A notícia que na noite de ontem o Ministério de Nuno
Crato pôs a circular é um bom exemplo de como o actual Governo brinca com a
percepção e com o dinheiro dos portugueses ao mesmo tempo que vai destruindo a
Escola pública e as vidas de milhares de profissionais da Educação.
O título – "Governo pretende financiar menos 64 turmas em colégios já no
próximo ano" – é bastante claro quanto ao seu objectivo de
injectar na opinião pública a ideia de que os cortes também já estão a chegar
aos colégios privados com contrato de associação.
Quem continuar a ler verifica que afinal não são bem 64 turmas, podem ser apenas 44. E de 44 a 64 num universo de quantas?
Quem continuar a ler verifica que afinal não são bem 64 turmas, podem ser apenas 44. E de 44 a 64 num universo de quantas?
O texto é omisso quanto ao total de turmas que estão a
ser financiadas. Apenas diz que as últimas estatísticas da educação disponíveis
são de 2012 e apontam para 373.847 inscritos no ensino particular e
cooperativo, do pré-escolar ao secundário, mas se nos dermos ao trabalho de
procurar um pouco mais ficamos a saber que o universo é de
1809 turmas. Vezes 81.023 euros de subsídio por turma dá a módica quantia de
146,57 milhões, dos quais o Governo diz que, graças a aturadíssimas negociações
e não à bruta, como faz nas escolas do Estado, vai poupar 5 milhões. 5 em 146,57 milhões corresponde a uma redução de
3,41%, 64 em 1809 turmas a uma redução de 3,53%
e 44 em 1809 a não mais do que uma variação negativa de 2,43%.
Tudo a ver com a brutalidade dos 1,1 mil milhões que o Governo reduziu em 3 anos aos cerca de 8 mil milhões de euros orçamentados para a Educação em 2011, uma variação negativa de 13,75% em três anos, o triplo do previsto no mesmo memorando que também mandava reduzir as transferências para escolas privadas com contratos de associação que ficaram por fazer, apesar da ilegalidade que é o traço comum de grande parte destes financiamentos, nomeadamente o financiamento de escolas que, porque funcionam a pouquíssima distância de escolas do Estado, nunca poderiam receber um cêntimo sequer. Mas recebem milhões.
Tudo a ver com a brutalidade dos 1,1 mil milhões que o Governo reduziu em 3 anos aos cerca de 8 mil milhões de euros orçamentados para a Educação em 2011, uma variação negativa de 13,75% em três anos, o triplo do previsto no mesmo memorando que também mandava reduzir as transferências para escolas privadas com contratos de associação que ficaram por fazer, apesar da ilegalidade que é o traço comum de grande parte destes financiamentos, nomeadamente o financiamento de escolas que, porque funcionam a pouquíssima distância de escolas do Estado, nunca poderiam receber um cêntimo sequer. Mas recebem milhões.
A propaganda teve o cuidado de branquear a ilegalidade
na primeira frase e de sublinhar como
será resolvida sem fazer perigar o interesse privado na segunda.
Filipe Tourais no blogue "O país do burro"