domingo, 3 de janeiro de 2016

Para os melhores amigos



Miguel Esteves Cardoso defendeu, em “As Minhas Aventuras na República Portuguesa”, que o que distingue os seres humanos é “o esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas”, sejam elas amores, passatempos, ou o melhor do mundo, as amizades.

Não há, para mim, sentimento mais nobre, mais puro e altruísta do que a amizade. Não somos amigos por ser, não coleccionamos amigos, muito menos nos obrigamos a manter amizades que não queremos. Se o fazemos, estamos a errar. A amizade, de tão nobre que é, permite-nos exactamente isso: ser autónomos e, mais que isso, verdadeiros. Sem tabus, sem politiquices, sem esquisitices. Somos amigos porque queremos aquela pessoa na nossa vida, porque queremos partilhar a nossa existência com ela e, acima de tudo, queremos que ela seja um agente activo nesta nossa jornada.

Ser amigo dá muito trabalho. Implica muito esforço e erramos muitas vezes. Não é um amor que um dia termina e fica longe do coração. Não é uma sociedade que cumpre normas. Não temos regras impostas, porque vivemos na fase da experimentação. Continuamente. O ambiente, a massa da amizade começa a formar-se e torna-se tão nossa que sabemos na perfeição como moldá-la.

Há vários tipos de amizade. Entre as quais, as de infância em que crescemos com aquela presença e, sem explicações – porque não as precisamos – somos amigos a vida toda. Para sempre.

Há as amizades paixão. São intensas mas muito fugazes. Conforme surgem na nossa vida também saem. E desaparecem.

Depois há as amizades-amor. São mais do que tudo. São meias pessoas. Aliás, são pessoas inteiras naquilo que somos, no nosso ser. Não precisam de saber tudo, mas sabem, mesmo sem contarmos. Vivem connosco mesmo que estejam a milhares de quilómetros de distância. Avançamos de mãos dadas sem, muitas vezes, nos tocarmos. Estamos ligados umbilicalmente, tal como uma mãe e o seu filho.

Amizades de anos, meses ou horas. São o que são. Mas arrebatam-nos o coração. Deixa de ser – permitam-me o egoísmo – um trabalho para o nosso bem. Ver aquele amigo feliz deixa-nos a jubilar, e isso é viciante. Olhar a felicidade naquele que amamos é elevar os pés do chão e provar um bocadinho do céu.

Não que precisasse, mas estar longe reforçou essa certeza. Os nossos amigos são os melhores do mundo. Mas são-no porque é um trabalho de equipa. Nosso e deles. Nós queremos ser amigos, e sabemos sê-lo. Somos muito bons nisto. Somos os melhores. E, por isso, uma vez mais, todos nós temos os melhores amigos do mundo. Porque amamos. Sabemos amar. É amor.


Isto é para vocês, melhores amigos do mundo, que longe ou perto não saem do meu coração. Que trabalham nesta nossa aventura juntos. Que apresentam as ideias mais idiotas com o ar mais sério de sempre. Que riem nos momentos inapropriados. Que silenciam as nossas vergonhas e nos empurram nos nossos medos. Isto é para vocês, melhores amigos do mundo.


in http://capazes.pt/cronicas/aos-melhores-amigos-do-mundo/view-all/