Abondar
Não, não tem nada que ver com “abundar”, apesar de ser muito semelhante. O
verbo “abondar” significa o mesmo que dar, ou chegar, no sentido de dar objetos
em mão. Por exemplo: “Ó António, chega-me/dá-me aí o comando da televisão” será
o mesmo que “ó António, abonda-me aí o comando da televisão”. É parvo? É.
Amanhã ou passado
Se não és transmontano, deves estar a pensar que
isto não faz sentido nenhum. E realmente não faz. Mas se vens de
Trás-os-Montes, entendes perfeitamente o que diremos a seguir! “Amanhã ou
passado” é exatamente o mesmo que dizer “amanhã ou depois [de amanhã]“! Mas
porquê, se “passado” é precisamente o contrário de “depois de amanhã”? Ninguém
sabe porquê. Por mais voltas que demos à expressão, não vamos conseguir
encontrar uma explicação plausível para isto.
Barduada
Esta não tem muito que se lhe diga. Pode parecer uma coisa muito estranha (se
não fores transmontano podes estar a imaginar uma trovoada ou um bicho muito
feio com três cornos nas costas), mas é muito simples: “barduada” é o mesmo que
“paulada”. Ex.: “deu-lhe uma barduada que o tombou”!
Bô
Eis que chegamos à palavra mais pedida pelos fãs. A palavra mais comum do
léxico transmontano, aquela que tem mais significados e que é praticamente
impossível de explicar o que significa, ainda que na cabeça do pessoal
transmontano faça todo o sentido – “bô”. Quando queres dizer algo como “ora
essa!”, podes dizer, simplesmente “bô”! Quando desconfias de algo que te
acabaram de dizer, podes simplesmente dizer “bô”, com uma entoação ligeiramente
diferente. Se preferires, também podes simplesmente substituir a palavra “bom”
(que não poderias usar nos casos anteriores) por “bô”. Afinal, o que é, então,
o “bô”? É uma palavra mítica que é quase tudo, sem ser nada!
Embuligar/Embuldrigar
Um verbo absolutamente parvo que significa, basicamente, fazer figura de porco.
“Embuligar” significa rebolar no chão, mais propriamente na sujeira do chão”.
Alguém que esteja todo embuligado está, portanto, todo porco, cagado, larego,
cheio de surro (não conheces esta palavra? Então continua a ler o artigo). Se
preferires (isto das palavras transmontanas é tudo à vontade do freguês), podes
dizer “embuldrigar”, que é exatamente o mesmo, mas com mais duas letras parvas.
Lapantim
Lapantim é o que os mais velhos costumam chamar aos rapazes (ou raparigos, que
também se usa em Trás-os-Montes) novos. “Lapantim” é o que se chama a um miúdo
irrequieto ou de maus costumes, que só faz asneira e nada que sirva! Assim,
esta palavra vem quase sempre a seguir a “está quieto”! “Está quieto,
lapantim!”
Uliar
E esta? Apesar de parecer (ao dizer a palavra), não tem nada que ver com óleo.
Uliar é aquilo que os cães fazem quando se põem a cantar, virados para a Lua.
Isso mesmo. “Uliar” é sinónimo de uivar, e, apesar de já ter sido mais comum do
que é hoje em dia, ainda se usa em algumas regiões transmontanas!
Arrebunhar
“Arrebunhar” é exactamente o mesmo que “arranhar”,
só que com mais uma sílaba gratuita. Em vez de “O azeiteiro do teu gato
arranhou-me o braço todo”, podes dizer “O azeiteiro do teu gato arrebunhou-me o
braço todo”, mas com pronúncia transmontana, claro.
Albarda
A palavra vem do espanhol (o que é comum acontecer nas expressões do nordeste
transmontano, visto que a região sofre bastante influência de Espanha) e
designa as selas que se colocam nos cavalos, burros e outros animais de carga.
Em Trás-os-Montes, refere-se também ao vestuário de alguém, mais frequentemente
para falar de casacos grandes ou algo do género. Por exemplo: ” Não te metas
nesse caminho de lama que dás cabo da albarda, rapaze!”.
Amarrar
A palavra existe e é conhecida para toda a gente, certo? Significa, obviamente,
atar com cordas, por exemplo. Contudo, em Trás-os-Montes, a palavra é utilizada
como um sinónimo – ou substituto – de “agachar”. Se algum dia um gajo de
Bragança te gritar “cuidado, amarra-te!”, não é suposto pegares numa corda e
prenderes-te a um poste com ela (exceto em casos de sadomasoquismo brigantino).
