terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O marido requeria a entrega e depósito judicial da mulher!





Em 1932, em resposta a uma pergunta de António Ferro sobre qual seria o papel destinado à mulher no novo governo e regime (…) Oliveira Salazar afirmou que «…a mulher casada, como o homem casado, é uma coluna da família, base indispensável de uma obra de reconstrução moral» e «a sua função de mãe, de educadora dos seus filhos, não era inferior à do homem». Segundo ele, devia-se deixar «o homem a lutar com a vida no exterior, na rua… E a mulher a defendê-la, no interior da casa».

Para Salazar, os homens e as mulheres não eram encarados como indivíduos mas como membros da família, o núcleo primário «natural» e «orgânico» do Estado Novo corporativo.

As mulheres, que constituíam o «esteio» dessa família tradicional defendida pela ideologia salazarista, tinham sido atiradas pelo regime liberal para o mercado de trabalho onde entravam em concorrência com os homens e, por isso, com o novo regime, deveriam regressar ao «lar». Para defender esse regresso à família e a separação de esferas de actuação entre homens e mulheres, Salazar aparentemente valorizou o papel de mãe e de esposa. Mas a apregoada «superioridade» feminina era derivada da sua função «natural» – portanto biológica.

Como a ideologia salazarista não se pautou pelos conceitos de «cidadania», de «igualdade» e de «liberdade», só aceitou o princípio da «diferença sem a igualdade» em vez «da igualdade na diferença», reservou às mulheres uma esfera própria de actuação – privada e pública – mas não atribuiu ao espaço feminino um valor igual ao do masculino.

(…) As leis que no regime salazarista regularam os direitos políticos das mulheres e a sua situação na família, no trabalho e na sociedade, basearam-se na Constituição de 1933.


Embora afirmando a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e negando «o privilégio do sexo», esta incluía uma cláusula que consagrava as excepções ao princípio de igualdade constitucional: «salvo, quanto às mulheres, as diferenças da sua natureza e do bem da família».

(…) O Código do Processo Civil de 1939 reintroduziu o poder concedido ao marido de requerer a entrega e «depósito» judicial da mulher casada. Este possibilitava ao marido, em caso de saída da mulher da casa familiar, exigir judicialmente que ela fosse aí compulsivamente «depositada» em sua casa, como se fosse um fardo.

As mulheres deixaram também de poder exercer comércio, viajar para fora do país, celebrar contratos e administrar bens sem o consentimento do marido. (…) O casamento tornou-se indissolúvel (…) e todos os casados pela Igreja – a larguíssima maioria -, que se separavam, já não se podiam voltar a casar. Esta situação (…) gerou (…) ligações extra-matrimoniais não legalizadas e aumentou o número, já de si grande, dos filhos ilegítimos.

(…) Curiosamente, o Estado Novo foi o primeiro a conceder em Portugal o direito de voto e de elegibilidade às mulheres, embora sob certas condições (…). No entanto, (Salazar) especificou que o voto feminino não tinha sido conquistado pelas mulheres mas «decretado» pelo Chefe.

Texto (parte)  apresentado por Irene Pimentel na sessão de abertura do Congresso Feminista/ 26 de Junho de 2008, in  caminhosdamemoria.wordpress.com

domingo, 22 de janeiro de 2012

Para compreender a linguagem financeira

Achei muito interessante esta publicação no ABC de PPM. De facto, considero cada vez mais necessário que o dito cidadão "comum" tenha um entendimento razoável, mínimo que seja, de assuntos sobre Finanças e Economia. Por razões óbvias, claro!
E a Comunicação Social, sem dúvida, é o grande manual, a grande lição e a grande escola para esse cidadão.
Aqui fica.

