sábado, 18 de junho de 2011

Excelente texto!





"As Ideias de Herman Daly"
O capitalismo, que começou há 200 anos comandado pela mão invisível de que falava Adam Smith, e se desenvolveu inspirado pela livre troca de mercadorias, pela livre circulação do capital e pela especialização do trabalho, conduziu-nos à Era Industrial e à Globalização. E também ao mundo consumista em que vivemos, e a um forte crescimento quer da riqueza produzida, quer da população, e permitiu um grande avanço tecnológico. Mas ao exigir, para se manter, um crescimento exponencial na utilização dos recursos do Planeta, e ao devolver a esse Planeta quantidades astronómicas de resíduos, de lixos, de emissões tóxicas (a poluição, numa palavra), revelou ser um sistema predador do ambiente. E aquilo que foi possível nos últimos 200 anos, num mundo “vazio”, já não é mais possível no mundo “cheio” de hoje, pois a capacidade de resposta do ecossistema começa a estar fortemente diminuída.
O sistema económico que nos governa, mostra-se incapaz de se ajustar à nova realidade, e os economistas, obcecados com a premência da retoma, parecem não se ter dado ainda conta dos limites físicos do crescimento. Os recursos são tratados como se fossem “inputs” ilimitados da economia, que podem ser usados como se fossem infinitos. Ainda o ano passado, eu ouvi o saudoso Professor Ernâni Lopes reconhecer que o capitalismo era um predador ambiental, mas, acreditava ele, seria capaz de reverter a situação, e que a forma de o fazer seria até uma oportunidade que o capitalismo iria aproveitar. Onde se vê que mesmo economistas esclarecidos continuam de boa fé, mas de forma iludida, a confiar e acreditar no sistema e nas suas virtualidades.
Mas são já muitos aqueles que descrêem desta via. Entre eles encontramos pessoas como Herman Daly, Tim Jackson, Georgescu-Roegen, Albert Bartlett, Rob Hopkins, mas também os inúmeros seguidores das iniciativas de transição, os praticantes e divulgadores da permacultura, os estudiosos do pico do petróleo, que têm em comum a consciência de que o crescimento infinito não é possível num planeta finito. E que consideram que o esgotamento dos recursos e a carga poluente dos efluentes produzidos, começam a fazer com que esse crescimento seja antieconómico. E, pelas suas esclarecidas posições, destaca-se Herman Daly, um economista americano – professor na Universidade de Maryland, e ex-colaborador do Banco Mundial - que tem vindo a defender uma mudança de paradigma do actual  sistema económico. Ele contrapõe à escola clássica que advoga o crescimento contínuo, um sistema alternativo, sem crescimento, ou uma Economia Estável, aquilo que ele designou de Steady State Economy (SSE).
Ele compara a economia clássica a um avião o qual, explica ele, necessita de estar em deslocamento para se manter no ar. Se quisermos, solucionar o problema de manter uma nave a pairar no ar, sem necessidade de deslocamento, temos de encontrar outra solução: o helicóptero. Tal como o avião necessita de deslocamento em frente para se manter no ar, o actual sistema económico, precisa de crescimento para se manter em funcionamento. Pois se parar o crescimento, ele colapsa. E da mesma forma que o avião não foi desenhado para pairar no ar, também o actual modelo económico não está preparado para funcionar sem crescimento. Temos, pois, de arranjar outro, compatível com uma economia sem crescimento.
Advoga Herman Daly que urge adaptar a economia a uma depleção e a uma poluição sustentáveis. É mais fácil controlar o lado do “input”, ou seja, dos recursos, e é por aí que se deve fazer a regulação. Para tal, deve ser mais taxada a utilização dos recursos e menos o trabalho. Como objectivo a atingir, num patamar de sustentabilidade, temos uma população constante e um capital constante. Daí a necessidade de adaptar o sistema ao crescente envelhecimento da população, aumentando a idade das reformas e reduzindo as pensões.
As ideias de Herman Daly são vastas e constituem um tratado para uma nova economia. O qual, acredito eu, não tardará muito, será estudado e considerado para encontrar respostas para os problema que o mundo enfrenta. Mas o aprofundamento dessas ideias, que podem ser analisadas aqui, não cabem no âmbito deste "post" e, por isso, havemos de voltar a elas. Afinal, e é Herman Daly que o afirma, numa perspectiva mais profunda temos de nos adaptar aos limites da criação, e não querer ultrapassá-los.