Um Documentário Bestial
O que diz a ciência sobre o sofrimento do touro? O que nos faz gostar de uma Corrida de Touros? A tradição é um argumento per si? A Igreja concorda com a tauromaquia? As crianças deviam assistir a Corridas de Touros? Poderá HAVER alternativa ao negócio tauromáquico? Não serão estas perguntas anacrónicas quando ainda se torna necessário fazê-las em pleno século XXI? Para estas e muitas outras questões bestiais só mesmo respostas bestialíssimas.
E a mais improvável das respostas é-nos dada pelo protagonista do fenómeno sobre o qual foram inventadas todo o tipo de bestialidades: o touro. Porque ele, afinal, é capaz da mais bestial das respostas: O Amor.
(não deixem de ler o excelente texto que este realizador escreveu sobre esta temática, aqui publicado a seguir ao documentário)
- FESTRÓIA Portugal, 2013
- ANIMAL BEHAVIOR SOCIETY FILM
FESTIVAL EUA, 2013
- 14 EXIBIÇÕES NACIONAIS
- 4 EXIBIÇÕES EM ESPANHA
- Além da selecção oficial para os festivais de cinema, exibição ainda
nos SHORTCUTZ LISBOA e PORTO, FESTIVAL GRANT´S TRUE TALES, e FESTIVAL NOVAS
ARTES ASSOCIADAS (Barcelos)
Sinopse:
Como a quimera e o grifo,
o touro é um animal inventado pelos homens. Na Antiguidade, os homens
inventaram o touro como um animal mitológico. Nos dias de hoje, o sociólogo
inventa o touro como um animal de catarse. O ganadeiro inventa o touro como um
animal bravo. E com todas estas invenções, os homens acabaram por inventar o
touro como um animal Bestial! E em torno do touro acabariam por inventar uma
série de Bestialidades, como o touro não sofre ou a tradição é que manda.
Concebida numa linguagem
humorística - além da narração de Adolfo Luxúria Canibal, um conto zen
interpretado por Rui Reininho, spots publicitários, legendas e separadores
satíricos - e segundo uma lógica conceptual, a narrativa do filme subdivide-se
em três partes que permitem problematizar as diferentes bestialidades -
científica, ética, legal, religiosa, psicológica e económica - presentes nas
Corridas de Touros.
O que diz a ciência sobre o sofrimento do touro? O que nos faz gostar de uma Corrida de Touros? A tradição é um argumento per si? A Igreja concorda com a tauromaquia? As crianças deviam assistir a Corridas de Touros? Poderá HAVER alternativa ao negócio tauromáquico? Não serão estas perguntas anacrónicas quando ainda se torna necessário fazê-las em pleno século XXI? Para estas e muitas outras questões bestiais só mesmo respostas bestialíssimas.
E a mais improvável das respostas é-nos dada pelo protagonista do fenómeno sobre o qual foram inventadas todo o tipo de bestialidades: o touro. Porque ele, afinal, é capaz da mais bestial das respostas: O Amor.
(não deixem de ler o excelente texto que este realizador escreveu sobre esta temática, aqui publicado a seguir ao documentário)
Ficha Técnica:
Realização: Nuno Costa
Edição e Montagem: Abel Rosa
Narração: Adolfo Luxúria Canibal e Rui Reininho
Guião: Nuno Costa, Abel Rosa e Carla Pinho
Produção: Sofia Martinho
Animação: César Duarte
Câmaras: Zito Colaço, João Trindade, Abel Rosa, Sandro Costa
e Bruno Alves
Sonoplastia: Nuno Andrade
Captação de Som: Hélder Fernandes
Estúdios de Som: Carlos Zíngaro e Fernando Matias (The
Pentagon)
Design Gráfico: Hugo Costa e Eduardo Antunes
Banda-Sonora: Hors et Libre (Aura Lee) de Tozé Xavier,
Maestro Myguel Santos e Castro com Vox Laci e Jovens Vozes de Lisboa ao vivo no
Campo Pequeno (Imagine)
Making of (Photos): Zito Colaço e Helena Colaço Salazar
Agradecimentos: Praça de Touros do Campo Pequeno, Praça de
Touros Celestino Graça, FLAG, Rodrigo Duarte, Diogo Peseiro e zZzUmBii (vídeos
YouTube)
Um Documentário Bestial (2013):
Um Documentário Bestial (2013):
DA
IMPOSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO COM O BESTIAL
Vivemos
tempos de conflitos, onde o poder, o dinheiro, enfim, manifestações primárias
do ego se sobrepõem aos valores inquestionáveis da civilização.
