segunda-feira, 11 de junho de 2012

Parcerias público-privadas: que a culpa e a responsabilidade não morram na praia!



Apetece-nos hoje voltar ao tema das PPP. Porque é preciso que a indignação cidadã cresça. E que ganhe a força precisa para vencer o medo que nos paralisa e resigna numa indiferença conformada.

A exigência do esclarecimento completo e de todas as culpas do negócio criminoso e ruinoso (para o país) das PPP não pode morrer na praia. É preciso lembrá-lo todos os dias. E todos os dias exigir apuramento dos factos e responsabilização política e criminal até ao fim. Não apenas dos detentores de cargos políticos. Também dos que, do outro lado, agiram em conluio deliberado e ganancioso para capturar o Estado e assaltar os recursos públicos, privatizar lucros garantidos e socializar todos os riscos e prejuízos possíveis. Bancos, sociedades de advogados, consórcios privados. Que continuam por aí, com os seus comentadores e assessores situacionistas bem pagos a pregar a austeridade para os outros. A tal que lhes garante as rendas e os perpetua no controlo de um poder político capturado pelos negócios. E que para os portugueses significa o garrote social de uma dívida pública sempre crescente, apertado pelos capatazes servis de Merkel que ocupam a governação.

A leitura do acórdão do Tribunal de Contas sobre as PPP rodoviárias de 31 de Maio é uma boa e inspiradora leitura de domingo. Basta ler o sumário executivo inicial. Está lá tudo.

Um trabalho noticioso recente da SIC Notícias (aqui) com o jornalista José Gomes Ferreira, fundamentado na análise desse acórdão, é também um complemento eficaz e directo na denúncia dos crimes cometidos. Com um senão:

É verdade que a governação de Sócrates, com a cumplicidade presidencial de Cavaco Silva, foi um fartar vilanagem no saque dos dinheiros públicos, presentes e futuros, para benefício de alguns, como mais esta análise do Tribunal de Contas confirma e esse trabalho denuncia eficazmente.

É preciso porém não esquecer que no processo das PPP estão comprometidos todos os partidos do tal “arco do poder” que não passa de um eufemismo bem-pensante para o bloco central de interesses. A negociata da Lusoponte na exploração das pontes sobre o Tejo, uma PPP abençoada por Cavaco Silva, continua de boa saúde à sombra protectora do Estado, sob a batuta do seu ex-ministro Ferreira do Amaral.E tudo o que veio depois. Na saúde, como nas estradas, e em tudo o que cheirasse a dinheiro fácil e lucro protegido.

O tal polvo que tem (des)governado o país, é responsável por sermos os mais desiguais e os mais pobres da zona euro e é a primeira e principal causa da grandeza da dívida pública e privada. O tal que vai aparecendo nos processos mediáticos da justiça que até agora têm morrido todos na praia. Que engorda e cresce à nossa custa desde há muito, depositando em cima de todos o fardo da culpa e da expiação.

São assim estas elites ditas liberais que ganham a sua vidinha proclamando que Estado Social já era (o “menos Estado”), mas que querem um Estado protector das suas rendas e forte no controlo do protesto social que ameace os seus interesses.

A auditoria cidadã à dívida pública tem que avançar. A temperatura da indignação tem que subir para derrotar esta espiral dos grandes interesses. A convergência de forças para uma alternativa tem que fazer caminho. Ou estamos tramados.


in http://oqueficadoquepassa.wordpress.com/ Henrique Sousa


E, a propósito uma outra leitura que sugiro vivamente: http://rr.sapo.pt/informacao_prog_detalhe.aspx?fid=79&did=13961