quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal, consumismo...







Quando chega o Natal, questiono-me sempre se, de facto, ele é vivido como deveria ser: com a alegria da partilha ou o sorriso de quem gosta de nós a valer!
Perdidos na imensidão do consumismo e envolvidos pelas luzes coloridas desta quadra, naufragamos em gestos ensaiados e submergimos em prendas, fitas coloridas e papéis brilhantes, animados por uma boa mas estranha sensação de bem-estar.
De dever cumprido.
Nem sempre nos damos conta de que o Natal é, acima de tudo, momento de festa, festa interior, comunhão, paz, diálogo.
O desejo de querer que tudo de bom acontecesse e que cada um de nós fosse uma parte importante nesse acontecer.
E que esse bom acontecer fosse tão simples como simples é sorrir, dar um bom-dia a quem passa, ouvir histórias de uma solidão envelhecida, mandar uma mensagem a um amigo doente, ausente, ajudar, chegar ao fim do dia e sentir que o pouco que demos nos fez melhores.
Agir em consciência na defesa dos valores da solidariedade e da paz para o mundo inteiro. Com seriedade e determinação. Sem artificialismos.
Num mundo marcado pela globalização, pela progresso científico e tecnológico, morre-se de fome, de indiferença, de abandono. De desumanidade.
Vivemos os dias à procura da luz, do brilho, da cor, esquecidos que o Sol chega, todas as manhãs, mesmo no dia de Natal.




Nazaré Oliveira

domingo, 22 de dezembro de 2013

Deus abomina sacríficios e holocaustos


Um artigo de Rui Palmela. Muito interessante.
Aqui fica.








Um dia destes estava eu falando com alguém, com quem tive a oportunidade de dizer o que penso sobre o morticínio de animais todos os dias, sacrificados para a nossa errada forma de alimentação (pois não somos carnívoros) e essa pessoa tentou justificar que já no tempo de Jesus Cristo e antes disso se matavam animais em holocaustos oferecidos a Deus como se ele fosse um carniceiro apreciador de cadáveres incinerados, com cheiro de carne e sangue queimados cujos odores subissem até às suas ‘narinas’.

Há mesmo quem, fazendo leituras bíblicas e suas interpretações, dá respostas pessoais dizendo que “Deus exigia sacrifícios de animais para que a humanidade pudesse receber perdão dos seus pecados”... Referindo-se ao Levítico 4:35 e outros versículos que no meu entender são autênticos disparates que induziram em erro as multidões ligadas às religiões que mantêm ainda viva hoje uma prática de morte com sacrifícios de animais inocentes cujo sangue é derramado injustamente.

Tudo isto se junta à chacina diária de animais abatidos e esquartejados para a nossa alimentação, cujas origens parece terem sido alimentadas pelos rituais e tradições da Religião. Aliás, as duas grandes religiões do Mundo, cristã e muçulmana, sacrificam ainda, em datas festivas (páscoa, natal, etc.), tantos animais como já o faziam em tempos ancestrais.

A verdade porém é que nem mesmo Maomé nem Jesus Cristo mandaram fazer isto, antes pelo contrário: “Vim para abolir as festas sangrentas e os sacrifícios, e se não cessais de sacrificar e comer carne e sangue dos animais, a ira de Deus não terminará de persegui-los, como também perseguiu a vossos antepassados no deserto, que se dedicaram a comer carne e que foram eliminados por epidemias e pestes...” (Isto está escrito no capitulo 21 do “Evangelho dos Doze Santos”, um dos Manuscritos encontrados nas cavernas de Qumram junto ao Mar Morto).

E Maomé também teria dito:

“Aquele que tem piedade (até) para com um pardal e poupa sua vida, Alá ser-lhe-á misericordioso no dia do julgamento... Uma boa ação feita a um animal é tão meritória quanto uma boa ação feita a um ser humano, enquanto um ato de crueldade a um animal é tão ruim quanto um ato de crueldade para um ser humano”.

De resto, a mutilação ou interferência no corpo de um animal vivo que lhe cause dor ou deformação contraria os princípios islâmicos, diz o imã Al-Hafiz Basheer Ahmad Masri.

Por fim, pela voz do Profeta Isaías, Deus disse:

“De que me serve a multidão de vossos sacrifícios? Já estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isso (tais sacrifícios) de vossas mãos e viésseis pisar meus átrios?”

E até mesmo referindo-se a outro género de cultos falsos, Deus dizia também o seguinte:

“Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem mesmo o ajuntamento solene. As vossas luas novas e as vossas solenidades aborrecem a minha alma; já me são pesadas, já estou cansado de as sofrer...

“Quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós meus olhos: sim, quando multiplicais as vossas orações (tantas vezes vãs repetições) não as ouço porque as vossas mãos estão cheias de sangue...

“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade dos vossos atos, cessai de fazer o mal: Aprendei a fazer bem, praticai o que é reto...”

 Ora, estas palavras para mim são as mais verdadeiras de um Deus Justo e Bom, que estão escritas no Velho Testamento em Isaías – Cap. 1: 11 a 17.

Portanto, para quem tenha dúvidas ainda e tente justificar dalgum modo o abate cruel de animais, seja para sacrifícios religiosos ou outros, e os da própria alimentação, pode tirar daqui a sua conclusão.

De resto, nem poderia ser doutro modo as palavras de um Deus Coerente que no princípio criou todas as criaturas e deu domínio ao homem sobre todas elas, mas disse “NÃO MATARÁS”, que obviamente não seria só em relação aos seres humanos (que infelizmente se matam uns aos outros em guerras sangrentas e violência fortuita) mas também em relação aos animais que são seres nossos irmãos a quem devemos respeitar e ajudar no percurso de sua evolução.

Esta sim, é a Sabedoria Divina de um Deus Superior em quem acredito e não outros que tenham ensinado os homens a matar ou a sacrificar seres indefesos como acontece ainda hoje com milhões de seres da Criação.

Pausa para reflexão!




Neste Natal dá-te à Luz

Um belíssimo texto do Prof. Paulo Borges. 
Aqui fica.






Natal. Sob pretexto da comemoração do nascimento de um mensageiro da consciência, da paz e do amor, a maioria dos humanos prepara-se para sacrificar alegremente milhões de animais que como nós amam a vida como o mais precioso bem, enquanto já se precipita no frenesim do consumo lançando para um planeta à beira do colapso mais toneladas de lixo que vai levar centenas e milhares de anos a reabsorver e é cúmplice da exploração do trabalho escravo nos países do Sul e do Este. São estas as prendas e o exemplo que deixamos para as gerações futuras. Os grandes grupos económicos agradecem. E tudo para na ressaca do grande festim ficarmos tão tristes, insatisfeitos e vazios como sempre.

É verdade que se vive o Solstício de Inverno, a morte e o renascimento da Vida, que desde sempre foi celebrado com grandes festas, troca de presentes e rituais de inversão dos valores. O Natal de hoje foi um Carnaval na antiguidade, de onde vieram as Festas dos Loucos medievais que ainda se celebravam nas igrejas até serem proibidas pela hierarquia eclesiástica que nelas se via fortemente contestada. É verdade que no Natal se recupera o sentimento de festa, comunidade, generosidade e dom de que a modernidade nos privou, com o novo obscurantismo do progresso pelo trabalho, pelo individualismo, pela ganância e pela eficiência competitiva. É verdade que no Natal os corações se abrem e recordamos que os outros existem. E isso é belo e bom. Mas a festa, a comunhão e a abundância não implicam sacrificar outros seres nem atolar-nos com mais coisas de que não precisamos de todo. A verdadeira festa, comunhão e abundância são as do Coração aberto, fraterno e desperto, que a cada instante abraça tudo e todos. Então todos os dias é Natal, ou seja, Nascimento em nós da eterna Criança amorosa que nos habituámos a esquecer, mas que no fundo sempre somos.

Neste Natal não ponhas vidas mortas na tua mesa. A Vida é só uma e todos os seres são de ti inseparáveis. Neste Natal dá-te à Luz e renasce irradiante do túmulo da vida mesquinha.

Feliz Natal!


domingo, 15 de dezembro de 2013

A vergonha dos líderes europeus na crise dos refugiados sírios




Quando a Amnistia Internacional divulgou esta notícia, infelizmente, não me surpreendi.
Senti a revolta habitual por ver esta Europa egocêntrica, de memória histórica bem curta, desumana e arrogante face a mais uma cenário de morte e destruição, neste caso, na Síria, para a qual há muito se pediu socorro e ajuda humanitária.

Mas poucos olhos se voltaram apesar dos gritos de apelo e dos horrores que nos surgem diariamente em imagens devastadoras de cruéis atrocidades.

Segundo informações recentes de um dos relatórios da Amnistia Internacional, relativamente ao pedido de ajuda de milhares de refugiados, os líderes europeus tiveram uma posição vergonhosa face aos baixos números de sírios que está disposta a acolher.
Fogem da guerra. Procuram a paz.

Neste documento - “An international failure: The Syrian refugeee crisis” (“Um falhanço internacional: A crise dos refugiados sírios”) - a Amnistia mostra como os países membros da União Europeia apenas se ofereceram para abrir portas a cerca de 12 mil dos mais vulneráveis refugiados da Síria (0,5% dos 2,3 milhões de pessoas que fugiram do país desde a eclosão deste sanguinário conflito começado em 2011).