Dos genocídios de populações indefesas em Gaza
e no Tibete até ao sofrimento bárbaro de animais em linhas de produção em massa
para consumo alimentar nada de novo na História a não ser uma palavra singela
que traduz um estado de atenção interior chamado: CONSCIÊNCIA.
É um fardo, dos bons, que temos de carregar. É
uma albarda impossível de deitar fora. Ela cresce, cresce ao longo das eras e
tudo o que podemos fazer é aceitá-la e tornarmo-nos conscientes.
Ou alienarmo-nos, o que podemos fazer com todo
o tipo de distracções e paliativos. Comida, álcool, entretenimento, televisão,
telenovelas, reality-shows, sexo, futebol, touradas, drogas, fármacos legais,
ou substâncias ilícitas, tudo aquilo que nos inebrie e impeça de sentir e
pensar a realidade como um Todo.
E tudo aquilo que nos afasta de sentir e
pensar o sofrimento do outro distancia-nos do Todo. Não importa se possuímos
uma Biblioteca de Alexandria em casa, se devorámos 50 mil livros nos últimos
quatro anos, se conhecemos a história do jazz de cor e salteado ou se temos
orgasmos místicos diante dos quadros do Picasso.
Pelos vistos, ele também tinha orgasmos
místicos diante de uma tourada e daí? A propósito, um estudo recente de
psicólogos de Harvard conclui que os nossos jovens são dotados de extrema
inteligência e encontram-se muito bem preparados para grandes carreiras
profissionais. Contudo, não possuem grande inteligência emocional nem
capacidade de cooperação nem espírito de grupo.
Razão sem coração e coração sem razão serão
sempre capacidades deficitárias, apoiadas em muletas, à espera do milagre da
união. Mais do que provado que não existem motivos éticos, científicos, humanos
e filosóficos para a existência das touradas, tenho verificado que a minoria
política que decide em sede parlamentar, e controla os meios de comunicação
social, continua refém dos medos clássicos: a necessidade de manutenção de um
status quo que as mantenha na rota do poder e do dinheiro. Ego dixit.
E, esgotados, todos os argumentos racionais e
sensíveis, tem sido construído um fait-divers, alimentado por grupos afectos ao
CDS, ao PSD e alguns núcleos do PS, de que existe uma clivagem entre o mundo
urbano e o mundo rural. Um artefício, uma mentira de diversão, pois a tourada é
o pó residual de um antigo culto sacrificial que se mantém de pé apenas em meia
dúzia de regiões no planeta. Só que mantém-se de pé pelos mesmos senhores que
têm mantido contas abertas entre o BES e o GES, num RIO FORTE de dinheiro pouco
transparente que nos some das mãos.
E, neste contexto, não é que se me esgotem os
limites do diálogo e da tolerância. Mas, confesso que tenho dificuldade de
conversar com mentirosos e canalhas. Contra Neandertais, é só porque não domino
o idioma.
Por isso,tenho constatado que há diálogos
impossíveis de travar. São impossibilidades decorrentes da bestialidade do
fenómeno. Se é um campo em que o poder e o dinheiro ainda se confundem com o
rito e o sacrifício, as pessoas que habitam este universo são um pouco menos
pessoas. Não lhes quero mal, nem as respeito menos por isso, mas não sei
sinceramente como lidar com bestas destas.
Talvez só se amanse uma besta com Amor. Não
sei se é verdade, mas acredito que seja possível. Nesse caso, Um Documentário
Bestial foi o meu gesto de Amor para com as bestas remanescentes. Poucas, no
que diz respeito a esta matéria, devo dizer.
Preocupam-me mais os outros. Os que nem
acreditam nem gostam de touradas. Os marketeers, os empresários, gestores de
produto, os assessores de imprensa, os que, maquiavelicamente, se aproveitam das
bestas. Mas o que será um ser que manipula uma Besta?
Diabólico? Demoníaco? Não, recuso-me a
acreditar em folclore. Isto é Baphomet a mais. Acho que uma sessão de terapia
seria suficiente. E, afinal, descobririam o elementar: existe em Portugal melhor
colocação de produto do que indústria das touradas. Teatro, bailado, séries,
cinema? Convergência crescente com as novas plataformas?
Dito (tudo) isto, o capítulo das touradas,
encerrou para mim pelo menos como voz tão activa. O filme continua disponível.
Até que as bestas despertem. No mínimo, como seres humanos.
Realizador
Nuno Costa