As consequências para o Reino
Unido e para a Europa do resultado do referendo de ontem estão ainda, em boa
parte, por aferir. Só agora, frente à realidade dos números da vitória do
Brexit, foi possível começar, com alguma dose de realismo, a pensar cenários
que não sejam hipotéticos mas sim plausíveis. Alguns são assustadores para o
próprio Reino Unido, com prejuízos de valor astronómico associados à queda
abrupta da libra, uma revisão desfavorável de muitos negócios iniciados e a quase inevitável
secessão política da Escócia, agora decidida a emancipar-se mesmo da tutela de
Londres. Na Irlanda do Norte, algo também está já a mover-se.
O mais preocupante é, porém, o facto de
esta decisão ter ficado a dever-se a escolhas negativas, como a rejeição da
imigração e do apoio aos refugiados, uma xenofobia declarada e um total
desinteresse por relações de colaboração e solidariedade com os outros povos
europeus. Como se sabe, foram a direita e a extrema-direita britânicas que
deram argumentos e meios ao Brexit, sendo aos seus congéneres europeus -
franceses, holandeses, suecos e outros - que esta escolha entusiasmou, estando
já a apresentá-la nos seus países como exemplo a seguir. Mais a leste, na
Turquia, o próprio Erdogan, na sua deriva antieuropeia e autoritária,
prepara-se para questionar o processo de adesão do seu país à UE.
Aquilo que não pode deixar de
incomodar é existir quem, no espectro político da esquerda, onde de há muito se
tem desenvolvido uma legítima resistência ao modelo de Europa que temos, não se
importe de andar nesta companhia e neste particular partilhe escolhas, quase
festejando o resultado. Questionar o atual modelo europeu é totalmente justo.
Penso mesmo que é necessário e inevitável. Mas não à boleia de gente tão
detestável e com propostas tão negras. Uma vez mais, a História deveria
servir-nos de lição, inibindo-nos de acalentar o ovo da serpente por julgá-lo
inofensivo.
Rui Bebiano
(na sua pg do Facebook)
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