sábado, 16 de julho de 2011

Combater o cancro

Já é possível pôr o sistema imunitário a combater o cancro

Comissão Europeia aprovou tratamento que duplica sobrevivência no melanoma avançado



Alexander Eggermont, director do Instituto Gustave Roussy, em Paris, começa por dizer que a novidade do ipilimumab não tem a ver com o melanoma, a forma de cancro de pele mais mortal.
Esta semana a Comissão Europeia aprovou o medicamento para o tratamento de segunda linha da fase avançada deste cancro, ou seja, para doentes com metástases em vários órgãos e que não reajam a nenhuma terapêutica. "É um anticorpo que consegue modular a resposta imunitária face aos tumores e mantê-la activa. Hoje sabemos que funciona contra o melanoma, que é apenas um entre os tumores candidatos. O que interessa é que conseguimos modular a resposta imunitária contra qualquer cancro."

Para Eggermont, que apresentou o medicamento numa conferência de imprensa em Paris, este tratamento, que agora fica disponível a nível europeu, depois de em Março ter sido aprovado pela FDA nos Estados Unidos, inaugura uma nova era na chamada imunoterapia, uma abordagem clínica que tenta estimular o sistema imunitário natural através de moléculas sintéticas.




A grande novidade foi publicada o ano passado na revista científica "The New England Journal of Medicine", mas é o corolário de um trabalho de 35 anos, algo que Eggermont considera particularmente interessante por ser o primeiro grande avanço clínico numa área em que não se viam novidades clínicas há quase tanto tempo como o que durou a pesquisa.

O medicamento permite duplicar a sobrevivência a um ano nos doentes com melanoma avançado, de 23,5% para 45,6%, e conseguiu, nos primeiros doentes tratados há quatro anos, manter uma sobrevivência estável na ordem dos 25%, independente da idade, sexo ou de o cancro estar associado a uma mutação genética no gene BRAF, algo que acontece em metade dos casos.




Na base do ipilimumab está o conceito de anticorpo monoclonal, a técnica desenvolvida nos anos 70 para replicar anticorpos humanos destinados a alvos moleculares específicos, ideia que valeu a Niels Jerne, Georges Köhler e César Milstein o prémio Nobel da Medicina em 1984.



Neste caso, o que os investigadores desenvolveram foi uma molécula, também conhecida por MDX-010, que reconhece uma proteína específica com um papel importante no sistema imunitário: ajuda a equilibrar a produção de células T, os soldados que vão atacar invasores (vírus ou células cancerígenas), para que se desenvolvam apenas os anticorpos necessários e o corpo adquira memória imunitária, em vez de aumentar de tal forma os anticorpos que podem surgir doenças autoimunes.



O problema, explica Eggermont, é que no caso do cancro a resposta imunitária normal não é suficiente. Depois de uma activação artificial do sistema imunitário, já conseguida noutras abordagens da imunoterapia, como o uso de interferão, por exemplo, na hepatite, ou de outros anticorpos em tumores linfóides ou no cancro da mama, havia uma tendência natural para a resposta imunitária ser suprimida, graças então ao papel dessa proteína-travão chamada CTLA-4.



"O que este medicamento faz é travar essa inibição: inibe o inibidor", diz o especialista. Assim, aumenta-se de forma mais sustentável a activação e a proliferação das células T e os tumores e metástases tendem a diminuir perante o ataque continuado, como demonstraram os ensaios clínicos que levaram à aprovação do medicamento.

Neste momento estão em curso ensaios clínicos para o uso da mesma molécula em fases avançadas do cancro do pulmão, do pâncreas e da próstata ou em doentes com grandes probabilidades de desenvolver metástases. Apesar de os resultados ainda não serem conhecidos, os resultados preliminares de um ensaio clínico para doentes com cancro da próstata metastizado, divulgados em 2009, revelaram melhorias significativas no estado de saúde de um quinto dos participantes.

Além da Bristol-Myers Squibb (BMS), que agora passará a comercializar este medicamento também na Europa, a Pfizer tem em estudo uma molécula semelhante, com o mesmo alvo. Para já, contudo, o único tratamento disponível é este, destinado a doentes em fases avançadas de melanoma.

Passa por quatro infusões, num espaço de três meses, que produzem efeitos a longo prazo mas podem envolver efeitos secundários graves do foro imunitário, como problemas do tracto intestinal, do tubo digestivo e do fígado.



A farmacêutica diz que, embora tenha havido sequelas fatais, poucas são crónicas. Foi criado um website onde os médicos que pretendam iniciar o tratamento nos seus doentes têm apoio 24 horas por dia para saber como actuar quando reportam efeitos adversos.



