Quando li esta notícia, não escondi nem a
revolta nem a emoção.
Um casal matou-se, por causa das dívidas acumuladas.
Por dívidas, por vergonha, por problemas que certamente os
atolaram em desespero e angústia, por incompreensão de outros, pela sua
impotência face a uma sociedade cada vez mais cruel, mais intolerante, uma
sociedade que cada vez mais não perdoa a muitos mas faz vista grossa a muitos
mais, uma sociedade onde a conflitualidade e as tensões surgem cada vez mais ligadas
à cruel austeridade que nos impuseram, a uma diferenciação social terrível, amargamente sentida e fortemente marcante
na vida de quase todos nós.
Uma sociedade que não confia nas pessoas nem na sua palavra
de honra, uma sociedade violenta, muito violenta, indiferente à compaixão e à
clemência, indiferente à dor brutal de quem vê toda uma vida de trabalho penhorada,
roubada.
Há cada vez mais casos destes porque as pessoas se sentem
sós, muito sós, completamente trucidadas pelas instituições e pela impiedosa Justiça
que não quer ouvir, muito menos sentir ou acudir, agarrada que está aos artigos,
parágrafos e leis nas quais busca, quase sempre, não uma solução ou ajuda para as pessoas mas
a sua sentença de morte.
Perdem o emprego, os amigos, a família, a alegria, a casa…
Perdem-se em gritos de dor, calada, bem calada lá no fundo de
si mesmos, num lugar que só conhece quem assim passou e passa, tal o desespero com
que se aguarda uma promessa, uma resposta, uma palavra, um fim.
Um casal matou-se.
Toldou-se-lhes o olhar com lágrimas de sangue e de revolta.
A saída foi-se fechando sobre si mesmos até sobrar um pouco de tempo para o tempo pararem.
Toldou-se-lhes o olhar com lágrimas de sangue e de revolta.
A saída foi-se fechando sobre si mesmos até sobrar um pouco de tempo para o tempo pararem.
Um casal matou-se.
Já
nada lhes aliviou a dor de se saberem completamente abandonados e de tudo terem perdido, até o teto que dolorosamente abrigava a sua dor profunda.
Na nossa sociedade, é tal a violência na vida das pessoas
e a falta de ajuda que, para muitos, como este casal, só lhe restou partir.
Partir para a morte.
Nazaré Oliveira