sexta-feira, 1 de julho de 2016

BREXIT: erro de perspetiva



As consequências para o Reino Unido e para a Europa do resultado do referendo de ontem estão ainda, em boa parte, por aferir. Só agora, frente à realidade dos números da vitória do Brexit, foi possível começar, com alguma dose de realismo, a pensar cenários que não sejam hipotéticos mas sim plausíveis. Alguns são assustadores para o próprio Reino Unido, com prejuízos de valor astronómico associados à queda abrupta da libra, uma revisão desfavorável de muitos negócios iniciados e a quase inevitável secessão política da Escócia, agora decidida a emancipar-se mesmo da tutela de Londres. Na Irlanda do Norte, algo também está já a mover-se.
O mais preocupante é, porém, o facto de esta decisão ter ficado a dever-se a escolhas negativas, como a rejeição da imigração e do apoio aos refugiados, uma xenofobia declarada e um total desinteresse por relações de colaboração e solidariedade com os outros povos europeus. Como se sabe, foram a direita e a extrema-direita britânicas que deram argumentos e meios ao Brexit, sendo aos seus congéneres europeus - franceses, holandeses, suecos e outros - que esta escolha entusiasmou, estando já a apresentá-la nos seus países como exemplo a seguir. Mais a leste, na Turquia, o próprio Erdogan, na sua deriva antieuropeia e autoritária, prepara-se para questionar o processo de adesão do seu país à UE.
Aquilo que não pode deixar de incomodar é existir quem, no espectro político da esquerda, onde de há muito se tem desenvolvido uma legítima resistência ao modelo de Europa que temos, não se importe de andar nesta companhia e neste particular partilhe escolhas, quase festejando o resultado. Questionar o atual modelo europeu é totalmente justo. Penso mesmo que é necessário e inevitável. Mas não à boleia de gente tão detestável e com propostas tão negras. Uma vez mais, a História deveria servir-nos de lição, inibindo-nos de acalentar o ovo da serpente por julgá-lo inofensivo.


Rui Bebiano 

(na sua pg do Facebook)