Nota de
Varoufakis no seu blogue pessoal, onde disponibilizou o discurso: “O único antídoto para a propaganda e para
as 'fugas' malévolas é a transparência. Depois de tanta desinformação em torno
da apresentação que fiz no Eurogrupo da posição do governo grego, a única
resposta é publicar exatamente as palavras que proferi. Leiam-nas e julguem por
si mesmos se as propostas do governo grego constituem ou não uma base para um
acordo”.
Colegas,
Há cinco
meses, na minha primeira intervenção no Eurogrupo, disse-vos que o novo governo
grego enfrentava uma tarefa dupla:
Temos de
ganhar uma moeda preciosa sem desbaratar um importante capital.
A moeda preciosa
que tínhamos de ganhar era um sentimento de confiança, aqui, entre os nossos
parceiros europeus e junto das instituições. Para obter essa moeda
necessitaríamos de um pacote de reformas significativo e um plano de
consolidação fiscal credível.
Quanto ao capital
importante que não podíamos dar-nos ao luxo de desbaratar, esse era a
confiança do povo grego, que teria de ser o pano de fundo de qualquer programa
de reformas acordado que pusesse fim à crise grega.
O pré-requisito para que esse capital não se perdesse era, e continua a ser, um só: a esperança tangível de que o acordo que levamos para Atenas:
O pré-requisito para que esse capital não se perdesse era, e continua a ser, um só: a esperança tangível de que o acordo que levamos para Atenas:
. é o último a ser forjado em condições de
crise;
. compreende um pacote de reformas que põe fim a uma recessão ininterrupta de seis anos;
. não atinge selvaticamente os pobres como as anteriores reformas atingiram;
. torna a nossa dívida sustentável, criando assim perspetivas genuínas do regresso da Grécia aos mercados, terminando a nossa dependência pouco digna dos nossos parceiros para pagar os empréstimos que deles recebemos.
. compreende um pacote de reformas que põe fim a uma recessão ininterrupta de seis anos;
. não atinge selvaticamente os pobres como as anteriores reformas atingiram;
. torna a nossa dívida sustentável, criando assim perspetivas genuínas do regresso da Grécia aos mercados, terminando a nossa dependência pouco digna dos nossos parceiros para pagar os empréstimos que deles recebemos.
Cinco meses
passaram, o fim da estrada está à vista, mas este derradeiro ato de equilíbrio
não se materializou. Sim, no Grupo de Bruxelas estivemos quase. Quase é quanto?
Do lado dos impostos, as posições são realmente próximas, especialmente para
2015. Para 2016, o fosso restante representa 0,5% do PIB. Propusemos medidas
paramétricas de 2% contra os 2,5% em que as instituições insistem. Esta
diferença de meio por cento propomos eliminá-la através de medidas
administrativas. Seria, digo-vos, um erro tremendo deixar que esta minúscula
diferença causasse danos massivos na integridade da Zona Euro. A convergência
foi também alcançada num vasto leque de questões.
Ainda assim,
não nego que as nossas propostas não instilaram em vós a confiança de que
precisais. E, ao mesmo tempo, as propostas das instituições que o Sr. Juncker
transmitiu ao primeiro-ministro Tsipras não podem gerar a esperança de que os
nossos cidadãos necessitam. Assim, chegámos perto de um impasse.
Assim, no
último minuto e neste estado de negociação, antes de que acontecimentos
incontroláveis tomem conta da situação, temos o dever moral, para não falar do
dever político e económico, de ultrapassar este impasse. Não é altura para
recriminações nem acusações. Os cidadãos europeus responsabilizar-nos-ão
coletivamente, todos os que não conseguirem encontrar uma solução viável.
Mesmo que,
mal orientados por rumores de que a saída da Grécia pode não ser assim tão
terrível, ou que possa até beneficiar o resto da Zona Euro, alguns estejam
resignados a que isso aconteça, é um acontecimento que desencadeará poderes
destrutivos que ninguém pode travar. Os cidadãos de toda a Europa não apontarão
às instituições, mas aos seus ministros das Finanças, aos seus
primeiros-ministros, aos seus presidentes. Ao fim e ao cabo, elegeram-nos para
promover a prosperidade partilhada da Europa e para evitar buracos que
possam ferir a Europa.
O nosso
mandato político é encontrar um compromisso honroso e trabalhável. É assim tão
difícil conseguir isto? Achamos que não. Há poucos dias, Olivier Blanchard, o
economista-chefe do FMI, publicou um artigo intitulado "Grécia: um acordo
credível vai requerer decisões difíceis de todas as partes". Tem razão. As
quatro palavras significativas são "de todas as partes". O Dr.
