o poder dos media que, quando manipulados fazem opinião, constroem e destroem a imagem dos políticos e, deste modo, interferem com o sentido do voto.
No plano das leis e dos princípios - se quisermos até no plano moral, pois legal e moral tendem a confundir-se-, o poder da Justiça acaba por ser a única limitação ao poder político e económico. Por isso, nos estados democráticos o poder judicial independente adquire uma nova força. O caso do impeachment do presidente Nixon ocorrido nos EUA, depois de um complexo e prolongado processo judicial, ficará para a história como um caso exemplar. No Portugal recente temos tido exemplos desta situação, veja-se, por exemplo, a atuação do Tribunal Constitucional. E não existe alternativa nem proposta para outro poder moderador que não seja o judicial.
Sócrates está, assim, nas antípodas de Sócrates. Nas encruzilhadas da vida que, a cada momento, surgem na nossa frente uma escolha exclui a outra. E não se trata apenas de escolher entre pessoas, mas entre arquétipos subjacentes a valores éticos. A opção, que fizermos, irá condicionar o nosso futuro.
Luís Queirós
in http://poscarbono.blogspot.pt/2014/11/socrates-vs-socrates.html
Avante!
Grande senhor! Tem sido e certamente continuará a ser um grande exemplo para o mundo, particularmente o mundo da Política e da governação.
"Não, o poder não muda as pessoas; apenas revela quem elas são na realidade."
Uma frase simples que encerra exatamente o que é fundamental dizer-se, particularmente nestes tempos em que a Política e a ação governativa tão ofendida tem sido por quem dela se tem aproveitado para singrar na vida. Na sua vida, claro, e não na vida do povo, na vida democrática.
Esta frase de José Mujica deveria ser traduzida e colocada em todos os cruzamentos de todas as vilas, cidades e aldeias do nosso país! Afinal, em todo o mundo, porque, infelizmente, em todo o mundo cresce o polvo da corrupção, do compadrio, dos eternamente candidatos a políticos mas dos eternamente aproveitadores da Política para fins pessoais, familiares e corporativos.
Se houvesse Ética e uma Justiça mais atenta e mais atuante, os políticos que nos representam seriam escolhidos de forma muito mais verdadeira e coerente e, se mais tarde revelassem que na Política não estão para servir, antes, para servir-se, seriam imediatamente presos e exemplarmente julgados para nunca mais dela se abeirarem.
Eu acredito na Política, sim, e na força do povo como único fator de mudança para uma sociedade justa.
Em Portugal, volvidos 40 anos pós 25 de Abril, é com muita revolta e muita tristeza que vejo ao ponto a que chegámos em matéria de Estado Social e de democraticidade nas nossas instituições!
Mas ninguém está inocente neste processo dramático de assistirmos ao delapidar dos valores e direitos conquistados no dia 25 de Abril de 1974!
Quem cala consente, e a infelicidade tem sido, também, resultante de uma inação quase letárgica e fatal que vai permitindo cá como noutras paragens, políticas corruptas, fascizantes, até cruéis nas medidas que adotam, tal a insensibilidade com que decidem e impõem legislação, não para eles mas sim para nós, não para os seus mas sim para os nossos.
Todos temos tido culpa pelo estado a que chegou a nossa democracia. Uns mais do que outros.
Todos, sobretudo os que, como eu, sentem a angústia de um povo à deriva que não se une e não se mobiliza, apesar das diferenças, apesar das sensibilidades, mesmo quando em causa está a manutenção do regime democrático e os valores consignados na nossa Constituição.
Avante!
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
(poema de Eugénio de Andrade)
Nazaré Oliveira
domingo, 30 de novembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
Colégios privados e escolas públicas
Sem dança de professores, colégios têm caminho aberto
para o sucesso.
Nos colégios os
professores entram em norma para ficar e isso faz toda a diferença nos
resultados obtidos pelos alunos. É uma das vantagens em relação às escolas
públicas destacadas pelos directores dos privados que lideram o ranking do
secundário.
