Miguel Esteves Cardoso
defendeu, em “As Minhas Aventuras na República Portuguesa”, que o que distingue
os seres humanos é “o esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam
boas”, sejam elas amores, passatempos, ou o melhor do mundo, as amizades.
Não
há, para mim, sentimento mais nobre, mais puro e altruísta do que a amizade.
Não somos amigos por ser, não coleccionamos amigos, muito menos nos obrigamos a
manter amizades que não queremos. Se o fazemos, estamos a errar. A amizade, de
tão nobre que é, permite-nos exactamente isso: ser autónomos e, mais que isso,
verdadeiros. Sem tabus, sem politiquices, sem esquisitices. Somos amigos porque
queremos aquela pessoa na nossa vida, porque queremos partilhar a nossa existência
com ela e, acima de tudo, queremos que ela seja um agente activo nesta nossa
jornada.
Ser
amigo dá muito trabalho. Implica muito esforço e erramos muitas vezes. Não é um
amor que um dia termina e fica longe do coração. Não é uma sociedade que cumpre
normas. Não temos regras impostas, porque vivemos na fase da experimentação.
Continuamente. O ambiente, a massa da amizade começa a formar-se e torna-se tão
nossa que sabemos na perfeição como moldá-la.
Há
vários tipos de amizade. Entre as quais, as de infância em que crescemos com
aquela presença e, sem explicações – porque não as precisamos – somos amigos a
vida toda. Para sempre.
Há
as amizades paixão. São intensas mas muito fugazes. Conforme surgem na nossa
vida também saem. E desaparecem.
Depois
há as amizades-amor. São mais do que tudo. São meias pessoas. Aliás, são
pessoas inteiras naquilo que somos, no nosso ser. Não precisam de saber tudo,
mas sabem, mesmo sem contarmos. Vivem connosco mesmo que estejam a milhares de
quilómetros de distância. Avançamos de mãos dadas sem, muitas vezes, nos
tocarmos. Estamos ligados umbilicalmente, tal como uma mãe e o seu filho.
Amizades
de anos, meses ou horas. São o que são. Mas arrebatam-nos o coração. Deixa de
ser – permitam-me o egoísmo – um trabalho para o nosso bem. Ver aquele amigo
feliz deixa-nos a jubilar, e isso é viciante. Olhar a felicidade naquele que
amamos é elevar os pés do chão e provar um bocadinho do céu.
Não
que precisasse, mas estar longe reforçou essa certeza. Os nossos amigos são os
melhores do mundo. Mas são-no porque é um trabalho de equipa. Nosso e deles.
Nós queremos ser amigos, e sabemos sê-lo. Somos muito bons nisto. Somos os
melhores. E, por isso, uma vez mais, todos nós temos os melhores amigos do
mundo. Porque amamos. Sabemos amar. É amor.
Isto
é para vocês, melhores amigos do mundo, que longe ou perto não saem do meu
coração. Que trabalham nesta nossa aventura juntos. Que apresentam as ideias
mais idiotas com o ar mais sério de sempre. Que riem nos momentos
inapropriados. Que silenciam as nossas vergonhas e nos empurram nos nossos
medos. Isto é para vocês, melhores amigos do mundo.
in http://capazes.pt/cronicas/aos-melhores-amigos-do-mundo/view-all/