sábado, 9 de julho de 2011

Exame de Acesso à Docência

Com a devida vénia, do Sr. Professor Rui Baptista (blogue De Rerum Natura), Nuno Crato e o Exame de Acesso à Docência



“Perdemos com a revolução e a contra-revolução. Perdemos também com três décadas de facilidade e demagogia” (António Barreto, sociólogo e professor universitário).


Depois de ter publicado vários artigos de opinião em vários jornais e em cerca de uma dezena de posts neste blogue em defesa de uma Prova de Acesso à Carreira Docente (o primeiro datado de 15.Fev.2008), era minha intenção não perder mais tempo com os seus detractores. Mas faço-o por serem alguns deles verdadeiros demagogos que continuam a defender a continuação do ingresso na carreira docente através de concursos que tenham como condição única a nota do diploma de licenciatura (agora mestrado), quer seja outorgado por universidades públicas ou privadas, escolas superiores de educação públicas ou privadas, tratando de igual forma quem muito se esforçou em estudo sério ou quem nada ou pouco se avigorou na obtenção de um curso de duvidosa qualidade.

Aliás esta posição de descarado e injusto facilitismo tem sido, também, fortemente apoiada por um certo movimento sindical. Assim, a Fenprof, através de um seu comunicado (31/10/2009), “exigiu a extinção da espúria prova de ingresso na profissão docente e respeito pelas qualificações dos docentes e pela autonomia das escolas na verificação das condições para o exercício da profissão”. Ou seja e em síntese, verificada pela simples e discutível classificação do diploma de curso.

Como prova da falta desta prova de acesso, anos atrás, passou um programa da RTP, “O Elo mais Fraco”, com a participação de nove jovens professoras, que me mereceu o seguinte artigo de opinião, de que transcrevo um excerto (Público, 03/02/2003):

“Com dificuldade, concebo que um programa em que a tensão nervosa possa faz das suas possa justificar, por si só, aquilo que na gíria académica se dá o nome de ‘brancas’, como o esquecimento, como aconteceu, do conhecidíssimo ‘Teorema de Pitágoras’. Todavia, já não concebo certas respostas erradas, não dadas ou hesitadas, ante perguntas triviais do âmbito da disciplina que se ministra! E isto porque, ainda que a contragosto, possa admitir que os professores demonstrem um certo défice de cultura geral desde que contabilizem para si conhecimentos sólidos sobre a matéria que é suposto estarem habilitados a ensinarem. Só na conjugação de pouca cultura geral e escassos conhecimentos científicos pode ser encontrada justificação para o facto de, em uma das rondas de perguntas, essas concorrentes terem obtido a pontuação de zero pontos, e serem penalizadas no fim do concurso com a mais fraca prestação, relativamente a participantes que as precederem e com as mais diversas profissões tidas como muito menos exigentes no que tange a diplomas escolares”.Não sei, nem isso vem muito ao caso, se as referidas professoras eram formadas pelo politécnico ou pela universidade. Mas o que eu me atrevo a apostar, dobrado contra singelo, é que sob o ponto de vista de conhecimentos da Língua Portuguesa, grande parte de professoras diplomadas pelas antigas Escolas do Magistério Primário teriam tido um melhor desempenho. E isto já para não falar das professoras licenciadas do antigo liceu (nome excomungado pelo 25 de Abril), muitas delas ainda exercendo o magistério nas agora escolas secundárias com a competência cientifica de profundas conhecedoras da matéria que leccionam.

Numa espécie de prova de fogo, com a nomeação de Nuno Crato para ministro da Educação, dono de uma personalidade forte, cuja voz se tem manifestado, sem tibiezas e desde sempre, com muita determinação pela criação de um prova de acesso à docência, fica-nos a certeza de que esta prova será uma das primeiras prioridades do seu mandato. Mais se consubstancia esta certeza pela nomeação de João Casanova Ferreira para secretário de Estado com a difícil incumbência do “espinhoso ‘dossiê, da avaliação docente e pelos processos de recrutamento, selecção, carreiras e formação de professores” (Público, 07/07/2011).

Eça, figura incontornável da literatura portuguesa, cítico impiedoso dos costumes da época, escreveu: “Para ensinar há uma condição a satisfazer: saber”. Ora, é na demonstração de um saber maior comparativamente com outros saberes menores que a prova de acesso à docência mais do que justifica a sua plena existência. Exige-a mesmo!

Com a devida vénia, do Sr. Professor Rui Baptista (blogue De Rerum Natura) -  Nuno Crato e o Exame de Acesso à Docência