“Embora haja
muitas pequenas e fáceis ações que possamos realizar para ajudar os animais,
duas coisas que já não são aceitáveis são a inação e a indiferença. Atingimos o
ponto em que já chega, ou na verdade, em que o que já chega é demasiado -
causamos muitíssimo sofrimento e dor desnecessários no mundo. Existem canários
em minas de carvão por todo o mundo a dizerem-nos que há algo de profundamente
errado.
O laureado
Nobel e pacifista Elie Wiesel encoraja-nos: «Tomem partido. A neutralidade
ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o
torturado.» O silêncio é mortal para os animais. Há um sentido de urgência – o
tempo não está a nosso favor. A indiferença sai muito cara. Temos de agir agora
com compaixão e amor por este magnífico mundo.
Naturalmente,
não deveremos deixar que a raiva nos guie. Temos de nos manter ativistas com
compaixão, constantemente. É isso que nos dá verdadeiro impacto para
influenciar os outros, mas também nos ajuda a nós mesmos. Sermos bondosos
faz-nos sentir bem; é uma experiência profunda, e mesmo espiritual, espalhar a
compaixão, a bondade e o amor. E também é contagioso. Temos de ser bondosos e
simpáticos e cooperarmos uns com os outros, para podermos definir e trabalhar
com objetivos comuns, mesmo quando discordarmos a respeito da via exata. Nunca
poderemos ser demasiado bondosos, nem ninguém é perfeito. A humildade e a via
para avançar é reconhecermos as nossas próprias imperfeições, mesmo quando
procuramos a mudança nas ações dos outros. Devemos questionar a ação de uma
pessoa e não atacarmos as pessoas em si.
Todos os
dias, devemos procurar oportunidades para fazermos algo pelos animais e
criarmos oportunidades para que os outros o façam. Quando o fizermos,
precisamos de ser pacientes, pois, desde que estejamos a deslocar-nos na
direção certa, as coisas melhorarão para os animais e para a Terra. Tal como
vimos, o ativismo tem custos – como o assédio, a intimidação e a frustração - ,
mas estes são o preço de colocarmos as nossas crenças em ação para impedirmos a
crueldade e salvarmos vidas. Protestem suave, mas insistentemente; mudem tanto
as ações como os espíritos e os corações. As mudanças que são impostas têm em
geral pouca duração e fazem pouca diferença.
Muitas
vezes, são precisos numerosos esforços para acumular o ímpeto necessário para
produzir as profundas modificações na atitude e no espírito que faz
verdadeiramente a diferença. É importante ouvir todas as opiniões. Isto é
importante para ajudar a encontrar e a resolver as causas na raiz dos
problemas, mas é também uma tática inteligente. Temos de dominar os argumentos
dos opositores.
Apenas
conhecendo as táticas e os argumentos dos vossos opositores é que conseguirão
montar uma ofensiva com sucesso. (...) De facto, os
problemas respeitantes aos animais são tão vastos que exigem soluções
pró-ativas criativas mergulhadas em profunda humildade, compaixão, cuidado,
respeito e amor. Não podemos permitir que as nossas preocupações e os nossos
medos nos tornem inativos e pessimistas e não podemos ceder ao cinismo. (...) Precisamos
de nos concentrar em sermos positivos em tempos difíceis e desafiadores e não
deixarmos que a nossa frustração nos leve a melhor. Temos de agir localmente e
pensar globalmente.
Finalmente,
é essencial lembrar que cada indivíduo conta e que cada indivíduo faz a
diferença. Tal como observa Margaret Mead: «Nunca duvidem de que um pequeno
grupo de cidadãos refletidos e empenhados pode mudar o mundo. Na realidade, tem
sido a única coisa que o tem conseguido.» É também importante lembrar que
Gandhi tinha razão – por muito que as pessoas lutem contra vocês, se
acreditarem no que estão a fazer, acabarão por vencer.”
"Manifesto dos Animais", por Marc Bekoff
(2010)