Tive hoje a oportunidade de assistir a uma conferência na Universidade de Osaka, em que o orador era o holandês Joris Luyendijk, jornalista e autor de obras recentes sobre as mudanças que o sector da comunicação social está a viver na actualidade. É também o autor de um dos blogues do The Guardian, chamado ‘The Joris Luyendijk Banking Blog – Going Native in the World of Finance’. A intenção do blogue é explicar ao cidadão comum a complexa linguagem do sector financeiro, através do testemunho daqueles que vivem e trabalham no mundo financeiro dia após dia.
Luyendijk salientou que na sua perspectiva hoje vive-se uma guerra entre os políticos e os mercados financeiros. O problema surge quando o nível de responsabilização daqueles que actuam no mercado financeiro é muito menor do que aqueles que actuam nos palcos políticos democráticos. Outro problema surge para a comunicação social, todos sabem que político entrevistar dependendo da problemática que está a ser discutida. Porém quem é que dá a cara pelos mercados financeiros? Normalmente os actores financeiros escondem-se entre influentes firmas de Relações Públicas e não são obrigados a prestar declarações nem a justificarem-se perante os cidadãos do país onde actuam.
Fica aqui a recomendação da leitura da obra aclamada de Luyendijk em inglês "Hello, Everybody!" (UK) or “People Like Us” (US).

in http://abcdoppm.blogs.sapo.pt/

sábado, 21 de janeiro de 2012

Talking about REVOLUTION

Deputados da Assembleia da República optaram por ser carrascos

Aqui ou em qualquer lugar, um carrasco é sempre um carrasco. E o rosto e o olhar de um carrasco é sempre um rosto e um olhar como o deste carrasco.

Ontem, na Assembleia da República esteve em causa o futuro dos Touros e dos Cavalos, em Portugal, baseado numa exigência ética, que se quer para um país civilizado e culto.

Discutia-se uma Petição com mais de sete mil assinaturas de Portugueses conscientes de viverem na modernidade, e em que se pedia a Abolição das Touradas em Portugal, que como se sabe é um acto sádico, medieval e covarde mascarado de “tradição”.

Ontem, deveria optar-se entre a VIDA e a TORTURA. Condenar-se-ia os Touros e os Cavalos ao massacre e ao sofrimento? Ou deixá-los-iam viver em liberdade, como é de seu direito? Essa era a grande questão.

Ontem, os deputados da Nação decidiram.

CARRASCOS OU LIBERTADORES dos Touros e dos Cavalos?

Ontem, para meu grande espanto, os deputados optaram por ser CARRASCOS.

Em nome de quê? Obviamente em nome do lobby económico (ao qual se rendem vergonhosamente) e da ignorância.

Durante vinte minutos, ouviu-se da boca dos representantes dos seis partidos com assento parlamentar, uma enxurrada de “nadas” que envergonhou Portugal e os Portugueses cultos.

Isabel Aguincha (PSD) centrou-se na liberdade individual. Podemos então maltratar um ser vivo quando nos der na gana.

Gabriela Canavilhas (PS), que todos sabemos ser uma aficionada ferrenha, e que está a marimbar-se para a Cultura, pensa que a liberdade da diversidade é que é, ainda que essa liberdade vá contra a liberdade de outros seres vivos, como o de terem o direito à VIDA.

Teresa Anjinho (CDS-PP) mais valia estar calada, porque só desprestigiou o partido que representa e Portugal. A actividade económica e a questão jurídica estão acima de qualquer valor humano. A VIDA que se lixe.

Paulo Sá (PCP), nem foi carne nem peixe. Estão abertos à reflexão, mas não à proibição. O que resumindo, não é nada. Então para quê reflectir? Mas não admira nada, com os antecedentes de tortura deste partido. O que mudou desde Staline?

Heloísa Apolónia (PEV) entende que a tauromaquia é CULTURA, mas é coisa que pode mudar. O que é importante é conhecer a violência no espectáculo... Como se toda a gente já não soubesse que a tourada é um dos espectáculos com maior VIOLÊNCIA. Mais valia estar calada.

Catarina Martins (BE) mostrou-se claramente contra a Tourada. Foi o único partido que o fez. Estão ao lado dos peticionários, e a Tourada é algo que deve acabar. Sim. Vamos à luta. É uma exigência ética.

