«Locke», a
film with Tom Hardy as the sole «real» actor, deserves two things: to be seen;
to be intensely, and carefully, discussed. We consider this «low cost» movie
one of the filmic events of the present season! Very touching. Just
amazing!
Um filme, ou uma qualquer outra Obra, é apenas isso? Por
definição, não. Uma obra de arte nunca existe sozinha, pois ela exige sempre a
presença do intérprete, seja ele leitor, espectador, ouvinte, ou como se lhe
queira chamar. Neste momento partilho um facto: fui ao cinema; e ofereço a
razão desta minha intervenção: acabo de ver um dos filmes mais
«impressionantes» de sempre. Digo «impressionante» a propósito de um filme em
que, «ao vivo», entra apenas um actor (Tom Hardy). Faz sentido? Sim,
precisamente na medida em que se trata de um filme que declama as horas
dramáticas, simultaneamente calmas e «furiosas», esperançosas e dramáticas, de
um homem chamado Ivan Locke, um encarregado de obra (capataz) em Birmingham,
que por um motivo muito pessoal decide, no fim de um longo e complexo dia de
trabalho e na véspera de uma das maiores operações de construção civil na
Europa, ainda da sua responsabilidade, se mete no seu BMW e navega a
auto-estrada que liga Birmingham a Londres. Na prática, o filme começa com a troca
da direcção do pisca-pisca: estava primeiro para um lado; de repente mudou para
o outro! Assim começa o drama de um homem que, como diria Kant, movido por um
apurado sentido do DEVER e da RESPONSABILIDADE PESSOAL, toma uma decisão, da
qual não abdica, uma decisão certamente justa e que ele pensa ser absolutamente
correcta mas que o vai levar, em poucas horas, a perder (quase) tudo: o emprego
onde é brilhante, a mulher que ama... tudo menos o carro que guia do princípio
ao fim do filme! Tudo, por uma simples razão: o dever de assumir a sua
responsabilidade como pai de uma criança que lhe está para nascer fora do
matrimónio e de uma mulher que não ama, num mundo que não se poderia interessar
menos por uma decisão como a sua. Simplesmente profundo! Tão profundo como,
arrisco dizer, nunca antes vi numa simples pantalha de cinema, ainda por cima,
neste caso, com um filme de baixo custo, com apenas um actor «real» (dos outros
temos apenas a voz através do telefone do BMW em marcha constante, por vezes
quase errante, numa motorway britânica em hora de ponta). Numa classificação de
1 a 5, dou, no mínimo, seis estrelas a este filme! Verdadeiramente excelente!
Um filme que merece ser usado em todos os Cursos de Ética que se façam nos
próximos anos; um filme que não pode deixar de fazer pensar; um filme memorável
com Tom Hardy a fazer uma performance como nunca antes vi. Simplesmente dito:
um verdadeiro fora-de-série, este filme intitulado «LOCKE» e que agora,
felizmente, posso dizer que já vi. Dito isto, a minha recomendação: quem para
isso tiver oportunidade, não perca um filme que, como poucos, tem o condão de
fazer pensar: no que sejam as coisas da vida, no que seja ou não o amor, no que
sejam o sentido do dever e da responsabilidade, no que seja, enfim, a razão de
ser e o sentido que, de verdade, a algures nos pode levar. Pela comoção, nunca
aplaudiria um filme como este. Mas se pudesse dava um Abraço a todos os que o
fizeram, ou não fosse este um daqueles filmes que, como sempre de novo vai
acontecendo, resgatam a Sétima Arte para o que esta tem de melhor ou mais
importante, e que julgo ser isto: a capacidade de nos ajudar, ou fazer pensar!
E se alguém me disser que o filme não é perfeito, terá certamente a minha
concordância. Mas com uma condição: que o filme seja visto com olhos de gente
adulta, numa atitude de investigação interior,numa disposição para a empatia
iluminada pela razão. Pelo que repito: a ideia do Filme, mais do que tudo, é...
simplesmente brilhante! Mas que ninguém se iluda: o filme não é fácil e a mim
só não me fez chorar porque não podia!