segunda-feira, 29 de junho de 2015

As pessoas medíocres são como os políticos medíocres





É sempre desejável e saudável o debate de ideias e a discussão política. No entanto, certas pessoas, em defesa do "nosso atual governo" e do anterior governo grego, o mesmo é dizer, em defesa desta UE e deste Eurogrupo, incomodam-me, revoltam-me! 
Como é possível ainda não terem visto que a troika não serviu Portugal, mas sim, os da grande finança, os do núcleo duro da UE, os interesses pessoais e familiares daqueles que nos governam, os da banca que sempre protegeram e, acima de tudo, os interesses das clientelas político-partidárias, dos seus afilhados e compadres, que trouxe e impôs, com o beneplácito de governos como o de Passos Coelho, de forma cruel e insensata, medidas de austeridade que o foram e continuam a ser só para o povo, o povão, o povão trabalhador do qual faço parte e que sempre viveu do seu salário e de acordo com as suas parcas possibilidades, o povão que aperta o cinto, cada vez mais, e que vê diariamente serem-lhe roubados direitos elementares enquanto a corrupção se agiganta e o oportunismo político frutifica. 
"Comem tudo e não deixam nada", nada,  exceto a revolta que nos conduzirá, espero eu, ao derrube desta corja de políticos faz-de-conta que, além de ignorantes são maus, muito maus, gente sem escrúpulos, sem sensibilidade e sentido de estado, sacanas sem lei quando se deparam com gente boa, inteligente, muito inteligente e sabedora, gente em condições e com categoria, como Varoufakis e Tsypras para quem a palavra do povo é sagrada e a Constituição também. 
Mas, os medíocres, as pessoas medíocres, tal como os políticos medíocres que defendem “até mais não”, precisamente porque o são mas capacidade não têm para o admitir, nunca aceitam e nunca conseguirão  aceitar quem melhor, muito melhor do que eles é e isso mostra e continuará a mostrar, porque do alto da sua estupidez e da sua menoridade intelectual e cívica jamais conseguirão ver, saber ou distinguir que há melhor, muito melhor do que eles, muito melhor do que as suas escolhas, porque incapazes também são de admitir o erro, a falha, tal a cegueira com que defendem quem defesa não merece.
De facto, cegos pela ambição desmedida de tudo submeter aos seus desejos mais profundos de uma sociedade manipulável e controlável, na qual, tal como na Alemanha nazi ou no Portugal salazarista, todos façam o culto do chefe e vivam, não de acordo com as suas ideias mas alinhados pelas ideias do furher, do duce ou de um outro qualquer salvador da pátria, os rapazolas excitam-se e consolam-se com a voz do dono, com o aperto de mão ensaiado, com o lugar na fotografia de grupo, ombro a ombro colocados, viscosamente sorridentes, cínicamente posicionados naquele estilo que é sempre o mesmo, tal como as gravatas os fatos as calças e os blazers de Merkel, tal como as intervenções ou omissões e tudo o mais que sabemos de uma UE cinzenta, muito cinzenta, quase negra, onde cada vez mais vemos e ouvimos, não a voz da razão mas a voz da chantagem e da ameaça, a voz de quem manda e os silêncios de quem só obedece, a voz de quem tem medo de perder, não a dignidade, porque nunca a tiveram, não a independência política, porque nunca a salvaguardaram, não a Ética, porque nunca lha ensinaram, mas o lugar o tacho o emprego o chorudo salário que do nosso é feito, as mordomias e privilégios com os quais vivem e transpiram numa afronta sem precedentes à transparência política e à igualdade social pela qual lutaram os que em Abril vieram para a rua e os que, em nome de Abril, na rua continuarão a ouvir-se, apesar da fome apesar das dores apesar da dureza da vida, apesar da morte e apesar dos criminosos à solta e dos seus cúmplices.
Como é possível que não percebam que, tal como este governo grego veio gritar bem alto que é preciso atender às realidades de cada povo para atender às exigências da troika, que não se pode fazer ajustamentos sem ter em conta o que cada povo, cada economia, pode, na realidade, suportar, que os planos de resgate têm de ser revistos, adaptados, e que da sua aplicação não pode resultar, como tem resultado, cada vez mais injustiças e desigualdades sociais, cada vez mais pobreza para os pobres, cada vez mais riqueza para os ricos, cada vez mais ignomínia e podridão numa Europa que já foi palco de duas guerras mundiais e que continua a desviar-se das grandes traves-mestras traçadas pelos que queriam uma Europa unida, solidária e em harmonia?
O povo grego, em liberdade, através de Varoufakis e Tsypras, veio dar e continua a dar uma lição de democracia e de Ética Política ao Mundo e, particularmente, ao mundo do servilismo e da subserviência político-institucional para o qual quase toda a Europa foi empurrada, com destaque para Portugal, vergonhosamente apelidado na imprensa mundial como o mais servil de todos eles.
O atual governo grego tudo tem feito para salvaguardar o seu povo da humilhação que ao nosso não foi poupada.
O atual governo grego, fiel depositário da confiança que os seus eleitores legitimamente lhe confiaram, tudo tem feito para proteger as suas instituições democráticas e os interesses do seu povo, ao contrário do governo do meu país que, vergonhosamente e de forma rastejante vai ao beija-mão, “cantando e rindo ao som das velhas trombetas" europeias.



Nazaré Oliveira




* Abaporu, da autoria de Tarsila do Amaral, 1928