Caroline Robert, também do Instituto Gustave Roussy, onde foram realizados parte dos ensaios clínicos na Europa, explica que a grande vantagem deste medicamento tem sido o efeito duradouro observado e haver a garantia de que pelo menos em alguns doentes funciona, quando até aqui os 25% que sobreviviam ao primeiro ano eram quase um milagre.



"Dizemos sempre que um doente não é uma estatística, mas estatisticamente as abordagens até aqui não funcionavam. Não podemos ainda falar de cura, mas com este tipo de resposta esperamos curar alguns doentes."
por Marta F. Reis, Publicado em 16 de Julho de 2011 - jornal i




Quando li esta notícia fiquei tão feliz!



Feliz por saber que a luta contra o cancro não pára nem parará, e que gente fantástica como a que é referida, com o seu estudo e dedicação, inteligência e humanidade, nunca desistem de procurar a cura para este flagelo terrível.


Desconhecidos por quase todos, trabalham horas e horas nos seus laboratórios e dedicam grande parte das suas vidas à investigação científica posta ao serviço do bem comum e da Vida, sejam médicos, farmacêuticos, biólogos e tantos outros, discretamente metidos nos laboratórios, persistentes e combativos no seu trabalho contra o mal, contra a doença e contra a morte.


Nem sempre nas melhores instalações e condições mas sempre com a mesma seriedade e vontade de servir o outro e a Humanidade.


Nem sempre reconhecidos no mérito e excelência desse trabalho incomparável, postos completamente na sombra a favor de jogadores e treinadores de futebol, dirigentes desportivos, gestores, políticos, actores, cantores, apresentadores e tantos e tantos protagonistas da estupidez e da futilidade que por aí grassam.
Com ordenados milionários e mordomias perfeitamente obscenas, como se o país sem eles nada fosse e como se deles viesse aquele orgulho nacional completamente distorcido pela máquina propagandística e pelo marketing de ocasião bem à maneira lusitana.


Tudo continuará mal se continuar o lema “dai-lhes pão e dai-lhes circo” e o país não souber estabelecer prioridades para atingir um patamar que nos dignifique, que nos torne sabedores e críticos do nosso próprio caminho.


Quem sabe do que falo compreende as minhas palavras e a minha revolta.
Quem sabe do que falo sabe que é verdade esta falta de respeito e de reconhecimento para quem dele nunca deveria carecer.
Quem sabe do que falo sabe que enoja esta forma escandalosa de subalternizar o mérito e a excelência face ao mediatismo da estupidez e ao enaltecimento dos medíocres.


Somos diariamente inundados com revistas, jornais e programas de televisão popularuchos, que trazem as capas do costume, com as caras do costume, com os programas do costume, com as parvoíces virulentas do costume, que se escondem atrás de rostos patéticos rendidos aos botoxs, com gestos ensaiados de quem nunca nada fez de útil e que nunca nada de útil fará ou dirá, arrotando a dinheiro mas com um entorpecimento mental e intelectual de tal modo, que muito têm ajudado, também, na aproximação ao abismo e à inevitável letargia cultural e política cada vez mais alastrante.


Numa altura em que tanto se fala de Economia, Finanças, “ratings”, Moodys, crise financeira, negócios, analistas, bancos, acções, Bolsas, juros, investimentos, mercados, eu não esqueço o sofrimento de milhares e milhares de pessoas e das suas famílias, por causa do cancro. Nem da falta de investimento, prioritário, sim, na Saúde (e Educação).


Doença cobarde, silenciosa, traiçoeira, que destrói, mata, rouba e nos mergulha na pior das angústias: a ausência para sempre dos que à nossa vida tanta falta fazem, tragicamente levados por um cancro que desfez sorrisos, gestos, palavras e sonhos.


Apesar do trabalho de investigação oncológica, notável entre nós e noutros países (ver links), num esforço brutal para salvar vidas condenadas pelo cancro, nem sempre surge um “final feliz”.
E a revolta, a raiva, o grito e o desespero, acordam em nós a vontade cada vez maior de combater o brilho efémero de uma sociedade que não sabe reconhecer nem aplaudir quem verdadeiramente a serve com rectidão e humildade.


Gente que quase ninguém conhece, que não ganham ordenados milionários nem têm “direito” a interrupções televisivas ou aberturas de telejornais, sem fotografias nas primeiras páginas dos jornais, mas gente que trabalha para fazer de todas as vidas uma passagem feliz.


Para mim, sempre estiveram e sempre estarão em primeiro lugar. Sempre os aplaudi de pé.