Blanchard acrescentava que: "no coração das negociações está uma questão
simples. Que ajustamento tem de ser feito pela Grécia, que ajustamento tem de
ser feito pelos seus credores oficiais?".
Que a Grécia
precisa de se ajustar não há dúvidas. A questão, porém, não é a quantidade de
ajustamento que a Grécia precisa de fazer. É, pelo contrário, que tipo de
ajustamento. Se por "ajustamento" queremos dizer consolidação fiscal,
cortes de salários e pensões e aumento das taxas de juro, é claro que fizemos mais
disso do que qualquer outro país em tempo de paz.
. o défice fiscal, estrutural ou ciclicamente
ajustado do setor público passou a superavit à custa de um ajustamento de 20%
que bateu recordes mundiais;
. os salários caíram 37%;
. as pensões foram reduzidas até 48%;
. o número de funcionários públicos diminui em 30%;
. o consumo caiu 33%;
. até o crónico défice corrente do país caiu 16%.
. os salários caíram 37%;
. as pensões foram reduzidas até 48%;
. o número de funcionários públicos diminui em 30%;
. o consumo caiu 33%;
. até o crónico défice corrente do país caiu 16%.
Ninguém pode
dizer que a Grécia não se ajustou às suas novas circunstâncias, do pós-2008.
Mas o que podemos dizer é que este gigantesco ajustamento, necessário ou não,
criou mais problemas do que resolveu:
. o PIB agregado real caiu 27%, enquanto o PIB
nominal continuou a cair quadrimestre sim, quadrimestre não ao longo de 18
quadrimestres sem parar até hoje;
. o desemprego disparou para os 27%;
. o trabalho não-declarado atingiu os 34%;
. a banca trabalha sob empréstimos não-produtivos que excedem em valor os 40%;
. o desemprego disparou para os 27%;
. o trabalho não-declarado atingiu os 34%;
. a banca trabalha sob empréstimos não-produtivos que excedem em valor os 40%;
. a dívida pública ultrapassa os 180% do PIB;
. as pessoas jovens e bem qualificadas abandonam a Grécia aos magotes;
. a pobreza, a fome e a falta de energia registaram aumentos normalmente associados a estados de guerra;
. o investimento na capacidade produtiva evaporou-se.
. as pessoas jovens e bem qualificadas abandonam a Grécia aos magotes;
. a pobreza, a fome e a falta de energia registaram aumentos normalmente associados a estados de guerra;
. o investimento na capacidade produtiva evaporou-se.
Portanto, a
primeira parte da pergunta do Dr. Blanchard - "que ajustamento tem de ser
feito pela Grécia?" - precisa de ser respondida. A Grécia precisa de uma
grande dose de ajustamento. Mas não do mesmo tipo que teve no passado.
Precisamos de mais reformas, não precisamos de mais cortes. Por exemplo,
. precisamos de nos ajustar a uma nova cultura
de pagamento de impostos, não de elevar as taxas do IVA, que reforçam o
incentivo para fugir ao pagamento e conduzem os cidadãos respeitadores da lei a
uma maior pobreza;
. precisamos de tornar o sistema de pensões sustentável, erradicando o trabalho não remunerado, minimizando as reformas antecipadas, eliminando a fraude no fundo de pensões, fazendo aumentar o emprego - não erradicando a tranche solidária das mais baixas das baixas pensões, como as instituições exigem, empurrando dessa forma os mais pobres dos pobres para uma pobreza ainda maior e convocando uma hostilidade popular massiva contra outro conjunto de ditas reformas.
. precisamos de tornar o sistema de pensões sustentável, erradicando o trabalho não remunerado, minimizando as reformas antecipadas, eliminando a fraude no fundo de pensões, fazendo aumentar o emprego - não erradicando a tranche solidária das mais baixas das baixas pensões, como as instituições exigem, empurrando dessa forma os mais pobres dos pobres para uma pobreza ainda maior e convocando uma hostilidade popular massiva contra outro conjunto de ditas reformas.
Nas nossas
propostas às instituições oferecemos:
. uma extensa (mas otimizada) agenda de
privatizações abrangendo o período entre 2015 e 2025;
. a criação de uma autoridade de Impostos e Alfândegas completamente independente (sob a égide e supervisão do Parlamento)
. um Conselho Fiscal que supervisione o orçamento do Estado;
. um programa a curto prazo que limite o crédito mal parado e gira empréstimos não produtivos
. reformas dos códigos do processo judicial e civil
. liberalização de vários mercados de produtos e serviços (com salvaguardas para os valores da classe média e profissões que deles fazem parte e parcela do tecido social);
. reformas da administração pública (introduzindo sistemas limpos de avaliação dos funcionários, reduzindo custos não-salariais, modernizando e unificando as carreiras do setor público).
