sábado, 21 de janeiro de 2012

Deputados da Assembleia da República optaram por ser carrascos

Aqui ou em qualquer lugar, um carrasco é sempre um carrasco. E o rosto e o olhar de um carrasco é sempre um rosto e um olhar como o deste carrasco.

Ontem, na Assembleia da República esteve em causa o futuro dos Touros e dos Cavalos, em Portugal, baseado numa exigência ética, que se quer para um país civilizado e culto.

Discutia-se uma Petição com mais de sete mil assinaturas de Portugueses conscientes de viverem na modernidade, e em que se pedia a Abolição das Touradas em Portugal, que como se sabe é um acto sádico, medieval e covarde mascarado de “tradição”.

Ontem, deveria optar-se entre a VIDA e a TORTURA. Condenar-se-ia os Touros e os Cavalos ao massacre e ao sofrimento? Ou deixá-los-iam viver em liberdade, como é de seu direito? Essa era a grande questão.

Ontem, os deputados da Nação decidiram.

CARRASCOS OU LIBERTADORES dos Touros e dos Cavalos?

Ontem, para meu grande espanto, os deputados optaram por ser CARRASCOS.

Em nome de quê? Obviamente em nome do lobby económico (ao qual se rendem vergonhosamente) e da ignorância.

Durante vinte minutos, ouviu-se da boca dos representantes dos seis partidos com assento parlamentar, uma enxurrada de “nadas” que envergonhou Portugal e os Portugueses cultos.

Isabel Aguincha (PSD) centrou-se na liberdade individual. Podemos então maltratar um ser vivo quando nos der na gana.

Gabriela Canavilhas (PS), que todos sabemos ser uma aficionada ferrenha, e que está a marimbar-se para a Cultura, pensa que a liberdade da diversidade é que é, ainda que essa liberdade vá contra a liberdade de outros seres vivos, como o de terem o direito à VIDA.

Teresa Anjinho (CDS-PP) mais valia estar calada, porque só desprestigiou o partido que representa e Portugal. A actividade económica e a questão jurídica estão acima de qualquer valor humano. A VIDA que se lixe.

Paulo Sá (PCP), nem foi carne nem peixe. Estão abertos à reflexão, mas não à proibição. O que resumindo, não é nada. Então para quê reflectir? Mas não admira nada, com os antecedentes de tortura deste partido. O que mudou desde Staline?

Heloísa Apolónia (PEV) entende que a tauromaquia é CULTURA, mas é coisa que pode mudar. O que é importante é conhecer a violência no espectáculo... Como se toda a gente já não soubesse que a tourada é um dos espectáculos com maior VIOLÊNCIA. Mais valia estar calada.

Catarina Martins (BE) mostrou-se claramente contra a Tourada. Foi o único partido que o fez. Estão ao lado dos peticionários, e a Tourada é algo que deve acabar. Sim. Vamos à luta. É uma exigência ética.

Para ouvir as suas palavras o BE disponibilizou este vídeo na Internet:


Depois de ouvir o que ouvi, fiquei cheia de VERGONHA. Exceptuando o Bloco de Esquerda, que se abeirou do bom senso, os restantes partidos demonstraram uma mediocridade cultural estarrecedora.

Em nenhuma intervenção (à excepção do BE) se discutiu o SOFRIMENTO DOS ANIMAIS, que para os nossos deputados não deve ter qualquer importância, o que demonstra uma falta de sensibilidade atroz.

Vinte minutos de pobreza mental. Como podemos estar entregues a gente tão inculta, tão insensível, tão ignorante?

Ignorantes, sim. Nada sabem de Biologia, de Ética, de Antropologia, de Anatomia, de Sofrimento. E dizem-se doutores, frequentaram universidades. São os “senhores deputados”. Mas optaram por ser CARRASCOS. Em vez de defenderem o que é prestigiante para Portugal, defenderam o que o coloca no charco.

Não tiveram a CORAGEM CÍVICA de defender os valores da Cultura Culta, mas tão só os seus próprios gostos e interesses pessoais.

Eu tenho de dizer francamente: pensava que o meu País estivesse em mãos de gente lúcida e com exigências éticas. Gente culta e iluminada. Mas ENGANEI-ME redondamente.

Venceu a MEDIOCRIDADE.

Para finalizar, não resisto a transcrever o que disse o Professor Paulo Borges (do PAN – Partido dos Animais e da Natureza), acerca do que ontem se passou na Assembleia da República, e que subscrevo inteiramente:

«Os deputados eleitos pelos portugueses manifestaram-se hoje (ontem) maioritariamente a favor da continuação das touradas em Portugal e mesmo os que assumiram ser contra nada fizeram de concreto para avançar com um projecto-lei contra elas. Os que falaram de cultura e liberdade do homem omitiram a escravidão e o sofrimento de um animal como nós, inteligente e senciente. Com isto mostraram ser coniventes com o crime moral de torturar animais inocentes para gozo e embrutecimento de uma minoria humana e mostraram ser completamente indiferentes à ética, à ciência, ao progresso da civilização e ao desprestígio internacional de Portugal. Os portugueses que tirem as devidas conclusões acerca de quem os representa. Eu já tirei as minhas há muito tempo.»

E eu também.

Portugal está na cauda da Europa. E continuará na cauda da Europa com estes deputados, mentalmente cegos, que ainda não saíram da Idade Média, a (des)governá-lo.

A TOURADA cairá em Portugal, como está a cair nos restantes oito países. É uma questão de tempo (pouco). Isto é um dado adquirido. Queiram ou não os deputados da Nação. Ou pretendem ficar “orgulhosamente sós” na sua mediocridade, enquanto o mundo evolui?

Ontem venceu a IGNORÂNCIA.

Em breve vencerá a LUCIDEZ.


Obrigada, Isabel Ferreira.