sábado, 18 de fevereiro de 2017
sábado, 11 de fevereiro de 2017
A Extrema-Direita Euro-Americana
A 20 de Janeiro realizou-se, em Koblenz (Alemanha), uma reunião de líderes populistas europeus para preparar o ano de 2017 na esteira do que Marine Le Pen chamou o ano do despertar do mundo anglo-saxónico: 2016 com o Brexit do Reino Unido e a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA.
A atenção ao mundo anglo-saxónico por parte das direitas europeias mais duras não é de todo uma novidade
Ao longo do segundo pós-guerra várias foram as figuras que estimularam o imaginário desses meios políticos continentais. Em particular, os hard-liners entre os liberais e os conservadores europeus olharam com simpatia os congéneres britânicos e norte-americanos, em particular a primeira-ministra Margaret Thatcher com o seu liberalismo de ferro, os presidentes Ronald Reagan com a sua segunda Guerra Fria dos anos 80, George W. Bush com o seu neo-conservadorismo de novo milénio e finalmente Donald Trump com o seu nacionalismo populista. Essas referências anglo-saxónicas não ficaram restringidas apenas à área liberal-conservadora, mas atingiram também a chamada extrema-direita pós-industrial – hoje em ascensão – e até, em certa medida, sectores da extrema-direita tradicional, onde personagens como o deputado britânico Enoch Powell com o seu discurso do “rios de sangue” de 1968 ou os candidatos presidenciais norte-americanos Barry Goldwater (1964) e Pat Buchannan (anos 90) deixaram marcas.
A dimensão mais interessante desse fenómeno é a inversão da dinâmica de influência que ocorreu ao longo do século XX, passando os EUA a ser o exportador de discursos e práticas a partir da segunda metade do século, quando, até ai, a Europa tinha sido o farol dos meios radicais ocidentais. Esta inversão na extrema-direita é objecto de análise científica já desde a década de 90 do século passado.
A dimensão transatlântica
Limitando a nossa análise à extrema-direita nos Estados Unidos, esses movimentos estão presentes já no final do século XIX com o populismo anti-elitista e anti-imigracionista, mas resultam pouco compatíveis com as correntes europeias coesas devido à matriz contra-revolucionária dessas últimas.
O papel da União Soviética
As relações transatlânticas estreitam-se a partir da fundação, em 1917, da União Soviética, cujo protagonismo internacional é visto como uma ameaça comum. A proximidade da Europa ao ‘perigo vermelho’ faz com que as revoluções nacionalistas dos anos 20 e 30 no Velho Continente sejam saudadas com favor. A recepção positiva nos EUA é facilitada pelo activismo da emigração política vinda da Rússia e da emigração económica oriunda da Europa ocidental, nesse último caso apoiada, na sua acção propagandista, pelos próprios regimes de Roma e Berlim. De alguma eficácia resulta também o empreendedorismo político dos adeptos norte-americanos dos fascismos europeus e o favor das facções republicanas admiradoras do anti-comunismo de Mussolini e Hitler.
O protagonismo anglo-saxónico na frente bélica antifascista durante a Segunda Guerra Mundial e os êxitos do conflito armado em 1945 fazem com que o vector inverta a sua direcção. Ao longo dos anos 50 e 60, os EUA tornam-se, por um lado, os campeões da derrota da extrema-direita europeia e, por outro lado, os novos paladinos da luta anti-comunista. Por seu lado, os derrotados europeus de 1945 – e os seus sucessores – começam a encarar a Nova Ordem Mundial como um Janus bifronte, onde Moscovo e Washington se equivalem em termos de ameaças ideológicas e políticas para a Europa. Essa fractura explica o desinteresse total da ultra-direita norte-americana pelas malogradas internacionais neo-fascistas dos anos 50 e 60 na Europa e a marginalidade dos saudosistas norte-americanos à George Lincoln Rockwell com a sua World Union of National Socialists (WUNS). Nesse último caso, aliás, convém salientar que o White Nationalism do segundo pós-guerra sempre continuou a olhar com interesse ao Nacional-socialismo europeu.
Pelo contrário, os EUA tornam-se a referência organizacional dos anti-comunistas europeus, ocidentais e orientais, através de estruturas de coordenação como a World Anti-Communist League (WACL) de 1966. Debaixo desses chapéus – cada vez mais numerosos graças à acção não só da administração norte-americana, mas também de think tanks republicanos – desenvolvem-se redes internacionais de colaboração, nas quais participam europeus de direita e de extrema-direita em nome do combate ao inimigo comum. Uma realidade que, caído o comunismo, se repetirá com a luta contra o radicalismo islâmico. Aqui o factor religioso, central na direita norte-americana, jogará um papel não secundário na moldagem do imaginário dos congéneres europeus, através da absorção de conceitos quais o choque de civilizações e a cruzada contra o terrorismo.
