(…) Quando perguntámos a directores de escola o segredo do êxito escolar finlandês, responderam-nos: “Os professores, a qualidade dos professores.”E porquê? “Porque têm muito boa formação.”
Procurámos saber mais sobre essa formação. Têm todos formação superior. Os educadores de infância fazem um bacharelato (três anos); os professores dos primeiros seis anos do ensino básico têm uma formação de cinco anos em educação (mestrado). Os professores do 3.º ciclo e do secundário têm um mestrado na disciplina que ensinam e estudos pedagógicos.
A formação inclui observação de aulas nos três primeiros anos e um trimestre de estágio nos dois últimos anos. Tem uma forte componente didáctica graças à qual os professores são capazes de diferenciar métodos e materiais de acordo com as necessidades dos alunos.
Três conteúdos pedagógicos foram identificados como fundamentais:
- base social e ética do trabalho dos professores (por exemplo, competências de colaboração);
- compreensão do processo de aprendizagem;
- prevenção de dificuldades de aprendizagem.
Para outros, como um responsável da formação de professores de Helsínquia (segundo relato de Guy Lévy “Retour de Finlande” in Enjeux Pédagogiques, Bulletin de la Haute Ecole Pédagogique de Berne, du Jura et de Neuchâtel, Nov. 2008, n.º 10, pp. 26-27), o segredo residiria na abordagem sócio-construtivista subjacente ao ensino e aprendizagens dos alunos e que se concretizaria na sensibilização para a dimensão epistemológica de cada disciplina, nas “interrogações fundadoras”; no reconhecimento das representações dos alunos e no assentar nelas as novas aprendizagens; na dimensão social das aprendizagens, no aprender com os outros; na preocupação com o significado do que se aprende, do saber como pilar da dignidade humana; na pedagogia do risco que esta abordagem requer como requer uma atitude do professor que tem que reconhecer não saber tudo.
Como dizia o director da Escola Aurora: “Um dos aspectos mais importantes numa escola do século XXI é um professor não ter vergonha de não saber o que fazer com cada criança.”
Não descobrimos o segredo finlandês mas: professores que não receiam enfrentar as suas dúvidas, uma extraordinária rede de apoios e uma atitude de responsabilidade positiva da escola face ao direito à educação de todos os alunos são certamente ingredientes do êxito escolar finlandês. ::
Parte do texto de Ana Maria Bettencourt, Maria Armandina Soares e Maria Emília Brederode Santos
Fotografias de Ana Maria Bettencourt
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