. a criação de uma autoridade de Impostos e Alfândegas completamente independente (sob a égide e supervisão do Parlamento)
. um Conselho Fiscal que supervisione o orçamento do Estado;
. um programa a curto prazo que limite o crédito mal parado e gira empréstimos não produtivos
. reformas dos códigos do processo judicial e civil
. liberalização de vários mercados de produtos e serviços (com salvaguardas para os valores da classe média e profissões que deles fazem parte e parcela do tecido social);
. reformas da administração pública (introduzindo sistemas limpos de avaliação dos funcionários, reduzindo custos não-salariais, modernizando e unificando as carreiras do setor público).
Juntamente
com estas reformas, as autoridades gregas pediram à OCDE que ajudasse Atenas a
desenhar, implementar e monitorizar uma segunda série de reformas.
Quarta-feira, encontrei-me com o secretário-geral da OCDE, o Sr. Angel Gurria,
e a sua equipa para anunciar esta agenda conjunta de reformas, completada com um
mapa específico:
. um grande movimento anticorrupção e
instituições relevantes para o apoiar;
. liberalização do setor da construção, incluindo o mercado e padrões de materiais de construção;
. liberalização do comércio por grosso;
. código de práticas dos media, eletrónicos e impressos;
. centros de negócios na hora que erradiquem os obstáculos burocráticos ao negócio na Grécia;
. reforma do sistema de pensões - onde a ênfase esteja num estudo completo, atual e a longo prazo, no faseamento das reformas antecipadas, na redução dos custos operacionais dos fundos de pensões, na consolidação da segurança social - em vez de nos meros cortes de pensões.
. liberalização do setor da construção, incluindo o mercado e padrões de materiais de construção;
. liberalização do comércio por grosso;
. código de práticas dos media, eletrónicos e impressos;
. centros de negócios na hora que erradiquem os obstáculos burocráticos ao negócio na Grécia;
. reforma do sistema de pensões - onde a ênfase esteja num estudo completo, atual e a longo prazo, no faseamento das reformas antecipadas, na redução dos custos operacionais dos fundos de pensões, na consolidação da segurança social - em vez de nos meros cortes de pensões.
Sim,
colegas, os gregos precisam de se ajustar mais. Precisamos desesperadamente de
reformas profundas. Mas exorto-vos a levarem seriamente em consideração esta
importante diferença entre:
. reformas que ataquem ineficiências ou
comportamentos parasitas e oportunistas,
e
. mudanças de parâmetros que aumentem as taxas de juro e reduzem os benefícios dos mais fracos.
e
. mudanças de parâmetros que aumentem as taxas de juro e reduzem os benefícios dos mais fracos.
Precisamos
muito mais de reformas reais e muito menos de reformas de parâmetros.
Muito se
disse e escreveu acerca do nosso "recuo" na reforma do mercado de
trabalho e quanto à nossa determinação para reintroduzir a proteção dos
trabalhadores assalariados através da negociação coletiva. Será isto uma
fixação de esquerda nossa que faz perigar a eficiência? Não, colegas, não é.
Veja-se por exemplo a provação dos jovens trabalhadores em várias cadeias de
lojas que são despedidos quando se avizinha o seu 24º aniversário, para que os
empregadores possam contratar funcionários mais jovens e assim evitar
pagar-lhes o salário mínimo normal que é inferior para empregados menores de 24
anos. Ou vejam o caso dos empregados que são contratados em part time por 300
euros ao mês, mas são obrigados a trabalhar a tempo inteiro e são ameaçados com
a dispensa se se queixarem. Sem contratação coletiva, estes abusos abundam com
efeitos nefastos na concorrência (uma vez que os patrões decentes competem em
desvantagem com os que não têm escrúpulos), mas também com efeitos negativos
nos fundos de pensões e na receita pública. Alguém seriamente pensa que a
introdução de uma negociação laboral bem concebida, em colaboração com a OIT e
a OCDE, constitui "reversão das reformas", um exemplo de
"recuo"?
