Quando acabei de ler esta entrevista de Dom ManuelMartins, pensei:
Oh, se a Igreja Católica quisesse!
Se a Igreja Católica fosse mais atuante junto das
instituições políticas e dos políticos, se a Igreja Católica fizesse das suas
Igrejas lugares e locais de reflexão também sobre a importância da cidadania,
sobre a importância da intervenção cívica e política dos seus fiéis, se fizesse
das homilias verdadeiras análises do estado de calamidade social a que se
chegou no nosso país e no Mundo, quer em matéria de direitos e liberdades
constitucionalmente e legitimamente adquiridos quer em matéria de usurpação
escandalosa do Poder por parte dos que se acham donos e senhores de tudo e
todos, hábil e cobardemente “protegidos” nos votos que, ingenuamente, alguém
lhes confiou, escandalosamente acomodados em respostas patéticas de patética
justificação para uma pobreza que aumenta e uma fome que se agiganta……
Oh, se a Igreja Católica de hoje quisesse ter um papel
decisivo no combate contra a corrupção, contra os maus políticos, o
enriquecimento ilícito, o fosso cada vez maior entre ricos e pobres, a exclusão
social, os roubos institucionalizados, o saque legislado, os crimes sem
castigo… se quisesse, fazia-o como fez Jesus Cristo, desassombradamente, “do
cimo dos telhados”, contra tudo e contra todos, porque a luta pela dignidade
não tem preço e porque há limites para os sacrifícios que se pedem aos de
sempre.
Nas homilias, raros são os que, com inteligência,
sensibilidade, peito e coração aberto, interpretam o Evangelho à luz do nosso
tempo e se abrem criticamente aos problemas refletindo com a assembleia ou
levando-a a refletir. A refletir e a agir. Falam de lugares-comuns, repetem as
coisas do costume e perdem-se numa ladainha já gasta de fórmulas e fórmulas
milenares de milenar desgaste que a nada levará se consciência da realidade e
dos problemas não tiverem.
Mas nem todos são assim, felizmente.
Eu gostava de uma Igreja Católica que não se
apropriasse de Jesus Cristo para viver mas que O vivesse e Dele o exemplo
seguisse.