domingo, 5 de julho de 2015

O descontentamento que se vê por aí dilui-se na abstenção?




Segundo uma sondagem publicada no DN, dia 25 de Junho deste ano, há 40% de portugueses que simpatizam com a solução austeritária que nos destruiu o país e nos deu cabo das vidas. É realmente fantástico. Quatro em cada dez de nós aplaude o desemprego que tem sido fomentado para fazer baixar os nossos salários, a pobreza que fez aumentar a casta de milionários do país, as empresas públicas vendidas ao desbarato que puseram o país nas mãos sujas de sangue dos novos donos estrangeiros disto tudo, o maior aumento de impostos de sempre que satisfaz os juros agiotas que temos que pagar pelos milhares de milhão que o Governo recebe emprestado para implementar esta agenda de reconfiguração social e transferência concentradora de riqueza.

Somente 43% de nós reprova o que os restantes 40% aplaudem, mas isto perguntado assim, se estão a favor ou contra a austeridade, porque se a pergunta for “qual é o partido que mereceria o seu voto se as eleições fossem hoje”, os três partidos do arco da austeridade somam 75% das intenções de voto, isto é, andarão para aí pelo menos 32% – =75%-43% – de eleitores convencidos que um desses três partidos, saberão eles qual, tem um programa diferente da austeridade contra a qual se manifestaram na resposta à outra pergunta.

Por outro lado, apenas 18% dos inquiridos manifestaram a intenção de dar a força do seu voto a uma das duas forças da esquerda de confiança que tem lutado contra a austeridade, isto é, menos 25% do que os 43% que se manifestaram contra a austeridade na pergunta feita sem partidos. A chave para as duas discrepâncias estará na abstenção: a sondagem diz-nos que apenas 56% dos inquiridos respondeu que exercerá o seu direito de voto.

Bem sei que as contas não se fazem assim mas, coincidência ou não, multiplicando uma abstenção de 44% (100%-56%) pelos 43% que dizem estar contra a austeridade obtemos 18,9%, valor que está apenas 0,9% acima dos 18% da soma das intenções de voto nos dois partidos anti-austeridade. E se multiplicarmos os 56% de votantes pelos 75% da soma de intenções de voto no arco da austeridade, obtemos 42%, apenas 2% acima dos 40% que se afirmam a favor da austeridade, valor novamente abaixo dos 3% da margem de erro da sondagem.


Será mesmo coincidência ou o descontentamento que se vê por aí dilui-se na abstenção a que muitos recorrem convencidos que estão a punir quem lhes deu cabo da vida?





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