O nosso “ajustamento” está a chegar ao fim
e, aos poucos, vamos regressando aos “mercados”.
Desse tal “ajustamento”, o resultado está à vista: baixa de salários,
cortes nas pensões, desemprego, emigração, cortes na saúde, cortes na educação,
cortes nos apoios sociais, empobrecimento geral, destruição da classe média,
fome, exclusão, suicídios e, claro, aumento da dívida pública, como não podia
deixar de ser, bem como a privatização da ANA, dos CTT e dos Estaleiros de
Viana.
Mas ainda não lhes chega, é preciso baixar ainda mais os salários, é
preciso cortar mais nas pensões e tornar os cortes definitivos, é preciso
entregar a saúde e a educação aos privados, é preciso concretizar o retrocesso
civilizacional que se propuseram levar a cabo, é preciso entregar a TAP aos
amigos, bem como as Águas de Portugal e, pasme-se, já se fala até da
privatização da Segurança Social. É já a seguir, com o “programa cautelar”.
Num futuro próximo estaremos “ajustados” ao
Bangladesh. Nessa altura, a nossa economia será concorrencial mas, regressemos
então aos “mercados”.
Nos tempos que correm, as palavras já não querem dizer
nada. São como bolinhas de sabão, paroles, paroles… deixemo-nos de eufemismos e
tratemos os bois pelos nomes: mercados é sinónimo de alta finança, nacional e
internacional. Ponto final!
Tempos houve em que tínhamos um Banco de
Portugal que servia para alguma coisa, que podia imprimir moeda, que controlava
a economia, que regulava o sistema financeiro e que fiscalizava a banca. Hoje, o
Banco de Portugal não serve para nada a não ser atribuir reformas principescas,
não temos independência económica, temos uma moeda que nos é desfavorável e
estamos subjugados pelo Banco Central Europeu, governado por um mafioso que
empresta dinheiro aos “mercados” a 1%, para que estes “ajudem” os países a 5 e
6%.
Vivemos
ao sabor dos humores das agências de ratting e da ganância dos “mercados”, e
estes, que em tempos foram controlados pelos Estados, têm hoje o poder de
colocar povos, países inteiros de joelhos, fazendo-o sem qualquer pudor.
É esta a nossa economia, uma economia para
totós, e os totós somos nós, são os nossos filhos e serão os nossos netos, que
passarão as suas vidas a engordar os “mercados”.
Algures entre tratados, neste processo de
integração europeia em que nunca acreditei porque já cá ando há muitos anos e
sei de que massa somos feitos, fomos traídos.
De uma Europa que se esperava
solidária, para as pessoas, para a cultura, para o trabalho e o bem estar
social, resultou uma Europa dos “mercados”, da ganância, do desemprego, da
exclusão, da fome e dos suicídios.
Não tenhamos ilusões: os neo-liberais, para
quem as pessoas não passam de números, estatísticas, e o que conta são os
“mercados” e os cifrões, vieram para ficar e ficarão por muitos anos. Ganharam
a batalha e não tiveram que se esforçar muito. Bastou-lhes colocar meia dúzia
de marionetes em lugares chave e esperar que os “socialistas” e
“sociais-democratas” europeus lhes entregassem a Europa de mão beijada. Um
verdadeiro golpe palaciano do qual nos arrependeremos para sempre, porque esta gente causa mais estragos e mata mais
gente que os ditadores.
Quem não tiver seguro de saúde, morrerá à
porta dos hospitais, os velhos, os improdutivos e os desempregados morrerão à
fome ou ficarão entregues à caridade.
Mas
nem todos nos deixamos embalar por eufemismos. Pena é que sejamos poucos… por
agora!
Carlos Galvão