Eu sei que estas situações são sempre muito complicadas e geram muita polémica nos países de acolhimento e na opinião pública. No entanto, partindo sempre daquilo que considero essencial porque de uma obrigação moral se trata - ajudar quem de mim precisa mesmo que aflita eu também esteja -, aceito, como portuguesa e como cidadã do mundo, que estes pedidos desesperados de quem há muito não sabe, seguramente, o que é uma noite sem bombas, sem gritos de dor, sem corpos desfeitos na rua, sem gente a morrer, sejam aceites por quem melhor do que eles está, pois, meus amigos, nada se compara ao inferno que vivem e do qual nos pedem para sair.

Apesar da conjuntura económica que vivemos, nós, Europa, nós, Portugal, não estamos em guerra mas já estivemos e muita destruição e inquietação também provocámos em povos indefesos, quer em nome da fé quer em nome da ganância e de um poder político e comercial que, afinal, jamais consolidámos.  
Ao longo da nossa História também ocupámos e conquistámos territórios em nome da fé e em nome do comércio. Também matámos, provocámos guerras, estropiámos, torturámos, destruímos e vandalizámos. Mas também sentimos os horrores da guerra e partimos, quer por razões políticas quer por razões económicas, sobretudo desde o século XV. Mesmo durante o Estado Novo, muitos e muitos portugueses pediram ajuda a quem lha pudesse dar (e deu), caso da França, RFA e EUA, quando o fascismo português na mais completa observância daqueles que eram os seus valores fundamentais – Deus, Pátria, Família -, mantinha os pobres deste país a pão e água e no mais aterrador analfabetismo, reprimindo e perseguindo ferozmente quem se lhe opusesse, sobretudo quem da guerra colonial fugisse, embriagado que sempre esteve o salazarismo com a ideia de construir o tal "Portugal multirracial e pluricontinental". 
Sentimos os horrores da 1ª e da 2ª guerra mundial mas nunca deixámos de procurar (até hoje!) uma vida melhor noutras paragens. 

Defenderei sempre o acolhimento dos que buscam em nós a paz e querem, deste modo, salvar a vida dos seus filhos. 

Há muito que o mundo sabe os horrores que este povo tem sofrido, este massacre diário, esta matança de inocentes. Por que não ajudar? Somos, afinal, também um país de emigrantes, espalhados há séculos pelos quatro cantos do  mundo e que partiram bem cedo à procura de uma vida melhor.
Nem sempre pelas melhores razões, é certo, nem sempre da melhor forma, é certo, mas sempre com o objetivo de “partir para encontrar”.

“A União Europeia está a falhar miseravelmente no papel que lhe é devido em garantir refúgio seguro a estas pessoas que perderam tudo menos as suas vidas. O número daqueles que os países europeus estão dispostos a acolher é verdadeiramente vergonhoso. Todos os líderes europeus deviam envergonhar-se”, sustenta o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.  
De facto, foi assim que a Europa respondeu:
Os 28 países da União Europeia (UE) apenas se comprometerem a realojar uma muito ínfima parte dos refugiados sírios, e a grossa maioria nem sequer fez tal oferta, incluindo Portugal:
  • Apenas dez estados membros da UE se ofereceram para realojar ou instalar em estruturas de ajuda humanitária refugiados da Síria;
  • A Alemanha é de longe o país que revelou maior generosidade: o país aceitou receber 10 mil refugiados (80 por cento de todos os compromissos feitos pela UE);
  • Excluindo a Alemanha, os restantes 27 países membros da UE ofereceram-se para acolher tão só 2.340 pessoas que fugiram da guerra na Síria;
  • A França disponibilizou-se a receber 500 refugiados: não mais do que 0,02 por cento do total das pessoas que fugiram da Síria;
  • A Espanha aceitou dar acolhimento a apenas 30 refugiados: 0,001 por cento dos refugiados sírios
  • Um total de 18 países da UE – incluindo o Reino Unido e a Itália – não se disponibilizaram para receber nem mesmo um só refugiado da guerra na Síria;
  • Portugal não se comprometeu igualmente à partida a acolher quaisquer refugiados sírios. O país recebeu, porém, um total de 80 pedidos de asilo de cidadãos sírios entre novembro de 2011 e outubro de 2013, e, ainda na madrugada de quinta-feira, 12 de dezembro, chegaram a Portugal 74 cidadãos sírios num voo da TAP oriundo de Bissau.

Devemos olhar para quem precisa. Para o ser humano que de nós precisa.


Afinal, também nós, portugueses, continuamos a precisar!


Nazaré Oliveira