Apetece-nos
hoje voltar ao tema das PPP. Porque é preciso que a indignação cidadã cresça. E
que ganhe a força precisa para vencer o medo que nos paralisa e resigna numa
indiferença conformada.
A
exigência do esclarecimento completo e de todas as culpas do negócio criminoso
e ruinoso (para o país) das PPP não pode morrer na praia. É preciso lembrá-lo
todos os dias. E todos os dias exigir apuramento dos factos e responsabilização
política e criminal até ao fim. Não apenas dos detentores de cargos políticos.
Também dos que, do outro lado, agiram em conluio deliberado e ganancioso para
capturar o Estado e assaltar os recursos públicos, privatizar lucros garantidos
e socializar todos os riscos e prejuízos possíveis. Bancos, sociedades de
advogados, consórcios privados. Que continuam por aí, com os seus comentadores
e assessores situacionistas bem pagos a pregar a austeridade para os outros. A
tal que lhes garante as rendas e os perpetua no controlo de um poder político
capturado pelos negócios. E que para os portugueses significa o garrote social
de uma dívida pública sempre crescente, apertado pelos capatazes servis de
Merkel que ocupam a governação.
A
leitura do acórdão
do Tribunal de Contas sobre as PPP rodoviárias de 31 de Maio é uma boa e
inspiradora leitura de domingo. Basta ler o sumário executivo inicial. Está lá
tudo.
Um
trabalho noticioso recente da SIC Notícias (aqui) com o
jornalista José Gomes Ferreira, fundamentado na análise desse acórdão, é também
um complemento eficaz e directo na denúncia dos crimes cometidos. Com um senão:
É
verdade que a governação de Sócrates, com a cumplicidade presidencial de Cavaco
Silva, foi um fartar vilanagem no saque dos dinheiros públicos, presentes e
futuros, para benefício de alguns, como mais esta análise do Tribunal de Contas
confirma e esse trabalho denuncia eficazmente.
É
preciso porém não esquecer que no processo das PPP estão comprometidos todos os
partidos do tal “arco do poder” que não passa de um eufemismo bem-pensante para
o bloco central de interesses. A negociata da Lusoponte na exploração das
pontes sobre o Tejo, uma PPP abençoada por Cavaco Silva, continua de boa saúde
à sombra protectora do Estado, sob a batuta do seu ex-ministro Ferreira do
Amaral.E tudo o que veio depois. Na saúde, como nas estradas, e em tudo o que
cheirasse a dinheiro fácil e lucro protegido.
O
tal polvo que tem (des)governado o país, é responsável por sermos os mais
desiguais e os mais pobres da zona euro e é a primeira e principal causa da
grandeza da dívida pública e privada. O tal que vai aparecendo nos processos
mediáticos da justiça que até agora têm morrido todos na praia. Que engorda e
cresce à nossa custa desde há muito, depositando em cima de todos o fardo da
culpa e da expiação.
São
assim estas elites ditas liberais que ganham a sua vidinha proclamando que
Estado Social já era (o “menos Estado”), mas que querem um Estado protector das
suas rendas e forte no controlo do protesto social que ameace os seus
interesses.
A auditoria cidadã à dívida pública
tem que avançar. A temperatura da indignação tem que subir para derrotar esta
espiral dos grandes interesses. A convergência de forças para uma alternativa
tem que fazer caminho. Ou estamos tramados.
in http://oqueficadoquepassa.wordpress.com/ Henrique Sousa
E, a propósito uma outra leitura que sugiro vivamente: http://rr.sapo.pt/informacao_prog_detalhe.aspx?fid=79&did=13961