Esta semana, o primeiro-ministro italiano
alertava a Alemanha para o risco de "dissolução da Europa". É
perturbador ler isto mas não me surpreendeu.
De facto, numa União Europeia que deveria cumprir aquilo a que se
destinou e que tanto apregoou, isto é, aproximar a Europa dos seus cidadãos e
os povos da União entre si, e que considera primordial assegurar a paz, prosperidade
e estabilidade às suas populações, consolidar a reunificação do continente, garantir
a segurança dos cidadãos, promover um desenvolvimento económico e social
equilibrado, vencer os desafios da globalização e preservar a diversidade dos
povos europeus, e ainda, fomentar o desenvolvimento sustentável, a qualidade do
ambiente, os direitos humanos e a economia social de mercado, a União Europeia está a falhar na política
de solidariedade e de coesão que deveria ser, sempre, a prioridade das
prioridades.
A
Europa não conseguirá viver unida nem sobreviverá como UE se mantiver a posição
atual de subordinação aos interesses dos poderosos que a integram, caso da
Alemanha
e da França. Afinal, não foi com este espírito que esta União foi criada nem
assim se justifica a posição dos que nela sonharam concretizar a formação de um
espaço territorial forte, próspero e solidário, económica mas também
socialmente.
Nunca o económico deveria impor-se ao social como temos visto, com
a clara opressão e dependência dos mais fracos, dos de menos recursos ou dos
que maiores adversidades sofrem.
Nesta contabilidade da desgraça, aquilo a que assistimos atualmente
é à afirmação nada desejável e até preocupante de países como a Alemanha com um
acentuado nacionalismo de má memória, que mais imperialismo parece querer voltar
a ser, esquecida que está do mal que fez e dos males que deixou quando também
permitiu lideranças de gente obcecada pelo poder a qualquer preço. E esse mal
foi o nazismo - o pior dos fascismos -, foi a aceitação de um monstro ao qual serviram
e ao qual nunca se opuseram, inebriados pela ideia de um mundo ariano omnipotente
assente numa Mein Kamft de horror,
sangue e morte e na crença de um mundo que humilhasse (como humilhou) e que
escravizasse (como escravizou), agindo pela força das armas mas também pela
força da ignomínia e do genocídio que ao desespero e à “solução final” milhões
levou.
A
Alemanha não tem moral para ter a arrogância que tem tido relativamente aos
outros países da UE. A Alemanha (e não só!) deve rever os compromissos a que é
obrigada por via das disposições comunitárias e rever, sobretudo, os objetivos
dessa união.
A
Alemanha atual que é a Alemanha da arrogância e do nacionalismo de pendor
ditatorial, nunca cumpriu os seus compromissos desde a 1ª guerra mundial sendo exatamente
os seus incumprimentos a razão principal do deflagrar das duas guerras mundiais
iniciadas na nossa Europa.
Quando a própria UE diz e reforça a necessidade que os países que
a compõem continuem a trabalhar em conjunto, para assegurarem o seu crescimento
económico e serem capazes de concorrer a nível mundial com outras grandes
economias, quando afirma que isoladamente nenhum país da União tem dimensão
suficiente para fazer valer os seus interesses na arena do comércio mundial,
quando pretende que o mercado interno europeu proporcione às empresas uma
plataforma essencial para uma concorrência eficaz nos mercados mundiais, quando defende que este grande espaço de
livre concorrência tem de ter como corolário uma política de solidariedade de
dimensão europeia que beneficie de forma clara e concreta os cidadãos europeus,
e que os fundos estruturais, geridos pela Comissão Europeia incentivem e
complementem os esforços das autoridades nacionais e regionais da União para
reduzirem as desigualdades existentes entre as diferentes partes da Europa…
Olhamos para a atualidade e que vemos?
Vemos o servilismo da Europa face à Alemanha, a exigir e a regulamentar
financeira e despoticamente todos os outros, esquecida que está da vertente
fundamental que a União Europeia jamais deveria secundarizar, e muito menos,
alhear-se, que é a da SOLIDARIEDADE entre os seus estados.
A aplicação dos fundos estruturais e dos fundos de coesão é cada
vez mais urgente e, numa fase de depressão mundial como a que vivemos, a transferências
de fundos dos países ricos para os países pobres é cada vez mais pertinente,
sem que isso leve à humilhação de uns países sobre os outros ou de políticas
financeiras suicidas, como o que se passa com a Alemanha face à Europa em geral
e à do sul em particular.
Robert Schuman, Konrad Adenauer, Alcide de
Gasperi e Winston Churchill, quiseram uma nova era para os europeus
libertando-os de totalitarismos que desgraçadamente separaram e dizimaram
gentes e valores.
Recentemente, o primeiro-ministro italiano Mario Monti alertou a Alemanha para o risco de
um "confronto entre Norte e Sul" na Europa, numa entrevista hoje
publicada pela revista alemã Der Spiegel.
Este estadista falava em tensões que "contêm "a semente da dissolução psicológica da Europa",
considerando "muito preocupante" o aumento das tendências
nacionalistas que cada vez se fazem sentir mais. E nós também vemos e sentimos isso. Monti chega a referir que, mais do que
financiamento, o sul da Europa precisa de solidariedade, apoio moral. E é
verdade, sim.
Segundo a Lusa desta semana, Draghi,
presidente do Banco Central Europeu, afirmou que o "conselho de
governadores desse Banco poderá aplicar mais medidas não convencionais para
restaurar a transmissão de política monetária”, uma referência à possibilidade
de o BCE voltar a comprar títulos de dívida europeia e assim reduzir as taxas
de juro pagas por países como a Espanha e a Itália. Acrescentou que qualquer
nova compra de obrigações pelo BCE terá de ser precedida por um pedido de ajuda
a um dos fundos de estabilidade financeira. No entanto, a ideia de o BCE
financiar diretamente os Estados da zona euro não agrada a todos os membros do
Banco, particularmente à Alemanha.
"Essas preocupações são infundadas", disse Monti ao Spiegel. "É exatamente essa desconfiança que
nos impediu de encontrar uma solução clara para esta crise. Temos que a superar
e voltar a confiar uns nos outros."
Só a união fará a força da UNIÃO. Mas uma união séria, onde o compromisso e
a ética por todos seja assumida e não só
por alguns, como aconteceu com as disposições do Tratado de Versalhes,
lembram-se?
Nazaré Oliveira