Para ouvir as suas palavras o BE disponibilizou este vídeo na Internet:


Depois de ouvir o que ouvi, fiquei cheia de VERGONHA. Exceptuando o Bloco de Esquerda, que se abeirou do bom senso, os restantes partidos demonstraram uma mediocridade cultural estarrecedora.

Em nenhuma intervenção (à excepção do BE) se discutiu o SOFRIMENTO DOS ANIMAIS, que para os nossos deputados não deve ter qualquer importância, o que demonstra uma falta de sensibilidade atroz.

Vinte minutos de pobreza mental. Como podemos estar entregues a gente tão inculta, tão insensível, tão ignorante?

Ignorantes, sim. Nada sabem de Biologia, de Ética, de Antropologia, de Anatomia, de Sofrimento. E dizem-se doutores, frequentaram universidades. São os “senhores deputados”. Mas optaram por ser CARRASCOS. Em vez de defenderem o que é prestigiante para Portugal, defenderam o que o coloca no charco.

Não tiveram a CORAGEM CÍVICA de defender os valores da Cultura Culta, mas tão só os seus próprios gostos e interesses pessoais.

Eu tenho de dizer francamente: pensava que o meu País estivesse em mãos de gente lúcida e com exigências éticas. Gente culta e iluminada. Mas ENGANEI-ME redondamente.

Venceu a MEDIOCRIDADE.

Para finalizar, não resisto a transcrever o que disse o Professor Paulo Borges (do PAN – Partido dos Animais e da Natureza), acerca do que ontem se passou na Assembleia da República, e que subscrevo inteiramente:

«Os deputados eleitos pelos portugueses manifestaram-se hoje (ontem) maioritariamente a favor da continuação das touradas em Portugal e mesmo os que assumiram ser contra nada fizeram de concreto para avançar com um projecto-lei contra elas. Os que falaram de cultura e liberdade do homem omitiram a escravidão e o sofrimento de um animal como nós, inteligente e senciente. Com isto mostraram ser coniventes com o crime moral de torturar animais inocentes para gozo e embrutecimento de uma minoria humana e mostraram ser completamente indiferentes à ética, à ciência, ao progresso da civilização e ao desprestígio internacional de Portugal. Os portugueses que tirem as devidas conclusões acerca de quem os representa. Eu já tirei as minhas há muito tempo.»

E eu também.

Portugal está na cauda da Europa. E continuará na cauda da Europa com estes deputados, mentalmente cegos, que ainda não saíram da Idade Média, a (des)governá-lo.

A TOURADA cairá em Portugal, como está a cair nos restantes oito países. É uma questão de tempo (pouco). Isto é um dado adquirido. Queiram ou não os deputados da Nação. Ou pretendem ficar “orgulhosamente sós” na sua mediocridade, enquanto o mundo evolui?

Ontem venceu a IGNORÂNCIA.

Em breve vencerá a LUCIDEZ.


Obrigada, Isabel Ferreira.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

JFK - mataram-no a seguir

Absolutamente de acordo com Tiago Mesquita quando, hoje, no seu blogue (do EXPRESSO), diz:.

"Foram precisos vários tiros de espingarda para calar este senhor. A verdade é que ele mexeu com quase tudo o que estava instituído. Pior, mexeu com tudo aquilo que não se vê, com o negro, com o sórdido. E remexeu de tal forma nos poderes instalados, ocultos e nebulosos que ainda hoje se desconhece quem esteve por detrás do seu assassinato. Os cubanos, a mafia, os russos, a própria CIA, banqueiros e grandes fortunas no estrangeiro que ele insistia em querer taxar, todos juntos, enfim.
Há versões de todo o género e para todos os gostos.
Nunca se vai saber. Foi feito para ser assim, um segredo que estava destinado a morrer com ele.
Agora o fascinante, verdadeiramente arrepiante, é ouvir este discurso e perceber que este senhor continua a ser um dos políticos que maior visão, coragem, e que estranhamente, ou não, mantém um discurso actual que na altura lhe foi fatal.

Tudo o que ele disse na altura é verdade e aplica-se aos dias de hoje.

Foi o seu último discurso. E que discurso! Depois, mataram-no.

Já não há políticos assim. Infelizmente."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012