quarta-feira, 1 de abril de 2015

A Páscoa de muitos cristãos




As pessoas professam religiões, dizem-se praticantes e com fé, ou não praticantes mas com fé, enfim, são tudo na sua autoavaliação cristã mas quase nada na sua prática ou demonstrando-a de forma pouco clara e até envergonhada.

Muitas delas, milhares e milhares por esse mundo fora, têm posto a sua religiosidade ao serviço de um deus claramente moldado à sua imagem e de uma igreja que pouco ou nada lhes exige, que "não lhes dá trabalho" ou que pouco ou quase nada os compromete.

Querem um deus de conveniência e uma igreja de feição, pouco crítica,  serena, observadora, acomodada em princípios e valores que a muito custo vai alterando, num imobilismo que nem sempre transparece mas que existe, presa que tem estado a uma estrututa organizacional interna ainda muito conservadora e que em nada tem contribuído para a Igreja da mudança, da verdadeira mudança, daquela que surgirá quando, com autenticidade, se quiser construir, não a igreja das pedras mas a igreja dos homens, a igreja que parte de dentro para fora.

Pese embora a ação de grandes líderes religiosos que esboçaram um novo rumo para a mesma e novas orientações para os seus fiéis, continuo a assistir à igreja das aparências, à igreja das fórmulas repetidas e repetidas ao longo dos séculos, fortemente responsável pela atitude passiva e acomodada de muitos e muitos dos seus seguidores, quer ao nível da sua formação religiosa e espiritual, quer ao nível de uma cidadania ativa e global na qual marcassem, porque deveriam marcar, efetivamente, a diferença.
Não basta dizer que se é cristão e que se é praticante, quando essa prática se resume, na maioria dos casos, a uma presença meramente física nas missas ou ao cumprimento de alguns sacramentos, caso do batismo ou do matrimónio.

Ser cristão implica saber sê-lo, assumi-lo, conhecer a palavra de Deus, refletir sobre ela, concretizá-la na sua relação com os outros, com a Vida, praticar o Evangelho, pôr-se ao serviço dos pobres, dos que não têm voz, dos injustiçados, dos mais vulneráveis, dos que sofrem. 
Ser cristão implica ser-se coerente, mais do que verdadeiro, envolver-se seriamente no compromisso que fez com Deus e com a sua palavra para a construção de um mundo realmente fraterno e em paz. De um mundo novo.

Infelizmente, não é isto que vejo em muitos e muitos deles, por esse mundo fora, sejam de que religião for mas, seguramente, dizendo-se cristãos:
Semeiam os conflitos, a guerra, servem-se da religião e de Deus para a fazer, indiferentes à dor e ao sofrimento dos outros, sem compaixão alguma, trate-se de pessoas ou animais que humilham, exploram, massacram, torturam, matam, para gáudio dos seus prazeres mais baixos e desprezíveis.

Estamos em plena quadra pascal. 
Quem vive de forma coerente a sua mensagem?  Quem a sente como tal?
Que lugar reserva cada cristão, na sua vida, para Cristo Ressuscitado? E que ensinamentos Dele aprendeu, interiorizou, para levar à prática, finalmente, a construção desse mundo novo no qual a paz seja possível entre todos os seres da Criação?
  

Nazaré Oliveira