A única coisa que tens que fazer é baixar-te, ou ainda bater com o caco nalgum
sítio.
Carranha
É a palavra mais nojenta da lista e significa, simplesmente, “macaco do nariz”,
ou monca. Se és daquelas pessoas que não se assoa, é bem provável que ouças
alguém dizer-te “Pega lá um lenço, que tens aí uma carranha!”. Contudo, também
é provável que ninguém te diga nada e que andes o dia inteiro a fazer uma
figura triste com uma monca de fora.
Cibo
Esta palavra significa exatamente o mesmo que “bocado”, podendo substituí-la em
qualquer contexto. Ao lanche, numa terra transmontana, será comum oferecerem-te
um “cibo de pão com manteiga”, por exemplo.
C’moquera
Esta é uma das expressões mais difíceis de explicar. Quer dizer, mais ou menos,
“pode ser que sim”, sendo utilizada tanto em tom “normal” como em tom de
ameaça. Por exemplo, se não fizeres as cadeiras todas este ano – nós sabemos
que estás à rasca – “c’moquera” que ainda perdes a bolsa de estudos, se a
tiveres. Se se meterem contigo, poderás também só dizer “c’moquera!”, em tom de
ameaça, como quem diz “Pode ser que leves uma saronda!” O que é uma saronda? Já
lá vamos. Só mais um cibo.
C’mássim
Esta tem mais ou menos o mesmo significado que “assim sendo” com a vantagem de
não precisar necessariamente de qualquer antecedente. Se a conversa estiver
fraca podes simplesmente dizer “C’mássim, vou-me andando para casa”. Também
pode significar algo como “tem que ser”, como no exemplo: “Bem, vou limpar aqui
o chão da cozinha, c’mássim…”
Emplouricar
Significa ir para cima de alguma coisa. Os gatos, por exemplo, gostam de andar
sempre “emplouricados” nas mesas, nos armários, nas portas, nas janelas, na
televisão, nos móveis da casa de banho, na bacia…..enfim, já percebeste a
ideia. E uma coisa é certa: os gatos são mais fofos quando se andam a
emplouricar do que quando nos estão a arrebunhar o couro por completo.
Ele é
Esta é um cibo difícil de explicar porque não tem jeito nenhum. Basicamente, é
o mesmo que “é”, mas por vezes junta-se o “ele” mesmo que não se justifique. Em
vez de perguntares “É aqui o festival?”, poderás perguntar “Ele é aqui o
festival?”. Qual é a vantagem? Nenhuma. E a necessidade? Também nenhuma.
Fai
Isto é uma variante de “faz”, pelo que tem mais que ver com a pronúncia do que
com a palavra em si. Por exemplo: “Ó Sandra, fai-me aí um sumo de laranja!”. Há
quem diga que o verbo “fazer” pode ser conjugado nas outras formas verbais, ao
estilo de “fai” (“fais”, “faem”) mas também há quem diga que não, por isso não
nos vamos pronunciar no que toca a esse assunto.
Massim
Não há uma correspondência 100% correta para isto mas é parecido com “não mas
sim”, o que, por si só, já não faz sentido nenhum. Por exemplo, se disseres que
não queres salada, a tua mãe pode dizer-te: “Massim, que te faz bem!”
Manhuço
Manhuço é um aglomerado de qualquer coisa, numa quantidade que seja possível
pegar com uma mão mas sem ser possível esconder. Um manhuço de cereais, por
exemplo, seria quando metes mão na caixa dos Chocapitos do Lidl e tiras uma mão
cheia deles. Um manhuço de terra é quando agarras numa mão cheia de terra. Um
manhuço de cibos de pão é…é uma estupidez, já.
Lapouço
Quer dizer sujo/porco/labrego. Se és uma daquelas pessoas que não consegue ir
ao McDonald’s sem deixar cair metade do hambúrguer ao chão e na barriga inchada
enquanto metes a boca no outro lado do pão, pode dizer-se que és um “lapouço”.
Outras palavras com significado semelhante – ainda que o destas seja um pouco
mais forte, significando que a pessoa é mesmo porca – são “Larego” ou
“Cochino”.
Ladradeira
Isto é o que se chama àquelas senhoras coscuvilheiras, que passam o dia a dar à
língua para cá e para lá, a falar da vida do Sr. Francisco, do carro novo da
Dona Teresa, da filha bastarda da Maria Cigana. Dedicada a todas essas
senhoras, e palavra “ladrar” foi adaptada, de forma pejorativa, para esta bela
forma: Ladradeira.