Voltando por
instantes à questão das pensões de reforma, muito foi feito para que as pensões
contem por mais do que contavam no passado; tanto quanto 16% do PIB. Mas
consideremos o seguinte: as pensões diminuíram 40% e o número de pensionistas
mantém-se estável. Portanto, os gastos com pensões diminuíram, não aumentaram.
Esses 16% do PIB não se devem a gastar mais em pensões, mas, pelo contrário, à
dramática queda do PIB que trouxe com ela uma igualmente dramática redução nas
contribuições devido à perda de empregos e ao crescimento do trabalho informal
não-declarado.
O nosso
alegado recuo na "reforma das pensões" é que suspendemos a ulterior
redução das pensões que já perderam 40% do seu valor, enquanto os preços dos
bens e serviços de que os pensionistas precisam, isto é, medicamentos, mal
foram alterados. Considerem este facto relativamente desconhecido: cerca de um
milhão de famílias gregas sobrevive hoje à custa da magra pensão de um avô ou
de uma avó, dado que o resto da família está desempregada num país onde apenas
9% dos desempregados recebem qualquer subsídio de desemprego. Cortar essa
única, solitária pensão, corresponde a lançar uma família nas ruas.
É por isso
que continuamos a dizer às instituições que sim, precisamos de uma reforma do
sistema de pensões, mas não, não podemos cortar 1% do PIB às pensões sem causar
uma nova e massiva miséria e mais um ciclo recessivo, uma vez que estes 1,8 mil
milhões multiplicados por um grande multiplicador fiscal (de até 1,5) é
retirado do fluxo circular da receita. Se ainda existissem grandes pensões,
cujo corte faria diferença a nível fiscal, cortá-las-íamos. Mas a distribuição
das pensões está tão comprimida que poupanças dessa magnitude teriam de ir
comer nas pensões dos mais pobres. É por esta razão, suponho, que as
instituições nos pedem para eliminarmos o complemento solidário de reforma para
os mais pobres dos pobres. E é por essa razão que contrapropomos reformas
decentes: uma redução drástica, quase eliminação, das reformas antecipadas,
consolidação dos fundos de pensões e intervenções no mercado de trabalho que
reduzam o trabalho na economia paralela.
Reformas
estruturais promovem o crescimento potencial. Mas meros cortes numa economia
como a grega só promovem a recessão. A Grécia deve ajustar-se através da
introdução de reformas genuínas. Mas ao mesmo tempo, voltando à resposta à
pergunta do Dr. Blanchard, as instituições têm de ajustar as suas definições de
reforma promotora do crescimento - para reconhecerem que cortes de parâmetros e
aumentos de impostos não são reformas e que, pelo menos no caso da Grécia,
minaram o crescimento económico.
Alguns
colegas notaram no passado, e podem voltar a fazê-lo, que as nossas pensões são
demasiado altas em comparação com os idosos dos seus países e que é inaceitável
que o governo grego espere que eles mantenham o nosso nível de pensões de
reforma. Deixem-me ser claro acerca disto: nunca vos pediremos para subsidiarem
o nosso Estado, os nossos salários, as nossas reformas, a nossa despesa
pública. O Estado grego vive dentro dos seus meios. Nos últimos cinco meses
conseguimos mesmo, apesar de termos zero acesso aos mercados, pagar aos nossos
credores. Tencionamos continuar a pagar.
Compreendo
as preocupações de que o nosso governo possa cair de novo no défice primário e
que é essa a razão que leva as instituições a pressionarem-nos para aceitar
grandes aumentos do IVA e grandes cortes nas reformas. Embora seja nosso
entender que um acordo viável seria suficiente para fazer disparar a atividade
económica o suficiente para produzir um saudável superavit primário, percebo
perfeitamente bem que os nossos credores e parceiros possam ter razões para ser
céticos e exigir salvaguardas; uma apólice de seguro contra o eventual resvalar
do nosso governo para o desperdício de recursos. É o que está por detrás do
apelo do Dr. Blanchard ao governo grego para que ofereça "medidas
verdadeiramente credíveis". Então, ouçam esta ideia. Uma "medida
verdadeiramente credível".
Em vez de se
discutir meio ponto percentual de medidas (ou se estas medidas fiscais devem
ser ou não do tipo paramétrico), que tal uma reforma mais profunda, mais
abrangente, mais permanente? Um teto para o défice que seja legislado e
monitorizado pelo Conselho Fiscal independente com que nós e as instituições já
concordámos. O Conselho Fiscal monitorizaria a execução do orçamento de Estado
numa base semanal, lançaria avisos se uma meta de superavit primário parecesse
estar a ser violada e, em certas ocasiões, lançaria reduções automáticas
horizontais a todos os níveis para evitar a derrapagem abaixo do limiar
previamente acordado. Dessa forma está ativado um sistema de alerta que
assegura a solvência do Estado grego enquanto o governo grego mantém o seu
espaço político de que precisa para manter a soberania e ser capaz de governar
num contexto democrático. Este é um firme propósito que o nosso governo
implementará imediatamente após um acordo.
