Um artigo que também nos põe a pensar. A pensar na Seleção mas, sobretudo, para além dela.
Já agora, a afirmação de Paulo Bento: "Tivemos o que merecemos". Lembram-se?
Oh, my God!
Já agora, a afirmação de Paulo Bento: "Tivemos o que merecemos". Lembram-se?
Oh, my God!
A comunicação social quase não
falou no assunto, mas a selecção portuguesa de futebol foi eliminada do mundial
do Brasil. E é uma tragédia nacional.
Pessoalmente, ainda estou que nem posso. Não
me conformo com a ideia de deixar de ver directos nos telejornais sobre a
chegada do autocarro da selecção ao hotel. Acompanhava com enorme comoção
patriótica o destino daquelas litradas de azeite e daqueles quintais de
bacalhau que nunca mais vou saber como terminarão. Vou ter que começar a
conviver com a imprevisibilidade de mudar de canal sem saber o que me espera e
tanta incerteza prejudica a minha estabilidade emocional. Ao menos que algum
daqueles especialistas em tudo e mais alguma coisa, os tais que agora dizem de
si próprios serem intelectuais de direita sem medo, se atrevesse a propor para
os jogadores e equipa técnica da selecção a sua receita infalível para fazer
aumentar a produtividade do país.
Não que defenda reduções de
salários como estratégia para se conseguir mais do que desequilibrar contas
públicas que são função de uma estrutura fiscal salário-dependente, rebentar
com o consumo que sustenta a grande maioria das nossas empresas, concentrar
ainda mais a riqueza e eternizar o atraso estrutural do país.
Ninguém trabalha melhor ou produz
mais por receber menos, pelo contrário, e os jogadores de futebol não são
excepção. Mas podia ser que, se algum destes génios tivesse coragem para tanto,
a manada que se entusiasma com o espectáculo de um autocarro a chegar a um
hotel e com os penteados do Cristiano Ronaldo se desse conta dos disparates
debitados por esta tropa de elite.
Não digo que se revoltassem, o 12º
jogador comprovadamente é gado manso. Mas podia ser que, confrontados com o que
estão a permitir acontecer no país que deixarão a filhos e netos, se lembrassem
deles na próxima vez que gritassem “viva Portugal”.
“Viva Portugal” não é aquilo. Viva
Portugal é o país que poderíamos ser se não nos contentássemos com sonhos
pequeninos como a conquista de uma porcaria de um mundial de futebol. Ainda por cima um mundial feito com milhões
roubados à Saúde, à Educação, à Habitação do país sonhado por tantos
brasileiros que se organizaram para dizer ao mundo o significado do “viva o
Brasil” que querem que viva, e que não é o Brasil do futebol.
Soubéssemos nós reaprender com eles
a sonhar em vez de andarmos sempre a dizer adeus ao sonho. Teria sido o nosso
melhor mundial de todos os tempos. "Não há-de ser nada". Fica para
uma próxima. Fica sempre.
Filipe Tourais in http://opaisdoburro.blogspot.pt/