Deviam estar todos presos - Excelente artigo de Nicolau Santos, in EXPRESSO.
Até agora considerava-se que, entre
todos os bancos portugueses que tiveram problemas, só o BPN era verdadeiramente
um caso de polícia. Mas à medida que se conhecem mais pormenores sobre o que se
passou nos últimos meses no BES cada vez temos mais a certeza que estamos
perante um segundo caso de polícia. Daí a pergunta: por que é que não estão
todos presos?
Se não, vejamos. Depois de ter sido
proibido pelo Banco de Portugal de continuar a conceder novos créditos ao Grupo
Espírito Santo a partir de Janeiro deste ano, o BES continuou a fazê-lo - e,
segundo as indicações, fê-lo no montante de 1,2 mil milhões de euros. E das
duas uma: ou fê-lo com conhecimento de toda a administração, que sabia da
proibição do Banco de Portugal; ou fê-lo por decisão de apenas duas pessoas -
Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires.
No primeiro caso, todos deviam estar
já presos; no segundo, os dois deviam estar detidos. Para além de desobedecerem
ao banco central, lesaram gravemente o património do banco, sabendo conscientemente
que o estavam a fazer.
Quanto aos outros membros do conselho
de administração, se não foram coniventes, foram pelo menos incompetentes.
Tinham responsabilidades em várias áreas de controlo da atividade do banco e ou
não deram por nada ou, se deram, não fizeram nada. Por isso, fez muito bem o
Banco de Portugal em afastar Joaquim Goes, António Souto e Rui Silveira.
Mas e a Tranquilidade? A
Tranquilidade que também continuou a investir em empresas do GES este ano
sabendo do estado em que se encontravam? O presidente executivo Pedro Brito e
Cunha, que é primo de Ricardo Salgado, tomou essas decisões com base em quê? Na
relação familiar, como é óbvio. Devia estar detido igualmente.
Lesou gravemente e de forma
consciente o património da seguradora. E Rui Leão Martinho, o presidente não
executivo da Tranquilidade e ex-presidente do Instituto de Seguros de Portugal,
não sabia de nada?
De novo, das duas uma: ou é
incompetente ou foi conivente. Em qualquer caso, já se devia ter demitido ou
ter sido demitido. Mas a verdade é que o Instituto de Seguros de Portugal
parece estar perdido em combate. O presidente José Almaça não tem nada para
dizer? Não tem nada para fazer?
Já agora, António Souto, que o BdP
suspendeu da administração do BES é membro do conselho de administração da
Tranquilidade. Vai continuar neste cargo? E Rui Silveira, igualmente afastado
da administração do BES, é do conselho fiscal da Tranquilidade. Também se vai
manter na seguradora?
Por tudo isto se vê o polvo em que se
tornou o GES, tendo no seu centro o BES. Nem todos têm as mesmas
responsabilidades. Mas há vários dos seus dirigentes que já deviam estar
detidos e sem direito a caução pelos danos que estão a causar a muitos dos que
neles confiaram e ao próprio País.
Então, a pergunta é:
- Por que é que não estão todos presos?
E a resposta, óbvia, só pode ser:
- Porque eles são, de facto, os donos disto tudo. Das leis, da Justiça,
dos governos, do parlamento. E, por consequência, de todos nós.
Não ouviram, na passada terça-feira, na Assembleia da
República, a propósito da destruição da PT devido ao caso BES – e às opções dos
seus gurus – Pedro Passos Coelho dizer que não é nada com ele? Mesmo que o país
perca milhões com isso, nacionalizar está fora de questão? Só se podem
nacionalizar os prejuízos, não é verdade?!
E tu deixas…?