Guicho/a
A pronúncia é “guitcho/a” e é o equivalente a “fino”, que descreve alguém
inteligente, ou esperto! Em vez de dizer “e és pouco fino, ó Zé!”, dirias “E és
pouco guitcho, ó Zé! C’moquera!”.
Refustedo/Chaldraria
Ambas as palavras querem dizer confusão, ou barulheira. “Isto é que vai para
aqui um refustedo/uma chaldraria do caraças!”. Contudo, “refustedo” pode também
ser utilizado em substituição de uma palavra parecida, mais feia: “p**edo”. Por
exemplo: “Não te metas nessa lanchonete que só há lá refustedo…”
Larpar
Esta palavra significa o mesmo que comer, mas de uma maneira ligeiramente mais
torgueira. Não há muito mais a dizer acerca desta palavra, por isso não nos
vamos alongar, até porque esta mesma frase foi feita precisamente para meter
aqui mais um bocadinho de texto desnecessário.
Engranhado/a
Uma pessoa engranhada – ou, noutra variante, engaranhada – é uma pessoa cheia
de frio, ou que está toda encolhida por causa do mesmo. Por exemplo: “Aquela
ladradeira está ali toda engaranhada e mesmo assim não se cala! C’moquera ainda
apanha uma constipação.”
Arreguichada/o
Arreguichar é mais ou menos sinónimo de empinar. Como tal, para dizer que
alguém tem a mania, diz-se que anda de nariz “arreguichado”, em vez de
empinado, e as raparigas mais oferecidas normalmente “arreguicham” a saia mais
frequentemente….é um refustedo.
Birolho/a
Um gajo birolho é, basicamente, alguém que tem os olhos tortos. Apesar de
parecido, não é sinónimo de zarolho, que isso é alguém que só tem um olho. Por
exemplo: “O Pedro é birolho, tem um olho no pão e outro no repolho”. Os
birolhos são, portanto, mais frequentes. A Rita Pereira é um exemplo de uma
leve birolhice.
Furgalhos
Isto é exactamente o mesmo que migalhas. É uma questão de preferência. Poderás
dizer, por exemplo, “Não deites os forgalhos na cama pá! És birolho ou quê?”,
ou “Parte aí um cibo de pão com cuidado, para não esfurgalhar”.
Porí
Porí é uma expressão que pode ser utilizada no lugar de “se calhar”. “- Porque
é que a Maria está ali amarrada? – Não sei, está engaranhada, porí”. Em
português de Lisboa isto seria equivalente a “- Porque é que a Maria está ali
agachada? – Não sei, está com frio, se calhar”.
Saronda/Tunda
“Saronda” (já referida anteriormente) é sinónimo de tareia, assim como “tunda”.
“O ladrão armou-se em guicho mas levou uma saronda que ficou lá estendido!”
Bardino/Gandulo
“Bardino”, bem como “gandulo”, são palavras utilizadas para descrever um
indivíduo vadio, meio delinquente. o Justin Bieber, por exemplo, é um bardino.
Surro
Quando alguém tem algum tipo de sujidade na pele, por exemplo (os lapouços têm
frequentemente sujidade que vem da comida que espalham), pode dizer-se que tem
surro. “Ó garota vai-te lavar que estás cheia de surro na cara!” é uma
expressão que se ouve várias vezes, quando se lida com crianças.
Bilhó
Bilhó é uma maneira de designar castanhas assadas sem casca. Tão simples quanto
isto. No outono, pela altura do S. Martinho, é frequente comer um manhuço de
bilhós depois de almoçar. A palavra pode também ser usada para referir a uma
criança pequena, atrevida, guicha. “Este bilhó não sabe estar quieto!”
Zorra
Talvez das mas engraçadas, é uma palavra que significa “filha bastarda”, como,
por exemplo, a filha da Maria Cigana da qual já falamos no slide da Ladradeira.
A Maria Cigana tem, portanto, uma zorra em casa.
A maneira de dizer as horas
Não, neste caso o título não é uma expressão
transmontana. Neste caso, o que acontece é o seguinte: sempre que ouvires
alguém dizer a preposição “as” ao dizer as horas (por exemplo: “são as 3h da
manhã”, em vez de “são 3h da manhã), podes assumir, com 99% de certeza, que
essa pessoa vem de Trás-os-Montes. Os transmontanos teimam que faz mais sentido
assim, quem não é de lá teima que não. Contudo, achamos que ambas as formas são
corretas.
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Fonte: Ser Transmontano - https://amontesinho.pt/tras-os-montes/algumas-das-expressoes-que-so-vai-ouvir-em-tras-os-montes/