domingo, 3 de janeiro de 2016

Instabilidade política



"(...) A instabilidade está inscrita em todos os sistemas políticos e eleitorais dos países que passaram por processos de "ajustamento". Não é conjuntural, é estrutural. Significa que os estragos do "ajustamento" não se verificaram apenas na economia e na sociedade, mas também na representação política. Fragilizaram os partidos do chamado "arco da governação", secaram a alternância dos partidos socialistas face aos conservadores e a direita, moldaram -nos à mesma política "sem alternativa", reforçaram os extremos, à direita e à esquerda, e varreram o centro político do mapa. Isto acontece com diferentes graus e diferentes velocidades, um pouco por todo o lado na Europa. Virou os trabalhistas ingleses para a esquerda, reforçou e depois matou o Syriza, reforçou a Aurora Dourada e a Frente Nacional, criou o Podemos, mas, acima de tudo, aumentou a abstenção (a grande mentira da noite eleitoral foi a "descida" da abstenção) e, ao subordinar a vontade do eleitorado a um poder transnacional que não é controlado democraticamente, a "Europa", tornou o votar um acto que não é inteiramente livre. O facto de estes movimentos e processos ainda não terem tido, com excepção na Grécia, uma significativa expressão eleitoral que lhes permita "ganhar" eleições, não impede que as perturbações no sistema político não estejam já adquiridas e que não haja uma crise de representação profunda na Europa. (...)"

J Pacheco Pereira in http://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/semper_fi.html