Bons resultados
escolares não conjugam por norma com “professores muito desmotivados e
zangados”. E é neste estado de espírito, palpável nas escolas públicas, que a
directora do Colégio Moderno, de Lisboa, Isabel Soares, encontra uma das razões
que levaram este ano a mais um recuo daquelas no ranking das
secundárias, que no PÚBLICO é elaborado com base nas médias obtidas nos oito
exames mais concorridos.
Os colégios não se
podem queixar de tal. Para além de estável, no Moderno o corpo docente também
“acredita no projecto educativo” do colégio, frisa Isabel Soares em declarações
ao PÚBLICO.
O Moderno ocupa o
segundo lugar no ranking das secundárias de 2014, com um média de 14,2
valores (numa escala de 0 a 20). O primeiro volta a pertencer ao colégio Nossa
Senhora do Rosário, no Porto, com um resultado de 14,41. Em 2001, quando foram
publicados os primeiros rankings, a primeira escola pública da lista
aparecia em terceiro lugar com uma média de 13,7. Este ano, é preciso chegar ao
34.º lugar para encontrar uma e a sua média foi de 12,41.
“A estabilidade do
corpo docente é muito importante” para garantir boas aprendizagens e esse é um
factor que também “não se encontra nas públicas”, destaca Isabel Soares.
Até 2007, era algo que
as grandes escolas públicas dos centros urbanos também davam como garantido,
mas que colapsou com as sucessivas vagas de reformas antecipadas iniciadas no
tempo da então ministra socialista da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Em
sete anos reformaram-se cerca de 25 mil docentes. No agrupamento Filipa de
Lencastre, em Lisboa, “60% dos professores do quadro foram embora” nesse
período, enumera a sua directora, Gabriela Vieira da Silva. Uma das
consequências: só no ano passado entraram para este agrupamento 50 novos
professores de carreira. “Ainda quase nem houve tempo para passar a palavra,
para apreenderam a cultura da escola”, constata, frisando que tal não se faz
num período inferior a três anos. “E quando chegarmos lá, se calhar mudam outra
vez de escola”, lamenta.
O agrupamento Filipa de
Lencastre está inserido no contexto socioeconómico mais favorável dos três que
a Universidade Católica elaborou para o PÚBLICO com base na percentagem de
alunos que beneficiam de acção social escolar e na habilitação média dos pais
(anos que frequentaram a escola). No primeiro ano dos rankings do
secundário, em 2001, esta escola estava em 9.º lugar. Este ano ocupa o 72.º. E
é precisamente nesta “nova” instabilidade do seu corpo docente que Gabriela
Vieira da Silva encontra uma das razões principais para a descida. “Por causa
dos problemas na colocação de professores, este ano lectivo tivemos vários que
eram esperados no início de Setembro e que só vieram a 29 de Outubro. Há alunos
que perderam 30 aulas de Português e Matemática. Temos algum receio quanto aos
resultados”, adverte.
De acordo com os dados
fornecidos pelo Ministério da Educação 40% dos agrupamentos/escolas não
agrupadas têm menos de 80% dos seus professores no quadro.
A importância da
“dimensão humana”
O Colégio Nossa Senhora do Rosário, que pertence ao Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, lidera pela terceira vez o ranking do PÚBLICO e esteve sempre presente entre as 20 escolas melhores classificadas. Esta permanência nos lugares cimeiros, que também se verifica no ranking do básico (elaborado com base na médias dos dois exames realizados no 9.º ano), deve-se, segundo o seu director, João Trigo, a uma “cultura instalada de excelência e de procura de todas as oportunidades de melhoria contínua”.
O Colégio Nossa Senhora do Rosário, que pertence ao Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, lidera pela terceira vez o ranking do PÚBLICO e esteve sempre presente entre as 20 escolas melhores classificadas. Esta permanência nos lugares cimeiros, que também se verifica no ranking do básico (elaborado com base na médias dos dois exames realizados no 9.º ano), deve-se, segundo o seu director, João Trigo, a uma “cultura instalada de excelência e de procura de todas as oportunidades de melhoria contínua”.
