Miguel Macedo, um dos tipos mais horríveis deste governo, pediu a demissão,
não de imediato, claro, mas garantidamente como uma estratégia ponderada de uma
saída airosa, como se saídas airosas pudessem haver para políticos que buscam
na repressão e no tráfico de influências suportes fulcrais da sua ação
ministerial.
Tombou este e muitos mais ficarão para tombar, é certo, mas espero
que com este também tombem, do lugar bem alto que lhes arranjou, todos os
amiguinhos de tantos gabinetes e sociedades que soubemos, cujas
cumplicidades se teciam no maior secretismo nacional e cujos silêncios se
compravam, sem dúvida, a preços da mais alta corrupção que agora vamos
desbastando e penosamente engolindo.
Corrupção e tráfico de influências, dos maiores males que mais minam as
instituições do nosso Estado de Direito.
Mas a PJ já está a destapá-los nas suas tocas douradas. Felizmente. Espero
é que ninguém escape e que nunca toupeiras como estas continuem a viver
ostensivamente à nossa custa, sorrindo e cuspindo, cuspindo e sorrindo,
sadicamente instalados no bem-bom que pela má Política, pelos maus governantes
e pela inação de um povo vão alcançando.
Como noticiava a Lusa, ontem, Miguel Macedo resistiu aos protestos
dos polícias, há um ano, mas não resistiu ao escândalo dos vistos 'gold'.
País podre. País de corruptos. País com Justiça?
Assim o desejo, rapidamente e em nome de uma democracia transparente pela
qual continuo a lutar e de uma Justiça que o seja para todos e por igual.
Quando lemos e sabemos de realidades como as que a revista Visão apresentou
6 de Junho deste ano, como ficamos? Como continuamos a ficar sabendo destes
benefícios fiscais que se agigantaram e continuaram a avançar até nós, desta
maneira?
Portugal, o eldorado fiscal para estrangeiros. Incrível! Vejam alguns
exemplos aqui.
Já no dia 2 de Janeiro deste ano tinha ficado
aparvalhada quando li nesta mesma revista que um visto dourado valera a um milionário
chinês a compra de uma moradia na Quinta da Marinha mais três apartamentos de
luxo no Estoril, pelo valor de 3,6 milhões de euros!
Sim, quase 4 milhões de euros!
E situações destas, imaginamos, muitas delas
semi-conhecidas, montes delas encobertas, outras tantas nem sonhadas, assim, a
alimentar o monstro da corrupção que por dinheiro e para o dinheiro vive.
Num país tão pequeno e com tanta desta pequena gente, vai crescendo a
pobreza, o desemprego, mas vai aumentando a corrupção e compadrio que nos mata
lentamente, que nos envergonha e que nos indigna mas que ainda não nos revolta
verdadeiramente como povo soberano que há muito somos mas que há muito parece
que esquecemos.
País de esquemas, gente de esquemas. Esquemas sempre compensadores para
gente que sempre se serviu do que não lhe pertence e que sempre serve a quem
disto os possa sempre beneficiar, mais as suas famílias e afins.
Nestas circunstâncias, claro, Miguel Macedo demitiu-se. Só tinha que se
demitir ou ser demitido. Mas não se veja nisto bom caráter ou dignidade porque,
se a tivesse, jamais faria aquilo que fez e tudo o mais que afinal fatal se lhe
mostrou. Aqui como em muitos casos que vamos conhecendo, não há inocentes nem
inexperientes! Eles sabem o que fizeram. Sabem-no sempre, nós é que não.
Não tenham pena dele nem considerem o seu pedido de demissão uma atenuante
caso esteja implicado, como parece que está.
Miguel Macedo & Cª é gente que sabe jogar, driblar e, como o povo diz,
não dá ponto sem nó.
Tenham pena de vocês, portugueses como eu, de nós, da nossa
democracia.
Nazaré Oliveira