A partir do último quartel do século XX, as influências anglo-saxónicas atingiram também as franjas sub-culturais e juvenis da extrema-direita, através da produção musical anti-comunista desde os anos 70 (o chamado Rock Against Communism – RAC) e da difusão ideológica pela internet (as correntes White Power). Aqui, os EUA tiveram um papel importante graças às liberdades constitucionais (I e II emendas) garantidas aos grupos radicais, particularmente activos na Web desde os anos 90.
Embora não se devam confundir os partidos populistas de direita, em ascensão na Europa, com os movimentos sub-culturais, folclóricos e marginais, é importante salientar como o mundo anglo-saxónico (os EUA in primis) continue a exercer uma influência assinalável no discurso e na estratégia dos radicais do Velho Continente. Assim, fenómenos mais recentes como a Alt-Right norte-americana, adepta da Nouvelle Droite francesa e apoiante de Trump, são vestígios da antiga circulação intelectual transatlântica que sempre existiu, mas que foi progressivamente abandonada por muita extrema-direita americana cada vez mais isolada no seu caminho messiânico.
Geert Wilders. Photo by Metropolico.org / CC BY-SA 2.0
in http://cei.iscte-iul.pt/blog/a-extrema-direita-euro-americana/
Colo (filme de Teresa Villaverde)
![]() |
Teresa Villaverde |
COLO Trailer #1 - Film by TERESA VILLAVERDE from ALCE FILMES on Vimeo.
O filme “Colo”, da realizadora portuguesa Teresa Villaverde, foi selecionado para a competição oficial da 67ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que decorre entre 09 e 19 de fevereiro de 2017, foi hoje anunciado.
Num comunicado conjunto, a produtora da longa-metragem, Alce Filmes, e a Portugal Film – Agência Internacional de Cinema Português, sublinham a seleção do novo filme de Teresa Villaverde para “a secção mais importante e prestigiosa deste festival, um dos mais importantes do mundo”.
Trata-se de uma ficção que conta no elenco com João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda, Clara Jost, Tomás Gomes, Dinis Gomes, Ricardo Aibéo, Simone de Oliveira e Rita Blanco.
Com realização e argumento de Teresa Villaverde, o filme, de 135 minutos, tem direção de fotografia de Acácio de Almeida, montagem de Rodolphe Molla, som de Vasco Pimentel, Marion Papinot, Joël Rangon, direção de produção de António Gonçalo, e Paulo Belém como assistente de realização.
“O filme é uma reflexão muito atual, e quase serena, sobre o nosso caminho comum como sociedades europeias de hoje, sobre o nosso isolamento, a nossa perplexidade perante as dificuldades que nos vão surgindo, sobre a nossa vida nas cidades e dentro das nossas famílias. É um filme em tensão crescente que nunca chega a explodir”, descreve o comunicado.
A longa-metragem “Colo” é produzida pela Alce Filmes – Teresa Villaverde (Portugal), em coprodução com a Sedna Films – Cécile Vacheret (França).
Teresa Villaverde, 50 anos, nascida em Lisboa, é realizadora, argumentista e produtora premiada em vários festivais internacionais, criou, entre outros filmes, “A Idade Maior” (1991), “Os Mutantes” (1998), “Água e Sal” (2001), “Transe” (2006) e “Cisne” (2011).
in http://bomdia.eu/filme-colo-de-teresa-villaverde-selecionado-para-o-festival-de-berlim/
Ler também este artigo.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
Uma foto do Salazarismo
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Movimento liderado por homens quer que Mutilação Genital Feminina volte a ser permitida na Guiné-Bissau
Incrível!
Parlamento guineense aprovou em 2011 uma lei que proíbe a
excisão, mas agora há um movimento que quer abolir essa legislação. E já
entregou um abaixo-assinado no parlamento Um álbum de fotografias está em
cima da mesa e não se deve abrir. "Essas imagens impressionam e já puseram
muitas 'fanatecas' a chorar", conta Fatumata Baldé.
As "fanatecas" são as
mulheres que fazem a excisão a outras mulheres. O álbum mostra os ferimentos e
malformações que surgem mais tarde às que foram sujeitas à Mutilação Genital
Feminina (MGF) e aos seus filhos.
Quando ainda alguém tem dúvidas
sobre os males provocados pela MGF, "logo desaparecem ao ver estas
fotografias", descreve.