Dado que o
nosso governo nunca mais precisará de pedir emprestado dinheiro aos vossos
contribuintes nem aos contribuintes que estão atrás do FMI, não faz sentido um
debate entre Estados-membros que competem para ver quem tem pensionistas mais
pobres, instigando um nivelamento por baixo. Em vez disso, o debate avança para
os pagamentos da dívida. Quão grandes têm de ser os nossos superavits? Alguém
acredita seriamente que a taxa de crescimento é independente do conjunto de
metas primárias? O FMI sabe bem que os dois números andam juntos e é por isso
que a dívida pública grega deve ser olhada de uma só vez.
O nosso
grande serviço da dívida deveria ser encarado como uma grande labilidade fiscal
infundada. Embora seja verdade que as partes EFSF e GLF da nossa dívida têm
maturidades elevadas e a taxa de juro não é grande, a labilidade fiscal
infundada do Estado grego, a nossa dívida, constitui um componente poderoso que
impede hoje a recuperação e o investimento. Refiro-me aos 27 mil milhões de
obrigações ainda detidos pelo BCE. É uma labilidade infundada a curto prazo que
os potenciais investidores na Grécia olham e viram costas porque podem ver o
fosso de fundos que esta parte da dívida cria instantaneamente e porque
reconhecem que estes 27 mil milhões na contabilidade do BCE travam a Grécia e
não a deixam aproveitar o programa de financiamento do BCE quando este programa
está em desenvolvimento e atinge a sua máxima capacidade para vir em auxílio
dos países ameaçados pela deflação. É uma cruel ironia que o país mais afetado
pela deflação seja precisamente o que é excluído do remédio antideflacionário
do BCE. E é excluído por causa destes 27 mil milhões.
A nossa
proposta é simples, eficaz e mutuamente vantajosa. Não propomos mais dinheiro,
nem um euro para o nosso Estado. Imaginem o seguinte acordo em três partes a
anunciar nos próximos poucos dias:
Parte 1: Reformas profundas, incluindo o plafonamento
do défice que já mencionei.
Parte 2: Racionalização do calendário de pagamentos
da dívida grega segundo as seguintes linhas. Primeiro, para efetuar uma
RECOMPRA DA DÍVIDA, a Grécia pede um novo empréstimo ao ESM, depois compra as
obrigações ao BCE e retira-as. Para renegociar este novo empréstimo,
concordamos que a agenda de reformas profundas é a condição comum para
completar com êxito o atual programa e para assegurar o novo acordo ESM que
entra em prática imediatamente depois e corre em concorrência com o continuado
programa FMI até ao final de 2016. Os fundos a curto prazo assentes no
cumprimento do programa corrente e no financiamento a longo prazo é completado
com o retorno dos lucros SMP, ascendendo a 9 mil dos restantes 27 mil milhões,
que vão para uma conta usada para satisfazer os pagamentos da Grécia ao
FMI.
Parte 3: Um programa de investimentos que impulsione
a economia grega, fundado no Plano Juncker, o Banco de Investimento Europeu -
com quem já estamos em conversações - o EBRD e outros parceiros que serão
convidados a participar também em ligação com o nosso programa de privatizações
e o estabelecimento de um banco de desenvolvimento que procure desenvolver,
reformar e colateralizar bens públicos, incluindo propriedades
imobiliárias.
Alguém
duvida verdadeiramente de que este anúncio em três partes mudaria
dramaticamente o espírito, inspiraria os gregos a trabalharem duramente na
esperança de um futuro melhor, convidaria investidores para um país cuja Bolsa
caiu tanto e daria confiança aos europeus de que a Europa pode, no momento
decisivo, fazer as coisas certas?
Colegas,
nesta encruzilhada é perigosamente fácil pensar que não há nada a fazer. Não
caiamos na armadilha deste estado de espírito. Podemos forjar ainda um bom
acordo. O nosso governo está de pé, com ideias e com a determinação de cultivar
as duas formas de confiança necessárias para pôr fim ao drama grego: a vossa
confiança em nós e a confiança do nosso povo na capacidade da Europa para
produzir políticas que joguem a seu favor e não contra ele.