João Trigo não tem
dúvidas de que o facto de o colégio ser uma escola católica também tem
contribuído para o seu lugar de destaque. É uma escola, descreve, em resposta
por escrito, que “para além do foco nos resultados académicos procura também a
excelência na formação humana dos seus alunos”. Por exemplo, “muitos deles
estão intensamente envolvidos em projectos de voluntariado”.
Ao longo de 14 anos de rankings,
só três colégios laicos têm repetidamente conseguido romper com a hegemonia das
escolas religiosas. O Moderno é um deles e Isabel Soares aponta também como uma
das razões para este feito o facto de terem “um projecto educativo que está
centrado na educação para os valores”. “Os valores humanísticos são
fundamentais. Fomentamos a tolerância, o sentido crítico, o saber ouvir os
outros. Os nossos alunos distinguem-se pela sua formação cívica”, explica.
“Estamos convictos que
mais do que formar bons alunos, formamos excelentes pessoas”, realça, por seu
lado, João Trigo, para quem estes são, afinal, dois lados da mesma equação:
“Pessoas bem formadas são tendencialmente melhores alunos.” O que admira estes
responsável é “que muitas famílias e responsáveis de algumas escolas continuem a
julgar que é por se sobrecarregar os alunos exclusivamente com aulas e tarefas
escolares, que estes terão mais êxito”.
Quanto vale a selecção
de alunos?
“Não se pode comparar um colégio privado de uma grande cidade com uma pequena escola pública do interior do país”, ressalva Isabel Soares. Nos bons resultados do colégio pesam também a origem socioeconómica dos seus alunos — “a esmagadora maioria têm pais com profissões liberais” — e o facto de a maioria destes frequentar o colégio desde a pré-primária até ao final do secundário. “É outra das grandes vantagens de muitas escolas privadas por comparação com as escolas públicas”, diz.
“Não se pode comparar um colégio privado de uma grande cidade com uma pequena escola pública do interior do país”, ressalva Isabel Soares. Nos bons resultados do colégio pesam também a origem socioeconómica dos seus alunos — “a esmagadora maioria têm pais com profissões liberais” — e o facto de a maioria destes frequentar o colégio desde a pré-primária até ao final do secundário. “É outra das grandes vantagens de muitas escolas privadas por comparação com as escolas públicas”, diz.
“Haverá escolas
públicas com excelentes profissionais, que fazem um excelente trabalho, mas
lidam com populações estudantis muito difíceis, com problemas sociais aos mais
diversos níveis. A essas não podemos exigir que tenham os mesmos resultados,
por muito bom trabalho que realizem”, corrobora João Trigo, ressalvando,
contudo, que “há outras públicas que acabam por não ter alunos assim tão
diferentes” dos do seu colégio, mas que “por força de outros constrangimentos,
alguns de origem sistémica, não conseguem produzir resultados ao nível do que
seria exigível”.
“Nós não podemos
seleccionar os nossos alunos e essa é uma grande diferença por comparação ao
ensino privado, onde os alunos mais fracos são muitas vezes convidados a sair
do colégio a meio do caminho. Temos tido casos desses aqui na escola”,
contrapõe Gabriela Vieira da Silva, Tanto Isabel Soares, como João Trigo, negam
que esta seja uma prática nas suas escolas. “Temos por princípio que se os
alunos trabalham, merecem ir a exames, mesmo sabendo que provavelmente vão ter
maus resultado”, garante a primeira. João Trigo assegura que “há escolas que
conseguem bons resultados à custa de deixarem muitos alunos pelo caminho”, mas
garante que esse não é o caso do seu colégio, precisando, a propósito, que “dos
514 exames realizado no colégio para aprovação, apenas 20 foram realizados por
alunos autopropostos e destes só cinco anularam a matrícula por falta de
aproveitamento”.
No Moderno, as
mensalidades variam entre 400 e 460 euros. No Colégio Nossa Senhora do Rosário
vão de 479 a 498 euros.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
domingo, 23 de novembro de 2014
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