Fatumata lidera o Comité Nacional
para o Abandono das Práticas Nefastas na Guiné-Bissau que tem levado
"fanatecas" de todo o país a abandonar a atividade.
A Assembleia Nacional Popular
(ANP) guineense aprovou em 2011 uma lei que proíbe a excisão, mas agora há um
movimento liderado por um punhado de homens que quer abolir essa legislação.
Para o efeito, este grupo já
entregou um abaixo-assinado no parlamento, em que dizem reunir 12 mil
subscritores que querem que a MGF volte a ser uma prática livre.
Porquê? Iaia Rachido, 64 anos,
acredita que a excisão "não faz mal a ninguém". E se lhe pedissem
para cortar nele próprio? Diz que "não", que não deixava. "Mas
nas mulheres também não se corta tudo: cortam um pouco, como o profeta
ensinou".
Para este homem, que dirige uma
mesquita em Bissau e é filho de um "sábio" muçulmano, a mutilação é
um corte com medida divina - e quando confrontado com ferimentos, casos de
morte provocada pela excisão ou com a interpretação do Corão (livro sagrado
muçulmano) livre do corte, diz que tudo isso "não corresponde à
realidade".
Desvaloriza também as cartas e
convenções internacionais (das Nações Unidas e suas agências, como a
Organização Mundial de Saúde, entre outras entidades) que condenam a prática.
"Quando há americanos ou
europeus que fazem uma regra, toda a gente vai atrás da regra", queixa-se,
considerando, por isso, que essas convenções não deviam ser consideradas
universais.
Para ele, não deve ser assim e
chega a dar um exemplo que contraria a carta dos Direitos Humanos. "Fala
do direito da criança em escolher a religião, mas nós, muçulmanos, não nos
importamos com isso". Mesmo que se diga que a lei é
para toda a gente, "eles sabem quem é que pratica isto", refere Iaia
Rachido, apontando o dedo ao poder político.
Por outro lado, "na
Guiné-Bissau há crimes de droga, de sangue e corrupção. Até à data ninguém foi
julgado, mas há duas senhoras que estão a cumprir pena por praticarem a
excisão".
"Deviam prender primeiro
aqueles que cometeram crimes mais graves", acrescenta.
Não há argumentos que demovam
Iaia Rachido. A conclusão é sempre esta: "no nosso entender [a MGF] é
obrigatória", de acordo com os preceitos religiosos e com a tradição em
que se incluem mães, irmãs e até as cinco filhas de Iaia. Mas "pode haver quem entenda
que é facultativo".
"Quem quiser faz, quem não
quiser, não faz" e o movimento até aceita isso, mas o objetivo é acabar
com a proibição: "vamos continuar pela via legal, longe da violência, para
conseguir a abolição desta lei".
Apesar de desvalorizar a
importância dos intervenientes, Fatumata Baldé considera gravíssima a posição
assumida pelo grupo e pede a intervenção do Procurador-Geral da República (PGR)
da Guiné-Bissau.
"O PGR devia chamar esse
senhor para lhe perguntar o que se está a passar", porque está a instigar
a população "contra uma lei adotada por um Estado. Ele merece ser chamado
ao Ministério Público". "Estamos num país democrático em que cada um
pode expressar-se livremente, mas sem contrariar as leis", sublinha.
Fatumata Baldé acredita que a
oposição à excisão na Guiné-Bissau e a caminhada com vista à sua erradicação já
chegou a um ponto sem retorno: a lei passou no parlamento quase por unanimidade
e a os principais líderes islâmicos rejeitam que a religião obrigue à MGF.
Os mais recentes indicadores
revelam uma diminuição da prática, apesar de continuar a ser expressiva.
Segundo o Inquérito aos
Indicadores Múltiplos (MICS) de 2010, promovido pelo Governo e Nações Unidas, a
excisão afetava metade (50%) das mulheres da Guiné-Bissau com idades entre os
15 e os 49 anos, valor que desceu para 45% no MICS 2014.
Há um senão: com medo da lei, há
cada vez mais pais a sujeitar as filhas à MGF quando ainda são bebés, para
haver menos possibilidades de denúncia. E aos recém-nascidos nada resta
senão depender dos adultos, num país onde ainda se defende a mutilação.
in http://www.dn.pt/globo/interior/movimento-quer-que-mutilacao-genital-feminina-volte-a-ser-permitida-na-guinebissau-4752775.html
As palavras (Eugénio de Andrade)
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos, as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Subscrever:
Mensagens (Atom)