*Desde
que as Nações são Estados e que os Estados são Repúbllicas, os mais ricos da
sociedade dedicam-se a enfraquecer ao máximo esses Estados e as suas
instituições, para garantir a si próprios uma situação de máxima liberdade.
Estes
ricos são os liberais e procuram reduzir a influência dos Estados, que eles
consideram demasiado poderosos e muito pouco virtuosos. A História demonstra-o:
nas raras ocasiões nas quais um Estado se tornou poderoso e, portanto,
independente da influência dos seus súbditos mais ricos, esses ricos começaram
a recear o poder do Estado e dedicaram-se a destrui-lo.
Para
os ricos, é ainda pior quando o Estado é sustentado pelo Povo, pois nesse caso
é legítimo.
É
por isso que por trás, através dos “media”, eles tentam descredibilizar o
Estado e atrair contra ele as iras do Povo. Porque, para destruir o Estado, o
rico tem uma estratégia eficaz: arruiná-lo! E funciona!
Para
tal, o rico possui dois meios eficazes:
1 -
Pagar o mínimo possível de impostos (isenções
fiscais, sabotagem de todos os impostos sobre a riqueza que visem maior justiça
fiscal, liberallização das Leis do Trabalho, optimização fiscal e exílio em
paraísos fiscais, etc.) Evidentemente, isto só funciona se os mais pobres,
esses, continuarem a pagar os seus impostos.
2 -
Endividar o Estado, emprestando-lhe dinheiro e obrigando-o a
reembolsar esse dinheiro com altas taxas de lucro.
Com
o objectivo de impedir exageros do Estado no momento de criar o dinheiro que
lhe é necessário ao apelar ao seu Banco central, a Lei Rothschild (1973)
fez, pouco a pouco, passar a criação do dinheiro do Público (Banco de França),
para a banca privada. Depois dessa Lei Rothschild de 1973, depois do Tratado de
Maastricht (1993), e mais ainda depois do famoso artigo 123 do Tratado de Lisboa
de 2005, os Estados são obrigados a pedir empréstimos aos mercados financeiros
privados, com taxas de juro pesadas! Tudo isso em vez de criar dinheiro e de o
obter a taxas nulas ou quase nulas do seu Banco Central.
O
Artigo 123 do Tratado de Lisboa define que todos os Estados membros da
Comunidade Europeia deixarão de ter o direito de obter empréstimos junto do seu
Banco Central. Ficam com a obrigação de os solicitar nos mercados financeiros,
através de juros. Descendente da Lei Pompidou-Giscard de 1973 e do artigo 104
do Tratado de Maastricht, este artigo está na origem do endividamento e das
quantias astronómicas assumidas pelo Estado para o reembolso de uma dívida que
não deveria existir.
O
custo dos juros dessa dívida representa a maior despesa no Orçamento do Estado
e eleva-se a 153 milhões por dia, ou seja mais de 106.000 € por minuto (números
referentes ao Estado Francês - NT). É uma dívida “odiosa”, porque foi
contraída contra os nossos interesses, sem o nosso conhecimento, mas com total
conhecimento dos credores. Resultado: A França tinha, em 2004, uma
dívida de mais de 2.000 bilhões (mil milhões) de euros. Mas é preciso lembrar
que a França já pagou mais de 1.400 bilhões aos seus credores nos últimos 40
anos. Apenas em juros, acrescentemos.
Os
seus credores são 65% estrangeiros e na sua maioria bancos privados e grandes
clientes dos mercados financeiros! Com efeito, a França gasta todo o seu
dinheiro (e o seu tempo) a reembolsar os juros da dívida, sem
amortizar o reembolso da própria dívida… Uma dívida que não é moral, nem norma!
Há
mais de 40 anos que as despesas públicas estão estáveis. O que acrescenta a
dívida, são os juros da dívida. E,
desde há 40 anos, os diversos eleitos (de extrema esquerda à extrema direita),
mantêm este estado de coisas sem se questionarem. É anormal. Esta dívida é
ilegítima, pois foi inteiramente criada pelos mercados, para os mercados. Com o
incompreensível aval dos eleitos.
Portanto,
nós não somos responsáveis por esta dívida. Não vivemos acima das nossas possibilidades.
Evidentemente que pedindo dinheiro aos bancos (que criam dinheiro do nada antes
de nos pedir que o reembolsemos com dinheiro verdadeiro), cidadãos comuns
contribuíram para este sistema podre. Mas quem pediu este sistema? Quem
enriqueceu graças a ele? E quem foi que, depois, empobreceu por causa dele? Não
é o comportamento das pessoas que devemos condenar, mas sim estes indivíduos
que modificaram as estruturas da nossa economia de forma a que elas lhes
aproveitam a eles e não à maioria da população... É também por isso que é
incompreensível e inadmissível que o dinheiro do Estado - o nosso dinheiro -
continue a reembolsar bancos quando eles fazem tudo o que lhes apetece com o
que criaram a partir do nada para especular sobre tudo e mais alguma coisa.
Mas
a dívida é um poder formidável. Mete medo às pessoas que já não refletem nas
causas mas apenas nas consequências. Ela impede de pensar racionalmente. Quando
é comentada com um discurso moralista do género “Não podemos deixar de pagar,
quando se tem uma dívida, paga-se, é ser civilizado” parece incontestável. E no
entanto, como já vimos, a dívida é tudo menos moral, tudo menos normal! Tomemos
consciência destas coisas. Batamo-nos contra os bancos e contra estes políticos
que lhes dão plenos poderes. Não podemos atribuir estas crises a outros povos e
identidades, escolhendo o recuo para o nacionalismo, que não resolve nada.
Vamos informar-nos. Vamos analisar. Vamos explicar. Vamos lutar.
*Texto traduzido do blogue francês L’Indigné du Canapé