segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Europa deixou de ser Europa



A Europa deixou de ser Europa
14.07.2015
Mariana Mortágua




1 de janeiro de 1986. Adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia. 9 de novembro de 1989. Queda do Muro de Berlim. 1 de janeiro de 2002. Entrada em circulação do euro. 13 de julho de 2015. O dia em que a Europa deixou de ser Europa. Marque o dia de ontem no calendário. Há um antes e um depois, na Grécia mas essencialmente na Europa, depois do que aconteceu em Bruxelas. O que milhões de europeus puderam assistir, em tempo quase real, pelas notícias que iam saindo e pelas declarações que foram sendo prestadas, foi a punição coletiva de um país e o enterro dos supostos ideais europeus de integração e solidariedade.

Acossado por um sistema financeiro à beira do colapso, depois do Banco Central Europeu ter limitado a assistência de liquidez aos seus bancos, o Governo grego apresentou um plano que respondia a todas as exigências da Comissão Europeia. Todas. Mas tudo não chegava. Era preciso humilhar. Dobrar quem ousou colocar em causa a ortodoxia europeia. A que nos diz que a Zona Euro tem 19 países, alegadamente iguais entre si, mas que no fim manda sempre a Alemanha.

Como já tinha avisado o presidente do Eurogrupo, os gregos tinham que perceber que o eixo da austeridade nunca iria aceitar qualquer solução a "meio caminho". Não. Isso é o que acontece entre parceiros. Mas na Europa deixou de haver parceiros. Agora são credores. A mudança semântica não é inocente. Foi a que transformou uma união política numa reunião de Conselho de Administração.

Entre parceiros negoceia-se e chega-se a um compromisso. Mas a última coisa que a Alemanha quis, durante estes cinco longos meses, foi negociar. O seu interesse era punir e dar uma lição. Aos gregos e aos próximos que ousem colocar em jogo a sua vontade em jogo.

Os radicais, foram-nos dizendo, eram os gregos e o Syriza. Mas no fim viu-se quem teve a coragem de colocar o seu futuro e o do seu partido em jogo para apresentar um plano que, longe de ser o que a Grécia precisava, garantisse uma solução para um país que perdeu 25% da sua riqueza nos últimos cinco anos.

E vimos, ao vivo e a cores, o impensável acontecer. Um documento da União Europeia aventar a hipótese de um país ser empurrado para fora da Zona Euro. Uma hipótese que não está em qualquer tratado europeu, mas há muito que o futuro da Europa é decidida de acordo com as regras do Calvinball: são feitas e escritas à medida que o jogo vai avançando.

Um problema apenas. Não foram só os gregos a perceber o que lhes aconteceu. Muitos europeus viram que a Europa viu que deixou de ser Europa. E se o euro é para ser a moeda única da austeridade, então o mais certo é mais cedo que tarde deixar se ser única e mesmo moeda.




DEPUTADA DO BE